Um dos clubes mais vencedores dos últimos tempos no futebol mundial, o Manchester City vive uma temporada para lá de estranha. Em baixa na Premier League, o clube vive a real possibilidade de ser eliminado ainda na fase inicial da Champions League, algo que nunca viveu sob o comando de Pep Guardiola.
Como explicar isso? É claro que não existe um simples motivo que leve uma equipe acostumada a vencer quase sempre para o extremo oposto, com derrotas enfileiradas. Mas é possível traçar um caminho que levou o atual tetracampeão inglês ao momento que vive hoje.
Mercado abaixo da expectativa
Tratado como um clube que pode comprar quem quiser, pelo poder aquisitivo do sheik Mansour bin Zayed al-Nahyan, o Manchester City passou longe de confirmar essa fama na última janela de transferências.
Um elenco que já era curto contratou apenas Savinho, brasileiro que tinha se destacado na temporada anterior pelo Girona. Na reta final, aceitou de volta Ilkay Gundogan, liberado sem custos pelo Barcelona.
As carências do elenco pediam outra direção. Nada de volante para revezar com um exausto Rodri, usado em praticamente todos os jogos da temporada anterior. Muito menos um centroavante que pudesse dar um descanso para Erling Haaland, papel que era de Julián Alvarez, vendido ao Atlético de Madrid.
Festival de lesões
Parte da política de contratações do City tem a ver com a maneira de Pep Guardiola trabalhar. Em sua 9ª temporada na Inglaterra, o espanhol já falou publicamente que prefere ter um elenco mais curto, para que todos tenham mais chance de jogar, do que contar com atletas demais e não oferecer minutos em campo.
Só que isso tem um preço. Somada à falta de contratações que oferecessem alternativas ao elenco, o City contou com o extremo azar de perder pilares importantes por lesões. O maior deles foi Rodri, com uma grave lesão no joelho logo no 7º jogo da campanha e que só voltará na próxima temporada.
John Stones, Mateo Kovacic e Manuel Akanji, que até poderiam suprir a ausência, também convivem com uma série de problemas físicos e mal conseguem jogar. Nathan Aké, Oscar Bobb, Jack Grealish, Jéremy Doku e Kevin de Bruyne são outros que passaram pelo departamento médico e complicaram os planos de Guardiola.
Elenco envelhecido
Os três goleiros do City (Ederson, Ortega e Carson) tem mais de 31 anos. Dos jogadores de linha, seis completaram três décadas de vida, incluindo o capitão Kyle Walker e os três principais meias (Gundogan, De Bruyne e Bernardo Silva).
Em um time que custa para manter todos os jogadores à disposição de Guardiola, por conta de lesões recorrentes e que parecem não ter fim, ter uma base mais velha é um fator complicador extra quando as coisas não vão bem.
O City muitas vezes vai para as partidas com 13 ou 14 jogadores prontos para jogar. A rotatividade do elenco fica prejudicada e só aumenta o desgaste dos “trintões”, que já não têm pernas para aguentar o ritmo que o time necessita.
Defesa virou ‘peneira’
Todos que analisam Guardiola o colocam, acertadamente, como um técnico ofensivo, de ideias inovadoras que normalmente fazem seus times serem divertidos de assistir. Mas parte de sua metodologia tem a defesa como pilar primordial.
Em todos os anos do técnico na Inglaterra, seu Manchester City foi sempre um dos melhores sistemas defensivos. Por isso, espanta o que tem acontecido agora.
São 34 gols sofridos em 24 jogos, uma média de 1,41 por partida. Nos últimos dez jogos, a situação foi ainda pior, com 23 gols sofridos, média de 2,3 a cada atuação. Se isso não for resolvido, será impossível sonhar com algo.
Ataque de um homem só?
Quem tem Erling Haaland não precisa se preocupar com gols. O problema é quando se tem apenas Erling Haaland…
O norueguês mantém a média alta, com 18 bolas nas redes até aqui. Mas espanta que aqueles que mais se aproximam do artilheiro somam apenas três gols: Stones, Doku, Matheus Nunes, Kovacic, Foden e Gvardiol.
Isso se explica pela falta de alternativas (Alvarez, por exemplo, entregou 19 gols na temporada passada), pela má fase de outros (Foden, principal nome da campanha passada, e Rodri machucado) e a dificuldade de se manter em forma (De Bruyne, por exemplo).
É nítido que os jogadores, tão vencedores em outros anos, perderam a confiança estabelecida nas temporadas passadas. Como recuperá-la? Só com os resultados, que por enquanto não parecem perto de acontecer.
O próximo compromisso é justamente o dérbi de Manchester contra o rival Manchester United, neste domingo (15), no Etihad Stadium. Chance de redenção ou nova oportunidade para cavar o poço mais fundo?