Publicado em: 11 de setembro de 2025
Trabalhadores cobram reunião direta com o prefeito Sadiq Khan, enquanto a TfL reafirma que a redução da jornada é inviável e insiste em votação da proposta de reajuste
ALEXANDRE PELEGI
A greve dos trabalhadores do metrô de Londres entrou hoje, 11 de setembro de 2025, em seu quarto dia consecutivo. O transporte público segue com fortes interrupções: trechos das linhas Central (liga o leste ao oeste da cidade, passando pelo centro), Northern (conecta o norte ao centro e sul de Londres) e District (atravessa o oeste, sudoeste e leste da capital) chegaram a operar parcialmente, mas com grande intermitência.
A autoridade de transporte já avisou que nesta sexta-feira (12) não haverá serviço antes das 08h, com normalização gradual ao longo da manhã.
O que dizem os trabalhadores
O secretário-geral do sindicato, Eddie Dempsey, cobrou diretamente o prefeito Sadiq Khan durante discurso no congresso da TUC realizado ontem:
“Pare de ir às redes sociais, convide-nos para a reunião, vamos conversar, porque eu quero saber o que está acontecendo em Londres.”
Em outra declaração, Dempsey reforçou que a mobilização é legítima:
“Não temos prazer em causar transtornos, mas não pedimos desculpas por lutar pelos nossos membros.”
Quem é o sindicato RMT: O National Union of Rail, Maritime and Transport Workers (RMT) representa trabalhadores do transporte ferroviário, metroviário, marítimo e rodoviário no Reino Unido, atuando em negociações salariais, condições de trabalho e jornadas.
A posição da administração do transporte
A TfL, responsável pela gestão do transporte público, reafirmou que reduzir a jornada para 32 horas semanais, como reivindicam os trabalhadores, é financeiramente inviável:
“Trata-se de uma medida impraticável e absolutamente inacessível, com custos que podem chegar a centenas de milhões de libras.”
As autoridades voltaram a pedir que a proposta de reajuste salarial de 3,4% seja levada a votação entre os empregados.
O que é a TfL: A Transport for London (TfL) é o órgão público responsável por toda a rede de transportes da capital britânica, incluindo metrô, ônibus, bondes, barcos no Tâmisa, Overground, Elizabeth line e sistema de bicicletas.
Posição do prefeito
O prefeito de Londres, Sadiq Khan, tem evitado intervir diretamente no conflito, afirmando que só o fez em ocasiões “excepcionais” no passado — como durante crise inflacionária recorde e políticas fiscais controversas — mas que agora não está em posição de aportar financeiramente à gestão do transporte.
Ele destacou ainda:
“Não posso adoçar a verdade de que essas greves são incrivelmente más para nossa cidade. Elas são más notícias para pacientes que têm dificuldade de chegar a consultas hospitalares, para pais que dependem do metrô para levar seus filhos à escola, e para quem não tem o luxo de trabalhar de casa.”
Khan insistiu que só o diálogo entre os grevistas e a autoridade de transporte resolverá o impasse:
“Acho que o mais importante é que se sentem à mesa, discutam as diferenças e busquem resolvê-las quando possível. Isso só será resolvido se RMT e TfL se sentarem e resolverem isso.”
Líderes empresariais do setor de hospitalidade e comércio reagiram cobrando medidas concretas para amenizar os impactos econômicos, como propostas de isenção de taxas e aluguéis para as áreas mais afetadas.
A oposição conservadora na Câmara de Londres criticou Khan por “evitar o público” e por faltar com uma resposta mais firme. Dizem que ele estaria transferindo a culpa aos sindicatos, apesar de prometer menos paralisações em sua gestão.
De modo geral, a população parece dividida: muitos simpatizam com as reivindicações trabalhistas sobre condições e cansaço, enquanto outros expressam frustração com a interrupção diária das atividades cotidianas.
Impactos para a cidade
Com o metrô paralisado, a demanda se deslocou para outros modais. A Elizabeth line (linha de alta capacidade inaugurada em 2022, ligando o leste, centro e oeste da cidade com trens rápidos e modernos) e o Overground (rede de trens suburbanos que complementa o metrô) absorveram parte do fluxo, enquanto ônibus, bicicletas — inclusive as do sistema Santander Cycles — e barcos no Tâmisa tiveram uso intensificado, provocando filas e lotações semelhantes às vistas nos ônibus nos horários de pico.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes