Publicado em: 20 de agosto de 2025
Nesta quarta-feira (20), trajeto recebeu veículos conectados à fiação de forma excepcional
ADAMO BAZANI
Colaborou Yuri Sena
A SPTrans (São Paulo Transporte) confirmou com exclusividade ao Diário do Transporte nesta quarta-feira, 20 de agosto de 2025, que atendeu pedido da empresa Ambiental Transportes Urbanos para deixar de operar trólebus na linha 408 A-10 (Machado de Assis/Cardoso de Almeida), na capital paulista.
Com isso, a companhia pode substituir os modelos conectados à fiação elétrica por veículos somente a bateria de forma permanente. A não ser com exceções e com a devida autorização, não poderão ser colocados ônibus a diesel.
Nesta quarta-feira (20), houve atendimento com trólebus, mas de acordo com a gerenciadora também ao Diário do Transporte, foi uma situação excepcional.
Como mostrou a reportagem, já há duas semanas a 408A-10 estava somente com ônibus a bateria. Inicialmente, eram testes operacionais.
É a linha mais antiga do Brasil com este tipo de veículo, sendo inaugurada comercialmente em 22 de abril de 1949, mas que já estava em testes desde 1947, marcando os primórdios da CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), antiga operadora e gestora dos transportes públicos, sendo sucedida em 1995 pela SPTrans, que atualmente se concentra no gerenciamento do sistema de transportes da cidade, onda não há mais empresa pública operadora.
Segundo a SPTrans, o motivo é a atualização da frota.
Como não têm sido comprados trólebus novos na capital, como ocorre com o Corredor ABD, os atuais modelos da Ambiental não possuem itens como ar-condicionado, mais tomadas USB para recarga de celulares e sinal de wi-fi atualizado.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte (SMT) e a SPTrans informam que a concessionária Ambiental oficializou pedido para alteração da linha 408A/10 Machado de Assis – Cardoso de Almeida, para substituir os trólebus por veículos movidos a bateria. A Ambiental agora está com toda a sua frota movida a energia limpa. Com a mudança, os passageiros da linha 408A/10 passam a contar com os ônibus movidos a bateria, ar-condicionado, Wi-Fi e tomadas USB. Excepcionalmente nesta quarta-feira (20), por questões operacionais, a linha 408A/10 está operando com veículos trólebus.
Na cidade de São Paulo, a frota de trólebus permanece em 201 veículos. O total de ônibus a bateria é de 705, totalizando 906 ônibus com energia limpa, totalmente sustentáveis, com zero emissão de poluentes.
A escolha do tipo de ônibus utilizado em cada linha é de responsabilidade das empresas concessionárias, desde que os veículos atendam às regras de layout interno definidas pela SPTrans e estejam de acordo com a capacidade de passageiros estipulada para aquele trajeto.
O Diário do Transporte foi o primeiro veículo profissional de comunicação a noticiar o risco de desativação e a obter da SPTrans (São Paulo Transporte), gerenciadora das linhas municipais da capital paulista, que a operadora atual dos trólebus da cidade, a Ambiental Transportes Urbanos pediu que a 408 A-10 fosse atendida somente com ônibus elétricos com baterias, sem conexão com a rede aérea de fiação.
Entretanto, o risco de desmantelamento definitivo da rede de trólebus em São Paulo existe.
Por isso, como mostrou também o Diário do Transporte, entidades ligadas à mobilidade limpa, meio ambiente e memória tentam o tombamento histórico da rede de trólebus da cidade ou, ao menos, da primeira linha 408 A-10 (Machado de Assis/Cardoso de Almeida). Seria uma maneira de preservar a história dos transportes no maior sistema de ônibus da América Latina, mas também de manter a rede para receber modernizações.
Relembre:
Entidades tentam tombamento histórico da rede de trólebus e de linha mais antiga (408 A-10) para evitar desativação na capital paulista
Este risco de desativação ficou mais evidente ainda quando o Diário do Transporte revelou uma data concreta estudada pela prefeitura. Em 23 de julho de 2025, ao entregar novos ônibus elétricos a bateria, o prefeito Ricardo Nunes afirmou que a rede de trólebus seria desativada com a inauguração do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), prevista para 2029 e 2030, restrita apenas ao centro da cidade.
Relembre:
Trólebus vai acabar em São Paulo com a implantação do VLT (Bonde de São Paulo), diz Nunes em resposta ao Diário do Transporte e Enel promete energia para mais 2 mil ônibus – OUÇA
Um estudo da Rede Respira São Paulo, que reúne técnicos, especialistas e representantes da academia, mostra que seria desperdício de infraestrutura desativar os trólebus, que atendem regiões mais distantes, em favor do VLT, concentrado apenas no centro. O estudo não é contrário ao modal sobre trilhos, mas defende que os dois podem conviver harmoniosamente, como ocorre em diversas cidades da Europa.
Relembre:
Desativar trólebus por causa de VLT (Bonde de São Paulo) é um desperdício e vai na contramão do que mundo pratica, aponta estudo (ENTREVISTA e VÍDEO)
Especialistas internacionais também defendem a manutenção dos trólebus em São Paulo, mesmo com a implantação do VLT. Para a capital, o modelo E-Trol foi apontado como alternativa. O E-Trol é um tipo de ônibus largamente usado na Europa, Ásia e América do Norte, que funciona tanto com baterias por longos trechos como conectados à rede aérea em modo trólebus. O corredor BRT-ABC, que está sendo construído entre as cidades de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e os terminais Vila Prudente e Sacomã, na capital paulista, terá o modelo. Serão 96 unidades com 21,5 metros de comprimento cada e capacidade para mais de 150 passageiros de uma só vez.
O consultor em mobilidade elétrica da União Internacional de Transportes Públicos (UITP), Arnd Bätzner, que esteve nesta semana no seminário em São Paulo, reforçou que esse tipo de tecnologia é amplamente utilizada em diversas partes do mundo e pode ser uma solução adequada para a cidade.
Relembre:
Especialista Internacional da UITP defende o uso dos trólebus em São Paulo e cita o modelo E-Trol, do ABC, como alternativa ideal
Além de flexibilidade, o modelo E-Trol dispensa a necessidade de infraestrutura de recarga nas garagens, um dos grandes entraves para o avanço como previsto pela prefeitura de São Paulo para a frota de ônibus elétricos somente com bateria, não cumprindo as metas. Isso porque, o E-Trol, pelo fato de funcionar tanto conectado à rede quanto com bateria, carrega os bancos de baterias enquanto trafega, isso somado ao fato de ser cerca de 30% mais barato na aquisição e manutenção.
Veja a entrevista explicando:
ENTREVISTA em VÍDEO: Transformar ônibus e caminhão a diesel em elétrico, retrofit, gera economia de 30%. E-Trol também é 30% mais barato e baterias duram até 40% mais
LINHA 408 A-10 – A HISTÓRIA DA EVOLUÇÃO DA CIDADE:
São Paulo já teve mais de 500 trólebus e poderia chegar a ter 1280 se o Plano Sistran (Sistema Integrado de Transportes), de 1975, elaborado pelo então secretário municipal de transportes da capital paulista, Adriano Murgel Branco, na gestão do prefeito Olavo Setúbal, fosse colocado integralmente em prática. Mas a partir do início dos anos 2000, ainda na gestão da prefeita Marta Suplicy, o sistema começou a ser desmantelado em ritmo mais intenso. Entre os “marcos do fim” esteve a desativação da rede do Corredor 9 de Julho/Santo Amaro, que deveria se tornar um “corredor verde”, somente com os trólebus, mas acabou se transformando em um “corredor de fumaça”, apelido dado por moradores e comerciantes.
