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Ônibus elétrico no Brasil precisa ter um padrão nacional, mas não pode ser um produto de prateleira, diz presidente da Eletra, Milena Romano


Para Milena Braga Romano, um dos diferenciais da Eletra é que empresa nasceu de um grupo operador de transportes, que sabe a realidade do dia a dia e as diferenças de cada sistema.

De acordo com executiva, flexibilidade é o ponto que mais o mercado precisa na eletrificação de frota. Um dos exemplos é o ônibus de 15 metros para São Paulo e para Goiânia

ADAMO BAZANI

Colaborou Arthur Ferrari

O maior desafio para as cidades e os Estados reduzirem a poluição pelos transportes coletivos reside atualmente em dois pontos fundamentais: infraestrutura para os veículos que são alternativos ao óleo diesel, como elétricos e a gás, e os custos de aquisição destes ônibus que, habitualmente são mais caros. Porém, há mais questões enfrentadas.

Mas outro ponto, pouco discutido, é tão importante quanto estes aspectos e que é um grande desafio que gestores públicos e operadores têm sentido na pele: a necessidade de os modelos, em especial os elétricos, serem “personalizados” para cada realidade operacional diferente, mas ao mesmo tempo, ter um padrão nacional que facilite a implantação de infraestrutura, a definição de parâmetros básicos para implantação de frotas (afinal, a eletrificação dos ônibus é ainda novidade na maior parte das cidades), a manutenção e o pós-venda.

“Ônibus elétrico no Brasil precisa ter um padrão nacional, mas não pode ser um produto de prateleira”. Tudo tem de ser dimensionado para cada tipo de operação. Cada entrega precisa ser desenhada a seis mãos, no mínimo: com o operador [empresa de ônibus], com o gestor público [União, Estados e prefeituras] e nós, fabricantes – disse, em entrevista ao Diário do Transporte, a diretora-presidente da Eletra Industrial, Milena Braga Romano.

A empresa, de capital nacional, com sede em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, atua há mais de 30 anos em tecnologia de tração elétrica e tem origem num grupo de operações de ônibus que neste ano de 2025 completa 115 (cento e quinze) anos de trabalho.

“A tecnologia, a assistência técnica, o padrão de segurança e manutenção precisam ter a mesma linguagem no País todo, para facilitar a implantação e a viabilidade das frotas, mas é necessário ter flexibilidade nos produtos. E isso abarca tudo. Não é somente ter diversidade de modelos, o que é importante, mas conhecer como é operar ônibus e adaptar estes produtos para cada local onde vão operar”, declarou Milena, que ainda disse que essa experiência em vir de um grupo operador tem sido fundamental para desenvolver soluções personalizadas pela Eletra.

“Não adianta pegar um ônibus pronto da caixinha e vender ou fazer adaptações no improviso e afã de vender logo. Sentamos com o frotista, com o gestor público e até com os setores acadêmicos e perguntamos: Qual sua realidade? Do que você precisa?” – continuou a empresária.

Milena citou as mais variadas exigências e necessidades de operação que tem encontrado na hora de implantar os modelos elétricos, mas todas elas, atendidas.

“Nós temos variação de piso alto [com degraus em todas as portas], piso baixo [com rampa de acesso], autonomia maior, autonomia menor, cinco portas, duas portas, três portas, tamanho maior, nove metros, 10 metros, 11 metros. Às vezes, do 10 [metros] para 11 [11 metros], há muita diferença. Tem características de periferia que o de 10 metros passa (em um lugar), o de 11 metros não passa. Então, são características assim, detalhes pequenos, mas que fazem toda a diferença. Hoje a Eletra tem um portfólio de produtos de 13 tamanhos diferentes, e aí você vê variação de piso alto, piso baixo, tipo de porta, tipo de elevador, ônibus climatizado, ônibus de janela que abre e fecha, tipo de pneu, tipo de motor, torque de motor, então tem operações que são mais pesadas, havendo rampas e subidas que você precisa dimensionar rampas maiores”

A executiva lembra do exemplo prático da diferença entre as configurações dos ônibus elétricos de 15 metros que foram entregues para São Paulo e para Goiânia.

