Publicado em: 17 de agosto de 2025
SPTrans confirmou com exclusividade ao Diário do Transporte que empresa Ambiental Transportes Urbanos quer aposentar os coletivos conectados à rede aérea na ligação mais antiga do País e substituir por modelos a baterias
ADAMO BAZANI
Além de preservar a memória do transporte coletivo não poluente no Brasil, o tombamento histórico da rede de trólebus, ou ao menos de parte dela, na capital paulista, é vista como uma das formas de evitar a desativação definitiva desta tecnologia na cidade.
O Diário do Transporte conversou no último dia 14 de agosto de 2025, quando o SEESP (Sindicato dos engenheiros do Estado de São Paulo) realizou um seminário para debater a continuidade do meio de transporte na cidade, com integrantes de entidades como Respira São Paulo e Defesa do Trólebus, que se mostraram preocupados com o risco de estes veículos, que não são poluentes, desaparecerem de vez do sistema municipal.
“É um contrassenso, a principal queixa da prefeitura sobre o não cumprimento das metas de ônibus elétricos e redução de poluentes é em relação a infraestrutura insuficiente para a recarga das baterias nas garagens. Aí, temos uma estrutura de ônibus não poluentes já consolidada, que é subaproveitada, com 50% só de uso de sua capacidade atual e, em vez de priorizar isso, substituindo os modelos a diesel, a prefeitura cogita em desmantelar a rede de trólebus. O Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) tem um procedimento de análise do tombamento histórico da rede de trólebus, o que, se for aprovado, seria ótimos para a cidade, uma vez que a memória seria preservada e, ao mesmo tempo, contaríamos com um serviço essencial, limpo e que provou ao longo de décadas que é a apropriado para São Paulo” – disse o especialista em implantação de sistemas elétricos de transportes e presidente do Movimento Respira São Paulo, Jorge Françoso de Moraes.
Segundo o especialista, São Paulo já teve mais de 500 trólebus e poderia chegar a ter 1280 se o Plano Sistran (Sistema Integrado de Transportes), de 1975, elaborado pelo então secretário municipal de transportes da capital paulista, Adriano Murgel Branco, na gestão do prefeito Olavo Setúbal, fosse colocado integralmente em prática. Mas a partir do início dos anos 2000, ainda na gestão da prefeita Marta Suplicy, o sistema começou a ser desmantelado em ritmo mais intenso. Entre os “marcos do fim” esteve a desativação da rede do Corredor 9 de Julho/Santo Amaro, que deveria se tornar um “corredor verde”, somente com os trólebus, mas acabou se transformando em um “corredor de fumaça”, apelido dado por moradores e comerciantes. Em 25 de julho de 2025, o prefeito Ricardo Nunes, ao apresentar em primeira mão ao Diário do Transporte um novo modelo de ônibus elétrico, só que apenas com baterias, revelou a retomada de propostas de corredores verdes, em grandes eixos e o primeiro seria o 9 de Julho/Santo Amaro, o mais movimentado da cidade, com cerca de 700 mil passageiros por dia. Mas os trólebus ficaram de fora dos planos de Nunes. Relembre:
Como já tinha mostrado o Diário do Transporte, em 23 de julho de 2025, o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, alegando os custos de manutenção da rede de trólebus, que segundo ele, são de cerca de R$ 30 milhões por ano e possíveis conflitos entre as estruturas de alimentação do atual sistema com um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), que vai servir o centro da cidade com duas linhas, indicou para a possibilidade de desativação total dos ônibus elétricos conectados à fiação. A inauguração do VLT é prevista para ocorrer entre 2029 e 2030.
Relembre:
Mas o alerta para os defensores dos trólebus em São Paulo se acendeu mesmo na última semana.
Na quarta-feira, 13 de agosto de 2025, a gerenciadora de transportes da prefeitura, SPTrans (São Paulo Transporte), confirmou ao Diário do Transporte, com exclusividade, que a única operadora de trólebus da cidade, a Ambiental Transportes Urbanos, protocolou na terça-feira, 12 de agosto de 2025, pedido formal para retirar todos os trólebus e subsituí-los por modelos a bateria, na nada mais nada menos que na primeira linha do País com este tipo de veículo. A 408A-10 (Machado de Assis/Cardoso de Almeida), que conta com operações comerciais de trólebus desde 1949, sendo que os testes começaram em 1947.
A Ambiental alega necessidade de melhorar os serviços com veículos mais modernos.