Em 25 de julho de 2025, o prefeito Ricardo Nunes, ao apresentar em primeira mão ao Diário do Transporte um novo modelo de ônibus elétrico, só que apenas com baterias, revelou a retomada de propostas de corredores verdes, em grandes eixos e o primeiro seria o 9 de Julho/Santo Amaro, o mais movimentado da cidade, com cerca de 700 mil passageiros por dia.
Mas os trólebus ficaram de fora dos planos de Nunes.
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A 408 A-10 expressa o crescimento da cidade de São Paulo porque ao longo dos anos, a linha também cresceu. A ligação foi a primeira regular de ônibus não poluentes da cidade e começou a operar em 1949 pela empresa pública CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos), com itinerário entre o bairro da Aclimação (Praça General Polidoro) e o centro (Praça João Mendes), substituindo os bondes da linha 16.
A cidade crescia e moradores, estudantes e comerciantes pediram a extensão da linha que em 1955 passou a fazer o trajeto entre a Praça General Polidoro e a Rua Cardoso de Almeida, na região de Perdizes. A linha neste ano de 1955 começou a ser identificada como 216.
O nome Machado de Assis/Cardoso de Almeida para linha foi dado em 1957, com uma extensão de quase 2 km em um dos extremos. Dez anos depois, após uma reformulação na malha de linhas municipais, em 1967, a numeração da linha passou de 216 para 916, mas o itinerário ficou quase o mesmo.
A identificação 408A-10 veio no início dos anos 1980, fruto da reformulação do sistema de linhas idealizada na década anterior por Adriano Branco como secretário de Transportes e Olavo Setúbal como prefeito
LINHA DEIXOU DE TER TRÓLEBUS EM DUAS OCASIÕES:
Símbolo dos trólebus e da mobilidade não poluente, a 408A-10 Machado de Assis/Cardoso de Almeida deixou de ter trólebus em duas ocasiões ao menos (sem contar com desligamentos de rede e desvios de rotas de forma temporária e rápida).
Uma delas foi de 1975 a 1982 por causa de mudanças de mão de direção em vias da região da Vila Buarque, parte do trajeto, até a readequação da fiação aérea. A outra ocasião foi em 1993, ainda como CMTC, para a construção de um piscinão no Pacaembu que provou desvios no itinerário. O retorno dos trólebus ocorreu somente em 1996. As CMTC já tinha sido privatizada e os serviços eram de responsabilidade da empresa Eletrobus.
QUAL PODE SER O FUTURO?
O risco de desativação na cidade de São Paulo ficou mais evidente ainda quando o Diário do Transporte revelou uma data concreta estudada pela prefeitura. Em 23 de julho de 2025, ao entregar novos ônibus elétricos a bateria, o prefeito Ricardo Nunes afirmou que a rede de trólebus seria desativada com a inauguração do Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), prevista para 2029 e 2030, restrita apenas ao centro da cidade.
Relembre:
Um estudo da Rede Respira São Paulo, que reúne técnicos, especialistas e representantes da academia, mostra que seria desperdício de infraestrutura desativar os trólebus, que atendem regiões mais distantes, em favor do VLT, concentrado apenas no centro. O estudo não é contrário ao modal sobre trilhos, mas defende que os dois podem conviver harmoniosamente, como ocorre em diversas cidades da Europa.
Relembre:
Especialistas internacionais também defendem a manutenção dos trólebus em São Paulo, mesmo com a implantação do VLT. Para a capital, o modelo E-Trol foi apontado como alternativa. O E-Trol é um tipo de ônibus largamente usado na Europa, Ásia e América do Norte, que funciona tanto com baterias por longos trechos como conectados a rede aérea em modo trólebus. O corredor BRT-ABC, entre as cidades de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e os terminais Vila Prudente e Sacomã, na capital paulista, terá o modelo. Serão 96 unidade com 21,5 metros de comprimento cada e capacidade para mais de 150 passageiros de uma só vez.
