Botafogo e Red Bull Bragantino se enfrentam nesta terça-feira (29), às 19h (de Brasília), no Nilton Santos, no duelo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil. A partida vai marcar o reencontro de dois clubes que jamais serão esquecidos por um ex-jogador.
Aposentado dos gramados e hoje atuando no ramo automobilístico, Paulo Rogério Reis Silva, mais conhecido como Somália, teve passagens marcantes pelas duas equipes. Pelo time do interior de São Paulo, o ex-volante foi campeão da Série C em 2007, enquanto três anos depois, levantou a taça do Campeonato Carioca pelo Alvinegro, onde viveu o ápice de sua trajetória e colecionou histórias inesquecíveis.
Somália conquistou seu primeiro título de sua carreira Bragantino, mas o destino poderia ter sido bem diferente, já que ele quase foi parar no Corinthians.
Na época, o Massa Bruta chegou para a competição nacional com a moral em alta depois de ter feito uma boa campanha no Paulistão, terminando a primeira fase na quarta colocação ficando atrás apenas de Santos, São Paulo e São Caetano.
Na semifinal, porém, caiu para o Peixe. Nos dois jogos, o resultado foi o mesmo: 0 a 0, sendo favorável para o time da Vila Belmiro. Apesar da eliminação, Somália e outros nomes como Éverton Santos, Zelão e Bill foram oferecidos ao Corinthians. O ex-volante, no entanto, ficou no Bragantino, ao contrário de seus companheiros.
”Eu também estava nessa barca para poder ir para o Corinthians. Eu tive uma lesão e fiquei de dois a três meses para me recuperar. Optaram por eu ficar lá fazendo o tratamento. Era até para eu ter ido depois, mas na Série C a gente acabou fazendo um campeonato excelente e sendo campeão. Então, eu acabei ficando”, disse Somália em entrevista ao ESPN.com.br.
Somália não só ficou no Bragantino, como também acabou sendo peça fundamental na conquista daquela Série C, mesmo com inúmeros problemas financeiros e estruturais.
”A estrutura do clube era um pouco precária. Na época praticamente a gente morava ali de baixo da arquibancada e depois ele disponibilizaram alguns apartamentos para que a gente pudesse morar. Com as campanhas que a gente foi fazendo ao longo dos anos, as coisas foram melhorando e eles começaram a ajudar no rendimento dos atletas”, lembrou.
”Tivemos problemas de atraso de salário na época, mas o nosso grupo era muito fechado e a gente não deixava que isso se tornasse um problema maior para que a gente não pudesse performar. No Paulistão a gente ficou dois ou três meses sem receber. Na Série C foi a mesma coisa. Mesmo assim a gente entregava aquilo que a gente tinha que entregar. Tínhamos em mente que só conquistando que a gente ia poder mudar a situação não só para a gente, mas para outros atletas que pudessem estar ali um pouco mais mais à frente”, completou.
Botafogo: do título ao ‘falso sequestro’
Depois de se destacar no Bragantino, Somália ainda passou pelo América-RN até ser anunciado no Botafogo em dezembro de 2009 como a primeira contratação para a temporada seguinte.
Ao todo, o ex-volante participou de 66 jogos pelo Alvinegro e marcou três gols, todos em 2010. Ele ainda esteve presente na campanha do Campeonato Carioca daquele ano, quando o Glorioso conquistou o Estadual com a clássica cavadinha de Loco Abreu sob o comando do técnico Joel Santana.
”A gente até na época brincava que que tinha o Flamengo, que era o ”bonde do Mengão sem freio”, ‘trem bala da Colina’. Nós éramos os ‘Guerreiros’ e não tinha essa estrutura que eles tinham como como potência. A gente até fala que o Joel Santana tirou leite de pedra, porque a gente tinha muito volante na época. Tanto é que eu atuava de lateral-direito, lateral-esquerdo, volante, o meia… Onde ele me colocava, eu estava sempre procurando ajudar. No final, a gente acabou mostrando que a força de um grupo faz a diferença”, contou.
”A torcida precisava que a gente pudesse mostrar que esse DNA do Botafogo, de ser guerreiro, de buscar coisas melhores quando ninguém acredita”, relembrou.
No ano seguinte, porém, Somália se envolveu em uma polêmica que caiu como uma bomba no Botafogo. Na reapresentação do elenco, o ex-jogador forjou um sequestro relâmpago para justificar sua ausência no primeiro treino. Após o caso, o meia foi afastado e, no fim, acabou desligado do clube, embora nunca tenha faltado apoio dos companheiros e da diretoria.
”Hoje em dia eu olho de uma outra forma, o quanto eu fui o guerreiro… Saí de comunidades e cheguei em um clube como o Botafogo, onde ainda fui campeão. Consegui ser reconhecido pelos seus companheiros como um ser humano legal, como uma pessoa legal. Eu não falo muito sobre isso (falso sequestro) hoje”, afirmou.
”Era um grupo que me abraçou nesse momento mais difícil da minha carreira, digamos assim, e eles me abraçaram para caramba. Tanto é que foi bem leve assim, entre aspas, dentro do clube, porque não só eles, mas a diretoria também. Me trataram como como um ser humano, porque o que aconteceu foi fora de campo. Eles procuravam sempre me dar força e mostrar que eu tinha potencial para continuar ali”, completou.
Quem leva a melhor na Copa do Brasil?
Agora, Somália vai assistir na televisão ao jogo entre dois times que marcaram sua carreira. E, na visão do ex-jogador, o duelo será acirrado.
”Vai ser o duelo bem difícil. O Bragantino cresceu bastante. E agora, nesses últimos tempos aí no Campeonato Brasileiro e agora na Copa do Brasil. Uma equipe que demonstra que joga futebol para frente. O Botafogo também é a mesma coisa nos últimos anos. Tem mostrado a força da sua torcida, a força do seu elenco”, opinou.
”Vai ser um jogo bem difícil, cara. Não dá para cravar que vai passar e nem o resultado. Eu acredito que vai ser bem apertado. As duas equipes têm mostrado uma estrutura muito boa e mostram dentro de campo que isso que que faz a diferença realmente”, finalizou.
