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Crise de demanda expõe urgência de requalificar o transporte coletivo antes de trocar frota, alerta Dimas Barreira


Presidente do Sindiônibus do Ceará afirma que, sem frequência e regularidade, cidades perdem competitividade; Anuário NTU 2024-2025 mostra que apenas duas capitais recuperaram patamar pré-pandemia

ALEXANDRE PELEGI

O transporte coletivo urbano por ônibus no Brasil ainda não conseguiu recuperar a demanda perdida durante a pandemia de Covid-19. Segundo o Anuário NTU 2024-2025, divulgado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o volume de passageiros em abril de 2025 representava apenas 86% do registrado no mesmo mês de 2019.

O levantamento, que monitora 19 sistemas de capitais e regiões metropolitanas, mostra que a demanda permanece estagnada entre 80% e 86% do nível pré-pandemia desde agosto de 2022. Apenas Brasília e Goiânia atingiram ou superaram a marca de 100% da demanda anterior à crise sanitária. Entre os sistemas mais distantes da recuperação estão Belo Horizonte (66%), Manaus (67%) e Porto Alegre (60%).

Mesmo com o aumento de 10,3% na quilometragem produzida e de 9,8% no número total de passageiros transportados em 2024, os ganhos não foram suficientes para reverter a perda acumulada. Entre as causas estruturais da queda, a NTU cita envelhecimento populacional, redução no número de estudantes, crescimento do teletrabalho e avanço dos aplicativos de transporte individual.

A NTU ressalta que, embora os subsídios implementados nos últimos cinco anos tenham sido decisivos para manter a oferta de serviços em padrões aceitáveis, eles não garantiram a retomada plena da demanda. A entidade defende uma abordagem integrada, que coloque o transporte público como eixo central do planejamento urbano e do desenvolvimento sustentável.

Debate além da tecnologia

Esse cenário de estagnação serve como pano de fundo para as avaliações de Dimas Barreira, presidente do Sindiônibus do Ceará e moderador do painel “Inovação Tecnológica Veicular e Transição Realista” no Seminário Nacional NTU 2025. Para ele, a discussão sobre a transição energética no transporte coletivo não pode se limitar à escolha de tecnologias veiculares — elétrico, diesel Euro VI, VII ou VIII — sem resolver questões operacionais e de oferta.

“Ônibus é um agente antipoluição. A única forma de se locomover emitindo menos carbono do que no transporte coletivo é a pé ou de bicicleta. Qualquer meio motorizado individual polui mais”, afirmou.

Barreira também ressaltou que, no conjunto das emissões de CO², a participação do transporte coletivo é reduzida:

“Quando falamos em transporte, temos a menor parte da emissão de todo o CO², pois os ônibus são responsáveis por apenas 0,8%. Avanços que encareçam o transporte precisam de atenção. Temos que equacionar primeiro porque já emitimos menos”, destacou.

Ele critica a troca de frota como prioridade quando o serviço não oferece o básico:

“Em Fortaleza temos consenso com o poder público de que a cidade precisa de mais ônibus, mais viagens e maior frequência. Não faz sentido trocar tecnologia veicular se a frota é velha e insuficiente”, disse.

O dirigente também questiona a noção de “veículo zero emissão”:

“No Ceará nossa energia nas pontas ainda é produzida a carvão. Não existe zero emissão, é preciso olhar a cadeia completa”, ponderou.

Operação como prioridade

Para o presidente do Sindiônibus, a recuperação da demanda depende primeiro de garantir frequência, regularidade e tarifa acessível. Ele cita o caso de Goiânia como exemplo de requalificação operacional:

“Lá houve integração metropolitana e prioridade real ao transporte coletivo no tráfego. A chamada ‘metronização’ usa inteligência artificial para dar preferência ao ônibus nos semáforos, permitindo mais viagens com a mesma frota, menos emissões e maior atratividade para o passageiro”, explicou.

Barreira alerta que enfrentar o problema real exige decisão política e comunicação clara:

“Enfrentar o problema é difícil, exige firmeza e coordenação. O mais comum é se prender a soluções de visibilidade fácil, mas de impacto reduzido ou até negativo se aplicadas antes da hora”, concluiu.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes





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