Publicado em: 8 de setembro de 2025
Praticamente na mesma semana em que pediu ao ministro Haddad estudos para implantar uma tarifa zero nacional nos ônibus e trens aos domingos e feriados, presidente Lula manda ao Congresso proposta de Orçamento que reduz recursos de pasta que financia a construção de corredores BRT, metrôs e cuida de recursos que estimulam a aquisição de ônibus e trens novos
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
Ficar preso no trânsito dentro de um ônibus mais antigo sem pagar a passagem ou chegar rápido ao trabalho, escola e compromissos pessoais em um coletivo zero quilômetro, inclusive elétrico e silencioso, mas pagando tarifa?
A pergunta parece meio sem sentindo. Mas entendendo o contexto; porém, sem se apegar a tecnicidades, reflete bem a política pública que pode estar sendo desenhada no Brasil ou mesmo a falta dela e, no lugar, mais discursos e marketing.
Isso porque, como mostrou o Diário do Transporte, praticamente na mesma semana em que pediu ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, estudos para implantar uma tarifa zero nacional nos ônibus e trens aos domingos e feriados, enviando recursos para Estados e Municípios, o presidente Luís Inácio Lula da Silva mandou ao Congresso a proposta para o Orçamento de 2026 que reduz dinheiro do Ministério das Cidades, pasta que financia a construção de corredores BRT, metrôs e cuida de recursos que estimulam a aquisição de ônibus e trens novos, por exemplo.
A redução proposta é de cerca de R$ 5 bilhões em relação a previsão Orçamentária de 2025. A previsão para o Ministério das Cidades foi consolidada em R$ 18,95 bilhões. Para 2026, a peça orçamentária prevê R$ 13,9 bilhões. O valor pode mudar com a votação final pelo Congresso e as emendas parlamentares, mas habitualmente, não sai muito do patamar proposto.
Relembre:
Sobre a tarifa zero, Haddad sinalizou ao chefe que não há recursos, mas prometeu estudar a questão e analisar os custos.
O Diário do Transporte ouviu o Superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), Luiz Carlos Néspoli, sobre a tarifa zero. Segundo o especialista, a estimativa hoje de uma tarifa-zero aos domingos e feriados nacionais em todo o País teria um custo menor que a redução de R$ 5 bilhões do Orçamento de 2026 para o Ministério das Cidades: R$ 3,5 bilhões por ano. A estimativa é com base na demanda e nos custos operacionais, em média, dos transportes nas principais cidades do País.
Relembre:
Claro que há ressalvas importantes a se fazer. E muitas.
Sobre a tarifa zero, uma coisa é saber o quanto custa agora, mas em quanto a demanda de passageiros pode aumentar com as gratuidades, o que implicaria em mais ônibus e trens em operação aos domingos e feriados, elevando assim os custos de prestação de serviços.
Já sobre o Ministério das Cidades, os recursos da pasta não são apenas para mobilidade e envolvem áreas como habitação, urbanização de favelas, iluminação, saneamento básico, entre outras.
As fontes de recursos e formas de empenho seriam diferentes. Por isso, não é o intuito da reportagem só comparar. Mas tudo passaria pelo caixa administrado pelo Governo Federal.
A questão não é comparar os dois empenhos e nem dizer que não se pode ter tarifa-zero e ao mesmo tempo financiamento de infraestrutura de mobilidade e frotas mais modernas, seguras e menos poluentes. Mas é levantar o debate: o que tem sido prioridade? Discursos ou práticas mais realistas? O Brasil possui mesmo uma política pública de mobilidade urbana?
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes