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cidades mal avaliadas por índices de trânsito têm mobilidade exemplar, alerta especialista


Londres, que aparece como cidade mais congestionada. é exemplar em políticas públicas de estímulo à mobilidade.

Vice-presidente da ANTP, Claudio de Senna Frederico explica que dados precisam ser lidos com cuidado — e, acima de tudo, com discernimento

ALEXANDRE PELEGI

Em tempos em que a mobilidade urbana ganhou espaço nos debates públicos e na imprensa, os números passaram a ocupar papel central na definição de políticas públicas e nas percepções da sociedade. No entanto, como alerta o engenheiro e vice-presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Claudio de Senna Frederico, os dados precisam ser lidos com cuidado — e, acima de tudo, com discernimento.

Em entrevista ao jornalista Alexandre Pelegi, do Diário do Transporte, Claudio chama atenção para uma recente divulgação do Tom Tom Traffic Index e aponta os riscos de se interpretar indicadores de forma isolada ou sem contexto. Para ele, estatísticas mal compreendidas podem levar a conclusões equivocadas — e a decisões públicas ainda piores.

 

Alexandre Pelegi (Diário do Transporte): Você sempre foi um defensor da análise crítica dos dados de mobilidade. A gente vê por aí muitas “análises” que tomam resultados de levantamentos como base para conclusões gerais. Nessa linha, o que chamou sua atenção recentemente?

Claudio de Senna Frederico: Eu vi recentemente um caderno de mobilidade que trazia uma matéria com o título: “Confira quais as 10 cidades mais congestionadas do mundo”. Parecia, à primeira vista, uma matéria inofensiva, mas ali havia algo muito mais sério. O texto se baseava no Tom Tom Traffic Index 2025 e apresentava duas tabelas que, em tese, sustentariam esse ranking. Mas o problema está justamente aí: as tabelas não representavam exatamente o que o título prometia.

 

Alexandre Pelegi (Diário do Transporte): De que forma essas tabelas eram problemáticas?

Claudio de Senna Frederico: A primeira trazia as 10 cidades com o maior tempo gasto para percorrer 10 quilômetros. A segunda listava onde os motoristas mais perderam tempo no trânsito em 2024. Ambas pareciam indicar congestionamento, mas na verdade não são índices diretos de congestionamento. Esses dados podem refletir muitas outras variáveis — desde o desenho urbano até o uso de políticas restritivas ao carro.

 

Alexandre Pelegi (Diário do Transporte): E isso pode levar a conclusões precipitadas?

Claudio de Senna Frederico: Exatamente. O mais grave foi a conclusão aparentemente razoável de que essas cidades “demandam investimentos urgentes em transporte público, ciclovias, gestão inteligente do tráfego e urbanismo sustentável”. Ora, cidades como Londres e Paris — que aparecem nas tabelas — já têm todos esses elementos implementados de forma exemplar. Londres, por exemplo, tem pedágio urbano há anos, com resultados reconhecidos internacionalmente.

 

Alexandre Pelegi (Diário do Transporte): Ou seja, são cidades com políticas modernas de mobilidade, mas ainda assim aparecem como “piores”…

Claudio de Senna Frederico: Sim, e isso deveria acender um alerta. O que esses números estão realmente medindo? E mais: será que o que aparece nos dados é de fato negativo? Uma cidade que restringe o uso do carro e incentiva o transporte público pode acabar com maior tempo médio de deslocamento por carro — e isso é desejável, não um problema! Mas se a análise for rasa, corre-se o risco de se propor exatamente o contrário do que deveria ser feito.

 

Alexandre Pelegi (Diário do Transporte): Como você avalia o papel da imprensa nessa discussão?

Claudio de Senna Frederico: A imprensa tem evoluído muito ao dar mais espaço para temas de mobilidade. Isso é positivo. Mas junto com a maior visibilidade vem a responsabilidade. A forma como os dados são apresentados pode formar ou deformar a opinião pública. É essencial que os veículos contextualizem os números e evitem interpretações simplistas. Estatística nenhuma substitui o discernimento.

 

O QUE É 

O TomTom Traffic Index é um relatório anual da TomTom que mede e classifica o nível de congestionamento de tráfego em cidades ao redor do mundo. a A TomTom é uma empresa holandesa que desenvolve e produz tecnologias de navegação e localização, incluindo mapas e dados de tráfego em tempo real;

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes





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