O Fortaleza vai encarar o Bahia nesta quarta-feira (9), às 21h30 (de Brasília), pelas quartas de final da Copa do Nordeste. O duelo, que terá transmissão ao vivo do Disney+, colocará frente a frente duas equipes que se tornaram SAFs, mas que seguiram caminhos opostos: o clube baiano vendeu 90% das ações para o Grupo City; o Leão do Pici manteve 100% nas mãos da associação.
A ideia inicial do Fortaleza era buscar um investidor, mas sempre ter a maior parte das ações, diferentemente do que aconteceu com outros times brasileiros. Passados quase dois anos desde a criação da SAF, no entanto, o clube agora se abre para a possibilidade de vender mais de 50% e ter um sócio majoritário.
Em entrevista exclusiva à ESPN, o CEO do clube, Marcelo Paz, explicou que o principal motivo é a dificuldade para achar um parceiro que aceite investir com menos da metade das ações.
“Justamente por não ter consolidado ainda a venda minoritária. Se vê que é um meio mais difícil de captação de recurso. Começa a ter uma expectativa, a gente vê comentários de torcedores, conselheiros, de que de repente a venda majoritária seria um caminho a ser adotado”, iniciou.
“Há sempre uma expectativa de que o clube mantenha sua capacidade crescente de investimento, e essa capacidade só vai crescer se houver investimento externo. Nas receitas orgânicas o Fortaleza já está praticamente no seu limite, haja vista que foi negociado agora o novo direito de transmissão, um ciclo de cinco anos, não vai ter grande variação nessa receita, que é importante”, seguiu.
“Uma receita que pode crescer é com venda de jogadores. Mas há uma expectativa de que o clube siga competindo em alto nível e para isso requer investimento. Como não houve ainda a venda minoritária, que é mais difícil, passamos a discutir com mais ênfase a possibilidade de venda majoritária”, completou.
O CEO destacou que o clube está no mercado para ouvir propostas de possíveis investidores e deixou aberta a possibilidade de venda de qualquer porcentagem – desde que haja diálogo e cuidado no processo.
“A gente está no mercado, ouvindo propostas, acho muito difícil que saia negócio neste ano, porque é um processo que envolve todo um fluxo de informações. Não é algo tão rápido. Como não tem nada assinado para iniciar um processo de venda, acho muito difícil que saia neste ano. Mas é algo que estamos no mercado, de repente pode surgir um investidor que tenha interesse e que a gente ache que é o ideal”, afirmou.
“Principalmente se o Fortaleza for adotar o caminho de venda majoritária, o parceiro é algo estratégico, é o movimento mais importante da história do clube, que seria uma venda de ações. É algo que tem de ser feito com muita segurança, muito cuidado, com todos fatores que possam proteger o clube, associação, torcedor, patrimônio e história. Não é algo que tem de ser feito rápido. Mas não estamos parados. O clube segue no mercado vendo a possibilidade de captação de recursos nessas formas”, acrescentou.
“Se vai ser 90%, 70%, 49%, 55%… Isso depende do apetite do investidor, do tamanho do cheque e do acordo de investimento. Tem muitas variáveis para poder determinar qual seria o percentual de venda. Não existe um carimbo do Fortaleza de quanto vai ser, vai de acordo com o diálogo e a conversa com o possível investidor”, pontuou.
Bahia é ‘excelente modelo’
O adversário desta quarta-feira pode ser um exemplo a ser seguido pelo Fortaleza. O Grupo City, investidor do Bahia, foi elogiado por Marcelo Paz, que mostrou admiração pela forma como a SAF foi desenvolvida.
“Acho a SAF do Bahia um excelente modelo. Acertaram muito bem no parceiro, que tem muito lastro financeiro, uma condição privilegiada nesse ponto. Como o recurso do Bahia vem do exterior, vem lastreado ou em dólar ou em euro, moeda mais valorizada que a nossa, é mais factível de fazer os investimentos”, disse.
“Mas, além disso, vejo que é uma SAF que tem conhecimento de futebol. Faz parte de um grupo que tem sucesso, traz expertise de gestão, dia a dia esportivo, scout, metodologia de treinamento, pelo que tenho conhecimento existe colaboração entre os times do Grupo City. Foi um acerto do Bahia, SAF consolidada, que zerou as dívidas do clube e que tem investido valores bem significativos tanto na compra como em salários de jogadores para ter time competitivo. Vejo como uma grande acerto do Bahia e com admiração”, admitiu.
Principais pontos de investimentos
Marcelo Paz colocou três pontos principais para quem quiser investir na SAF do Fortaleza: estrutura, investimento na categoria de base e investimento no elenco profissional.
“Os três pontos são fundamentais. O investidor precisa de uma mensagem direta e o investimento no Fortaleza, como clube que tem poucas dívidas, seria para melhor captação, minutagem e adquirir jovens talentos para categorias de base, participar de mais competições nacionais e internacionais, que daria visibilidade e vitrine. A imagem do Fortaleza vem crescendo muito nos últimos anos, isso valoriza nossos ativos”, disse.
“Estrutura sempre é bem-vinda, tem melhorias que sempre podem ser feitas, tanto na nossa sede do futebol profissional no Pici como no CT de Maracanaú. E o futebol profissional receber investimento para seguir adquirindo jogadores, principalmente com perfil jovem que possam ter uma revenda, que venham, entreguem sucesso esportivo e depois possam entregar um sucesso financeiro ao clube e ao investidor. O foco seria nessas três áreas, haja vista que a dívida do Fortaleza não é tão substancial”, finalizou.
Duelo pela Copa do Nordeste
A partida entre Bahia e Fortaleza será disputada em Salvador. Quem vencer, conquistará uma vaga na semifinal contra quem levar a melhor no duelo entre Sport e Ceará.
Além da busca pela classificação, a partida terá um ingrediente especial: mais um reencontro de Rogério Ceni com o Fortaleza. O treinador fez história no clube com os títulos da Série B do Brasileirão de 2018, da própria Copa do Nordeste de 2019 e de dois estaduais.
“É sempre uma alegria pessoal reencontrar o Rogério, pela amizade que desenvolvemos e pelo belíssimo trabalho que ele fez no Fortaleza e está fazendo no Bahia. Tem a alegria do reencontro de amigos, mas agora em lados opostos. A amizade fica até o juiz apitar o início da partida. Quando a bola rola queremos ganhar”, afirmou Paz.
Com Ceni, o clube retornou à elite e encaminhou a disputa da primeira competição internacional, a CONMEBOL Sul-Americana, em 2020. Neste ano, o clube disputa a Libertadores pela terceira vez. Mas, mesmo com tentas conquistas inéditas, Marcelo Paz evita fazer projeções. Questionado sobre a possibilidade de algum dia a equipe participar do Mundial de Clubes, foi cauteloso.
“É muito difícil esse tipo de previsão no futebol, porque dependeria do Fortaleza fazer algo que nunca fez, que é ganhar uma Libertadores. Embora nessa gestão, nos últimos anos, fizemos muitas coisas que nunca tinham acontecido no clube, como participar de competição internacional, primeiro Sul-Americana, depois Libertadores, pentacampeonato estadual, tricampeonato da Copa do Nordeste, ficar sete anos seguidos na Série A e tentando o oitavo”, iniciou.
“Teve muito ineditismo nessa trajetória. Mas o título da Libertadores é algo bem difícil, bem complicado. Eu não consigo projetar, não vou vender uma ideia, porque de repente a notícia que vai sair é essa: ‘Marcelo Paz diz que em x anos o Fortaleza vai jogar o Mundial’. Vou realmente ser mais seguro nessa análise, mas o clube tende sempre a crescer, evoluir e buscar conquistas maiores”, finalizou.