O consultor em mobilidade elétrica da União Internacional de Transportes Públicos (UITP), Arnd Bätzner, que esteve nesta semana no seminário em São Paulo, reforçou que esse tipo de tecnologia é amplamente utilizada em diversas partes do mundo e pode ser uma solução adequada para a cidade.
Relembre:
Além de flexibilidade, o modelo E-Trol dispensa a necessidade de infraestrutura de recarga nas garagens, um dos grandes entraves para o avanço como previsto pela prefeitura de São Paulo para a frota de ônibus elétricos somente com bateria, não cumprindo as metas. Isso porque, o E-Trol, pelo fato de funcionar tanto conectado à rede quanto com bateria, carrega os bancos de baterias enquanto trafega, isso somando ao fato de ser cerca de 30% mais barato na aquisição e manutenção.
Veja a entrevista explicando:
O trajeto atual da linha, de acordo com a SPTrans, é:
PÇA. ROSA ALVES DA SILVA | 321 – 352 | |
R. GUIMARÃES PASSOS | 320 – 217 | |
R. DR. RAFAEL CARAMURU LANZELLOTI | 116 – 1 | |
R. JOSÉ DO PATROCÍNIO | 268 – 459 | |
R. MACHADO DE ASSIS | 0 – 534 | |
R. PAULA NEI | 371 – 614 | |
R. TOPÁZIO | 1001 – 1 | |
PÇA. GEN. POLIDORO | 175 – 39 | |
AV. TURMALINA | 219 – 1 | |
AV. DA ACLIMAÇÃO | 323 – 1 | |
R. PIRES DA MOTA | 486 – 238 | |
R. BUENO DE ANDRADE | 577 – 1 | |
R. TAMANDARÉ | 1 – 39 | |
R. DA GLÓRIA | 1012 – 841 | |
R. CONS. FURTADO | 780 – 377 | |
VIAD. SHUHEI UETSUKA | 58 – 1 | |
R. CONS. FURTADO | 376 – 2 | |
R. ANITA GARIBALDI | 1 – 90 | |
PÇA. CLOVIS BEVILAQUA | 1 – 387 | |
R. ROBERTO SIMONSEN | 173 – 87 | |
R. VENCESLAU BRÁS | 110 – 1 | |
PÇA. DA SE | 0 – 0 | |
LGO. PATEO DO COLÉGIO | 0 – 134 | |
VIAD. BOA VISTA | 1 – 230 | |
R. BOA VISTA | 43 – 390 | |
LGO. S. BENTO | 1 – 58 | |
R. LÍBERO BADARÓ | 0 – 256 | |
VIAD. DO CHÁ | 1 – 258 | |
PÇA. RAMOS DE AZEVEDO | 300 – 496 | |
R. CONS. CRISPINIANO | 275 – 410 | |
LGO. PAISSANDU | 0 – 0 | |
AV. S. JOÃO | 465 – 674 | |
AV. IPIRANGA | 709 – 807 | |
PÇA. DA REPÚBLICA | 400 – 191 | |
R. MQ. DE ITU | 1 – 897 | |
R. SABARÁ | 1 – 242 | |
R. MARANHÃO | 147 – 765 | |
R. ARACAJU | 95 – 272 | |
PÇA. VILABOIM | 2 – 172 | |
R. ARMANDO PENTEADO | 1 – 70 | |
R. ALAGOAS | 841 – 0 | |
PÇA. CHARLES MILLER | 51 – 154 | |
AV. ARNOLFO AZEVEDO | 2 – 380 | |
R. ZEQUINHA DE ABREU | 1 – 432 | |
R. CARDOSO DE ALMEIDA | 0 – 1738 | |
R. JOSÉ DE FREITAS GUIMARÃES | 1069 – 433 | |
R. PROF. JOÃO ARRUDA | 1 – 60 |
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes