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a nova fronteira de receita no transporte rodoviário


A chave para a rentabilidade foi transferida do assento para o bagageiro

Explosão do e-commerce e o novo marco regulatório reposicionam o bagageiro como ativo estratégico para as viações

ALEXANDRE PELEGI

“O bagageiro é o novo passageiro.”

A frase do advogado e especialista em regulação de transportes, Ilo Löbel da Luz, resume uma transformação em curso no setor rodoviário de passageiros. Para ele, “vender apenas a passagem já não paga a conta. Em um mercado redefinido por um usuário focado em custo-benefício e viagens mais curtas, a chave para a rentabilidade foi transferida do assento para o bagageiro.”

A análise parte de um contexto mais amplo: a mudança no perfil de consumo e a explosão do comércio eletrônico. “O ônibus deixou de ser apenas um veículo de transporte de pessoas para se tornar um hub logístico em movimento”, afirma Ilo. “A descentralização do consumo e a demanda massiva por entregas rápidas criaram uma oportunidade que já encontra no setor de transporte rodoviário a solução ideal.”

Segundo ele, as empresas de ônibus detêm vantagens competitivas que os operadores logísticos tradicionais levariam anos para alcançar: “Estamos falando de uma malha de rotas consolidada, frequência diária e capilaridade. Isso coloca o setor em posição privilegiada para dominar a chamada última milha intermunicipal.”

Mas o verdadeiro divisor de águas, lembra o advogado, veio com a mudança regulatória. “A grande virada é que essa oportunidade latente agora encontra respaldo normativo. A Resolução ANTT nº 6.033/2023 concede às transportadoras autonomia para definir suas próprias regras de despacho de volumes. Isso eleva o bagageiro de um detalhe operacional para o centro da estratégia comercial.”

Essa liberdade, explica, abre espaço para uma gestão mais inteligente do compartimento inferior dos ônibus: “Não se trata apenas de organizar melhor o espaço, mas de precificá-lo. É separar a bagagem do passageiro da carga comercial, criando uma nova linha de receita.”

Hoje, segundo estimativas do setor, as encomendas representam cerca de 11% do faturamento das viações. Ilo é enfático ao defender a expansão desse número: “O objetivo deve ser transformar cada viagem, cada rota e cada centímetro cúbico do bagageiro em uma operação logística de alto valor. Enquanto o passageiro viaja na poltrona, uma nova fonte de receita pode e deve viajar no compartimento inferior.”

Exemplos que já saíram na frente

Algumas viações tradicionais perceberam cedo essa oportunidade e estruturaram operações logísticas próprias. A Gontijo, com quase 80 anos de história, mantém a Gontijo Encomendas, serviço que cobre grande parte do território nacional e integra as viagens de passageiros a uma rede de entrega rápida.

A Cometa, do Grupo JCA, também consolidou o serviço de encomendas expresso, que conecta cidades do Sudeste e se apoia na mesma capilaridade da operação de transporte de passageiros.

A Águia Branca, com atuação em 700 localidades, opera com uma divisão dedicada, a Encomendas Águia Branca, que já responde por uma fatia significativa de sua receita.

Outras empresas como a Viação Garcia-Brasil Sul, Catarinense e Expresso do Sul, dentre outras, também estruturaram braços logísticos, apostando no diferencial de velocidade das entregas entre cidades médias, muitas vezes fora do radar dos grandes players do setor de e-commerce.

A agenda do futuro

Para Ilo Löbel da Luz, a convergência entre transporte de passageiros e logística está apenas no início: “A tarifa, sozinha, não vai sustentar o setor. A sobrevivência passa por enxergar o ônibus como plataforma multimodal: transporte de pessoas, mas também de mercadorias.

Nesse cenário, a integração tecnológica é o próximo passo. Sistemas de rastreamento, aplicativos de despacho e parcerias com marketplaces e transportadoras já estão na pauta das viações. A tendência, segundo especialistas, é que cada viagem se transforme em um corredor logístico dinâmico, com capacidade de atender não só passageiros, mas também consumidores digitais que esperam suas encomendas em poucas horas.

“O setor de transporte rodoviário tem em mãos a malha, a frequência e agora a autorização regulatória. O que falta é visão estratégica para transformar o bagageiro em centro de resultado. Essa é a nova agenda do transporte rodoviário no Brasil”, conclui Ilo.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes



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