Por fora, com exceção das pinturas, ambos são muito parecidos.

Mas ambos têm características bem diferentes. A principal delas está nos motores. Em Goiânia, pelo tipo de operação em vias mais planas, os motores elétricos têm dimensões menores e privilegiam economia. Na capital paulista, a operação é mais severa. Assim, os motores estão dimensionados para uma exigência maior, sendo mais fortes.

Nós com parceiros como a WEG, temos a flexibilidade de dimensionar o torque do motor, a potência do motor, para aquele tipo de operação, então eu te dou um exemplo do (ônibus de) 15 metros. A gente fez no início, para a operação de São Paulo, um tamanho de motor, com torque e uma potência, depois para uma outra operação, em Goiânia, que era plana, a gente conseguiu diminuir o tamanho desse motor, através da engenharia da WEG e da nossa engenharia, com menos torque, para atender à necessidade daquela operação, e aí é claro, reduzindo o custo, melhorando o custo-benefício para aquela operação

LEIA A ENTREVISTA NA ÍNTEGRA:

Acima, ônibus elétrico Eletra de 15 metros para o sistema de Goiânia e abaixo, para a capital paulista. Diferenças vão além da pintura

Adamo Bazani/Diário do Transporte: Nosso contato no Diário do Transporte é com a diretora-presidente da Eletra Industrial, Milena Braga Romano, que vai conversar com a gente a respeito da personalização que os ônibus elétricos precisam ter no Brasil. Por que, Milena?

Milena Braga Romano/Eletra: Adamo, o Brasil é um país continental com diversidades, no norte, nordeste, sudeste, sul, que a gente precisa se adaptar. E eu acho que nós nascemos na diversidade, em diferentes tipos de operação, tanto rural quanto urbano, e a gente sabe dessa necessidade operacional que cada cidade, cada estado tem. Então, nós temos a flexibilidade de personalizar o produto do ônibus elétrico, que é uma coisa muito importante, porque você acaba otimizando, melhorando em todos os aspectos econômicos, operacionais, para cada região. Então, nós fazemos, a Eletra, desde o seu nascimento, a gente faz um estudo operacional do local, para entender as condições climáticas, as condições de operação, de viário, infraestrutura, passageiros, para depois a gente propor a melhor solução de ônibus elétrico para aquela região. Isso é uma coisa que só nós, empresa 100% brasileira, produção 100% brasileira, peças, mão de obra, engenharia 100% nacional, conseguimos fazer num curto espaço de tempo.

Adamo Bazani/Diário do Transporte: Milena, pela experiência que você tem com a Eletra e de visitar mesmo esses lugares. É muito diferente mesmo a operação de um lugar para outro?

Milena Braga Romano/Eletra: É muito diferente, nós temos variação de piso alto, piso baixo, autonomia maior, autonomia menor, 5 portas, 2 portas, 3 portas, tamanho maior, 9 metros, 10 metros, 11 metros, às vezes do 10 para o 11 tem muita diferença. Tem características de periferia que o de 10 metros passa (em um lugar), o de 11 metros não passa. Então, são características assim, detalhes pequenos, mas que fazem toda a diferença.

Então, hoje a Eletra tem um portfólio de produtos de 13 tamanhos diferentes, e aí você vê variação de piso alto, piso baixo, tipo de porta, tipo de elevador, ônibus climatizado, ônibus de janela que abre e fecha, tipo de pneu, tipo de motor, torque de motor, então tem operações que são mais pesadas, havendo rampas e subidas que você precisa dimensionar rampas maiores, então tudo isso, nós com parceiros como a WEG, temos a flexibilidade de dimensionar o torque do motor, a potência do motor, para aquele tipo de operação, então eu te dou um exemplo do (ônibus de) 15 metros. A gente fez no início, para a operação de São Paulo, um tamanho de motor, com torque e uma potência, depois para uma outra operação, em Goiânia, que era plana, a gente conseguiu diminuir o tamanho desse motor, através da engenharia da WEG e da nossa engenharia, com menos torque, para atender à necessidade daquela operação, e aí é claro, reduzindo o custo, melhorando o custo-benefício para aquela operação.

Baterias a mesma coisa, então a gente tem ônibus padron, de 12 metros e meio, para um tipo de operação, BRT Salvador por exemplo, com dois packs de bateria, e já para a operação de São Paulo com três packs, então tudo dimensionado para cada tipo de operação e cada necessidade do operador, do cliente, do município.

Adamo Bazani/Diário do Transporte: Perfeito, então quer dizer, não basta ter um produto de prateleira, tem que ser um produto que você chegue, sente com o gestor público também, porque ele tem a realidade da infraestrutura, com o operador, e desenhe praticamente esse ônibus, né?

Milena Braga Romano/Eletra: Exatamente, o nosso produto é desenhado a seis mãos. Nós fabricantes, operador e órgão gestor, então as reuniões acontecem com os três pilares, que são os maiores conhecedores da necessidade, e nós sugerimos a solução e o melhor custo-benefício para aquele tipo de operação, mas com certeza tem que ser feita a seis mãos.

DIMENSÕES CONTINENTAIS E LINHA DE PRODUTOS:

Muito embora, as fabricantes garantam que, ao decorrer da vida útil, que tende a ser até três vezes maior com custos operacionais menores num modelo elétrico, por exemplo, os preços iniciais, mesmo com linhas de financiamentos, ainda poderiam ter mais incentivos para serem reduzidos. Já sobre a infraestrutura, as cidades debatem como melhorar as redes de distribuição, tanto de energia elétrica como de Gás Natural e biometano (obtido na decomposição de resíduos), para que haja condições de recarga e abastecimento.

Quanto aos modelos em si, houve avanços ao longo dos anos, com a diversificação de modelos e fabricantes. Há ainda desafios como ampliar a autonomia de baterias, mas um dos principais aspectos que precisam ser atendidos é a adequação dos modelos às realidades operacionais locais.

Com dimensões continentais, o Brasil possui diferentes realidades climáticas, territoriais, econômicas, sociais e geográficas.

Não dá para comparar uma operação em Curitiba com em Palmas, nem o contexto operacional de Pelotas com São Paulo e Salvador.  Mas é preciso atender a todas. Muito embora haja características em comum entre todos os municípios, existem muitas especificidades.

A Eletra diz que possui a linha mais completa da América Latina de veículos para os transportes coletivos de passageiros urbanos, metropolitanos, semiurbanos, suburbanos, escolares e aeroportuários.

Além de diferentes versões de pisos (alto e baixo) e dimensões (que vão desde micro-ônibus a superarticulados), a Eletra apostou no fornecimento de diferentes formas de tração elétrica, contemplando tecnologias como elétricos puros com baterias, híbridos, trólebus e E-Trol (que reúne em um só veículo, a possibilidade de o ônibus circular longos trechos só com baterias ou conectados à fiação).

Veja a relação:

Ônibus Escolar Elétrico 9,7m (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Volkswagen, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus Escolar Elétrico 11,3m (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Mercedes-Benz, carroceria eMillenium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 10m – Midi (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Mercedes-Benz, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 12m – Piso Alto (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Mercedes-Benz, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 12,1m – Básico (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Mercedes-Benz, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 12,8m – Padron (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Mercedes-Benz, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 15m – (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Scania, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 15m – Piso Alto – (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Scania, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

Ônibus elétrico 21,5m – Articulado (tração elétrica e eletrificação Eletra, chassi Mercedes-Benz, carroceria eMillennium Caio, motores elétricos e baterias WEG);

e-Trol – ônibus elétrico desenhado especialmente para operações em vias segregadas e BRT (Bus Rapid Transit), com um inédito sistema de recarga de baterias durante o trajeto e ampla autonomia sem contato com a rede aérea.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes



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