Relembre:
Vale ressaltar que os trólebus na cidade de São Paulo não possuem estes itens mais modernos porque são este tipo de veículo e sim, porque esta frota não é renovada.
No Corredor ABD, por exemplo, entre o ABC Paulista e a capital, operado pela empresa NEXT Mobilidade, parte da frota de trólebus já possui, por exemplo, ar-condicionado, wi-fi com melhor sinal e mais tomadas USB porque os veículos são mais novos, incluindo unidades zero quilômetro colocadas neste ano de 2025 para operar.
AO MENOS A PRIMEIRA LINHA:
Ser não for possível preservar toda a rede, pelo menos o intuito das entidades é manter a linha mais antiga da cidade (e do Brasil), até como patrimônio cultural.
“Os trólebus são patrimônios não de uma empresa ou da SPTrans, mas de toda a cidade de São Paulo. Eles refletem a luta e as inovações em prol dos transportes coletivos cada vez mais sustentáveis. Assim, preservar a rede de trólebus é valorizar cada um dos que lutaram. O ideal seria que toda a rede não só fosse preservada, mas ampliada. Não precisa ir longe. Nossas vizinhas cidades do ABC provam que os trólebus se modernizaram e um corredor novo, que está sendo construído vai incorporar uma nova tecnologia de trólebus, o E-Trol, quer funciona tanto na fiação como só com baterias. Mas, se a gestão quer mesmo acabar com a rede, o que é um erro, que ao menos o trajeto da 408 A-10 seja mantido como linha de turismo e cultural. Tanto se fala que o paulistano não valoriza a história, mas a própria prefeitura pode estar mandando essa história se perder no ferro-velho”_ – disse ao Diário do Transporte, um dos representantes do Movimento Defesa do Trólebus, Fábio Klein.
De acordo com Klein, vereadores da capital paulista se mostraram simpáticos com a ideia e devem apresentar um projeto de lei para que a prefeitura seja obrigada a manter a rede de trólebus ou, ao menos, a primeira linha.
LINHA 408 A-10 – A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DA CIDADE:
São Paulo já teve mais de 500 trólebus e poderia chegar a ter 1280 se o Plano Sistran (Sistema Integrado de Transportes), de 1975, elaborado pelo então secretário municipal de transportes da capital paulista, Adriano Murgel Branco, na gestão do prefeito Olavo Setúbal, fosse colocado integralmente em prática. Mas a partir do início dos anos 2000, ainda na gestão da prefeita Marta Suplicy, o sistema começou a ser desmantelado em ritmo mais intenso. Entre os “marcos do fim” esteve a desativação da rede do Corredor 9 de Julho/Santo Amaro, que deveria se tornar um “corredor verde”, somente com os trólebus, mas acabou se transformando em um “corredor de fumaça”, apelido dado por moradores e comerciantes. Em 25 de julho de 2025, o prefeito Ricardo Nunes, ao apresentar em primeira mão ao Diário do Transporte um novo modelo de ônibus elétrico, só que apenas com baterias, revelou a retomada de propostas de corredores verdes, em grandes eixos e o primeiro seria o 9 de Julho/Santo Amaro, o mais movimentado da cidade, com cerca de 700 mil passageiros por dia. Mas os trólebus ficaram de fora dos planos de Nunes. Relembre:
A 408 A-10 expressa o crescimento da cidade de São Paulo porque ao longo dos anos, a linha também cresceu. A ligação foi a primeira regular de ônibus não poluentes da cidade e começou a operar em 1949 pela empresa pública CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), com itinerário entre o bairro da Aclimação (Praça General Polidoro) e o centro (Praça João Mendes), substituindo os bondes da linha 16.
A cidade crescia e moradores, estudantes e comerciantes pediram a extensão da linha que em 1955 passou a fazer o trajeto entre a Praça General Polidoro e a Rua Cardoso de Almeida, na região de Perdizes. A linha neste ano de 1955 começou a ser identificada como 216.
O nome Machado de Assis/Cardoso de Almeida para linha foi dado em 1957, com uma extensão de quase 2 km em um dos extremos. Dez anos depois, após uma reformulação na malha de linhas municipais, em 1967, a numeração da linha passou de 216 para 916, mas o itinerário ficou quase o mesmo.
A identificação 408A-10 veio no início dos anos 1980, fruto da reformulação do sistema de linhas idealizada na década anterior por Adriano Branco como secretário de Transportes e Olavo Setúbal como prefeito
LINHA DEIXOU DE TER TRÓLEBUS EM DUAS OCASIÕES:
Símbolo dos trólebus e da mobilidade não poluente, a 408A-10 Machado de Assis/Cardoso de Almeida deixou de ter trólebus em duas ocasiões ao menos (sem contar com desligamentos de rede e desvios de rotas de forma temporária e rápida).
Uma delas foi de 1975 a 1982 por causa de mudanças de mão de direção em vias da região da Vila Buarque, parte do trajeto, até a readequação da fiação aérea. A outra ocasião foi em 1993, ainda como CMTC, para a construção de um piscinão no Pacaembu que provou desvios no itinerário. O retorno dos trólebus ocorreu somente em 1996. As CMTC já tinha sido privatizada e os serviços eram de responsabilidade da empresa Eletrobus.
A descrição do passeio na programação oficial mostra a importância histórica da linha:
“É uma experiência turística diferente, imersiva e sustentável tendo como cenário a cidade de São Paulo. Desfrute do itinerário que conta parte da história de São Paulo – do Centro Histórico às ruas emblemáticas, bairros interessantes como Higienópolis, Liberdade e Aclimação, com destaque para lugares de memória identificados pelas Placas de Memória Paulistana. Neste passeio, conduzido por guias e muito bate-papo, vamos refletir juntos sobre novas formas de perceber e usufruir a cidade”.
Veja o vídeo do passeio:
O trajeto atual da linha, de acordo com a SPTrans, é:
PÇA. ROSA ALVES DA SILVA | 321 – 352 | |
R. GUIMARÃES PASSOS | 320 – 217 | |
R. DR. RAFAEL CARAMURU LANZELLOTI | 116 – 1 | |
R. JOSÉ DO PATROCÍNIO | 268 – 459 | |
R. MACHADO DE ASSIS | 0 – 534 | |
R. PAULA NEI | 371 – 614 | |
R. TOPÁZIO | 1001 – 1 | |
PÇA. GEN. POLIDORO | 175 – 39 | |
AV. TURMALINA | 219 – 1 | |
AV. DA ACLIMAÇÃO | 323 – 1 | |
R. PIRES DA MOTA | 486 – 238 | |
R. BUENO DE ANDRADE | 577 – 1 | |
R. TAMANDARÉ | 1 – 39 | |
R. DA GLÓRIA | 1012 – 841 | |
R. CONS. FURTADO | 780 – 377 | |
VIAD. SHUHEI UETSUKA | 58 – 1 | |
R. CONS. FURTADO | 376 – 2 | |
R. ANITA GARIBALDI | 1 – 90 | |
PÇA. CLOVIS BEVILAQUA | 1 – 387 | |
R. ROBERTO SIMONSEN | 173 – 87 | |
R. VENCESLAU BRÁS | 110 – 1 | |
PÇA. DA SE | 0 – 0 | |
LGO. PATEO DO COLÉGIO | 0 – 134 | |
VIAD. BOA VISTA | 1 – 230 | |
R. BOA VISTA | 43 – 390 | |
LGO. S. BENTO | 1 – 58 | |
R. LÍBERO BADARÓ | 0 – 256 | |
VIAD. DO CHÁ | 1 – 258 | |
PÇA. RAMOS DE AZEVEDO | 300 – 496 | |
R. CONS. CRISPINIANO | 275 – 410 | |
LGO. PAISSANDU | 0 – 0 | |
AV. S. JOÃO | 465 – 674 | |
AV. IPIRANGA | 709 – 807 | |
PÇA. DA REPÚBLICA | 400 – 191 | |
R. MQ. DE ITU | 1 – 897 | |
R. SABARÁ | 1 – 242 | |
R. MARANHÃO | 147 – 765 | |
R. ARACAJU | 95 – 272 | |
PÇA. VILABOIM | 2 – 172 | |
R. ARMANDO PENTEADO | 1 – 70 | |
R. ALAGOAS | 841 – 0 | |
PÇA. CHARLES MILLER | 51 – 154 | |
AV. ARNOLFO AZEVEDO | 2 – 380 | |
R. ZEQUINHA DE ABREU | 1 – 432 | |
R. CARDOSO DE ALMEIDA | 0 – 1738 | |
R. JOSÉ DE FREITAS GUIMARÃES | 1069 – 433 | |
R. PROF. JOÃO ARRUDA | 1 – 60 |
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes