Publicado em: 13 de setembro de 2025
Capitais brasileiras consolidam resultados ambientais e econômicos, enquanto indústria aponta crescimento de mais de 140% nos emplacamentos de ônibus elétricos no primeiro semestre; no transporte rodoviário, linhas a gás e biometano começam a ganhar espaço
ALEXANDRE PELEGI
A semana evidenciou que a mobilidade sustentável no Brasil vive momentos complementares: enquanto capitais como Porto Alegre apresentam resultados práticos da eletrificação, a Feira Internacional de Energia em São Paulo projeta a expansão nacional com base em números concretos de crescimento; e, paralelamente, o setor rodoviário testa o potencial do gás e do biometano como alternativa viável.
Os dados divulgados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) mostram que os ônibus elétricos já têm curva de crescimento clara, embora ainda dependam de maior escala e políticas de incentivo para se consolidar. No curto prazo, a tendência é de expansão em sistemas urbanos de grande porte. No médio prazo, o rodoviário poderá assumir papel relevante com biometano, especialmente em corredores intermunicipais e interestaduais.
Porto Alegre comprova ganhos ambientais e econômicos
A Prefeitura de Porto Alegre apresentou nesta semana o balanço de um ano das três linhas 100% elétricas com ônibus Marcopolo Attivi Integral em operação na cidade. Os 12 ônibus movidos a bateria registraram uma economia aproximada de R$ 1 milhão em combustíveis, além de evitarem a emissão de 874 toneladas de poluentes.
Segundo o município, os resultados confirmam que a adoção de veículos elétricos não se resume ao aspecto ambiental, mas também contribui para o equilíbrio financeiro do transporte coletivo. A experiência da capital gaúcha soma-se à de outras cidades brasileiras que já começam a operar frotas sustentáveis, como São Paulo, Salvador, Goiânia e Campinas. Relembre:
Ônibus Marcopolo Attivi Integral elétricos completam um ano de operação em Porto Alegre (RS)
Feira Internacional de Energia em São Paulo confirma papel estratégico dos ônibus elétricos
Entre os dias 9 e 12 de setembro, a Feira Internacional de Energia (FIEE 2025) reuniu especialistas, fabricantes e gestores públicos em São Paulo. A ABVE apresentou dados que reforçam a relevância do transporte coletivo na transição energética nacional.
De acordo com a entidade, a frota total de veículos eletrificados no Brasil deve ultrapassar 215 mil unidades até o fim de 2025, crescimento superior a 20% em relação a 2024. Dentro desse cenário, os ônibus urbanos ocupam papel central. Apenas no primeiro semestre de 2025 foram 306 ônibus elétricos emplacados, contra 127 no mesmo período de 2024 — uma expansão de 141%. Leia mais sobre:
O mês de junho de 2025 também foi emblemático: 34 ônibus elétricos foram emplacados, frente a apenas 9 em junho do ano anterior, salto de 278%. Os números apresentados no evento foram recebidos como um sinal claro de que o mercado de ônibus elétricos entrou em uma fase de aceleração, ainda que os volumes absolutos ainda sejam modestos diante do tamanho da frota nacional.
Além dos dados de vendas, o painel destacou a importância das cidades que já despontam como referências em projetos de eletromobilidade. São Paulo, Salvador, Goiânia, Campinas, Ribeirão Preto e Cariacica foram citadas como polos em que os elétricos já circulam ou estão em processo de expansão.
Produção nacional e infraestrutura de recarga
A Feira também serviu de vitrine para anúncios sobre a produção nacional de veículos elétricos. A chegada de montadoras como BYD e GWM, além dos projetos de General Motors e Comexport no Ceará, reforçam que a indústria começa a consolidar uma base local para atender à demanda crescente.
No campo da infraestrutura, foram destacados avanços na rede de recarga, tanto pública quanto em garagens de concessionárias, além da necessidade de acelerar a certificação de componentes e a normatização de baterias e sistemas de recarga. O Inmetro foi lembrado como ator central nesse processo de regulação técnica.
A ABVE ainda frisou que as políticas públicas são determinantes para que a eletrificação avance em escala. Linhas de financiamento federais, incentivos como a redução de IPI verde, e legislações municipais que fixam metas de descarbonização do transporte coletivo foram apontadas como fatores que podem acelerar a substituição dos ônibus a diesel.
Rio de Janeiro abre chamamento para testes de ônibus elétricos
Além da projeção nacional, o Rio de Janeiro movimentou o setor ao lançar o Chamamento Público nº 01/2025 – Demonstração de Ônibus Elétricos, publicado no Diário Oficial em 8 de setembro. O Diário do Transporte trouxe a notícia em primeira mão, detalhando as condições para que empresas disponibilizem veículos elétricos para rodar em operação real no sistema municipal.
Os testes terão duração de 30 dias por veículo, com vigência até abril de 2026. As empresas interessadas deverão arcar com todos os custos de operação, manutenção e infraestrutura de recarga, enquanto a prefeitura oferecerá suporte à bilhetagem eletrônica e energia em garagens da Mobi-Rio.
Os ônibus serão avaliados em duas linhas da rede municipal: a Linha 28 (Pingo d’Água – Curral Falso, 35,5 km, frota de 16 veículos) e a Linha 68 (Bangu – Deodoro, 21,6 km, frota de 12 veículos). Durante o período de demonstração, deverão ser entregues relatórios com dados sobre consumo, autonomia, tempo de recarga, índices de falhas, quilometragem e custos de manutenção.
O chamamento insere-se no contexto da lei municipal que prevê a substituição total da frota até 2040, com exigência de veículos de emissão zero nas novas concessões já a partir de 2025. A medida é vista como passo fundamental para fundamentar decisões de política pública, subsidiando parâmetros técnicos e operacionais para futuras licitações. Relembre:
Prefeitura do Rio abre edital para testar ônibus elétricos com infraestrutura própria de recarga
Biometano dá os primeiros passos no rodoviário
No transporte rodoviário, o destaque recente é a Viação Santa Cruz, que inaugurou em 1º de setembro a primeira linha intermunicipal movida a gás natural, entre São Paulo e Campinas. Os veículos, fornecidos pela Scania, estão aptos a operar também com biometano, combustível que pode reduzir em até 90% as emissões de CO₂ em comparação ao diesel.
Segundo a fabricante, a operação a gás gera ainda custo operacional até 33% menor. A iniciativa conta com parceria da Comgás e é vista como um passo inicial para a diversificação energética no segmento de longa distância, historicamente dependente do diesel. Relembre:
Ônibus rodoviário a biometano Scania estreia viagem pela Santa Cruz e Governo de SP até dia 8 consulta para certificado do combustível
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes