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“Transporte público precisa ser acessível e digno ao mesmo tempo”, diz subsecretário de Goiás


Miguel Angelo Pricinote defende que subsídio e qualidade não podem ser tratados como escolhas excludentes, mas como dimensões complementares

ALEXANDRE PELEGI

O debate sobre os rumos do transporte público no Brasil costuma girar em torno de uma escolha: reduzir tarifas via subsídios para ampliar o acesso ou investir em qualidade para oferecer um serviço digno? Para o subsecretário de Políticas para Cidades e Transporte do Governo de Goiás, Miguel Angelo Pricinote, essa divisão é falsa. Em entrevista ao Diário do Transporte, ele defendeu que acessibilidade e qualidade não são opções excludentes, mas dimensões que só têm sentido quando integradas.

Entrevista

Diário do Transporte (Alexandre Pelegi): O debate sobre o futuro do transporte público no Brasil muitas vezes se resume a uma dicotomia: garantir subsídios para manter o acesso ou investir em qualidade para dar dignidade ao serviço. Como você enxerga essa questão?

Miguel Angelo Pricinote: Esse é um dilema central. Mas, na minha visão, não se trata de escolher um lado. Acessibilidade e qualidade são facetas interdependentes. Precisamos de planejamento estratégico que caminhe nas duas direções ao mesmo tempo. Afinal, de que adianta termos um transporte barato, mas precário, ou um sistema exemplar, mas inacessível para a população de baixa e média renda?

 

Diário do Transporte: O peso da tarifa sobre o orçamento familiar é um tema recorrente. O que você tem observado no caso de Goiás?

Miguel Angelo Pricinote: É inegável o impacto social e econômico de tornar o transporte mais acessível. O transporte não é uma mercadoria qualquer: é um direito social que garante acesso a outros direitos fundamentais, como trabalho, saúde e educação. Aqui em Goiás, temos a Rede Metropolitana de Transporte Coletivo (RMTC) de Goiânia, que só se sustenta com subsídios do Estado e das prefeituras. E temos casos ainda mais ousados: Luziânia e Formosa implementaram tarifa zero. Os primeiros relatos mostram não apenas um alívio imediato para as famílias mais vulneráveis, mas também um aquecimento no comércio local. Isso evidencia como a redução da barreira do preço transforma realidades.

 

Diário do Transporte: Mas quando olhamos para outras regiões, especialmente no entorno do Distrito Federal, a percepção é de que a qualidade ainda está muito aquém. Como conciliar as duas dimensões?

Miguel Angelo Pricinote: De fato, o entorno do DF é um exemplo doloroso. Mais de um milhão de brasileiros enfrentam ônibus superlotados, mal-conservados e tarifas altas. Isso é uma rotina desumana. Subsidiar um serviço assim não resolve. É preciso atacar o problema da governança. A não implementação do consórcio interfederativo (SIRM), que poderia organizar esse sistema, mostra como a ausência de gestão coordenada entre União, estados e municípios mina qualquer esforço. Sem estrutura de gestão clara, qualquer recurso, seja para subsídio ou para frota, se pulveriza.

 

Diário do Transporte: Recentemente, voltou ao debate nacional a ideia de tarifa zero apenas aos domingos. Como você avalia medidas dessa natureza?

Miguel Angelo Pricinote: São medidas de apelo popular, mas não respondem à necessidade real. Quem depende do transporte para trabalhar precisa dele de segunda a sexta, não apenas no lazer de domingo. Políticas assim não resolvem o problema estrutural.

 

Diário do Transporte: Então, qual seria a equação correta?

Miguel Angelo Pricinote: O caminho está na integração. O subsídio é a porta de entrada, pois atrai mais passageiros. E, quanto mais gente usa o sistema, mais vozes se levantam cobrando melhorias: mais ônibus, cumprimento de horários, terminais seguros. O subsídio pode ser o catalisador de um círculo virtuoso. Mas só funciona se houver compromisso com a qualidade e governança eficiente. Recursos precisam ser usados com transparência e acompanhados de investimentos em planejamento urbano que priorizem o transporte coletivo, com mais frota nos horários de pico e gestão atenta às demandas dos usuários.

 

Diário do Transporte: E como Goiás tem buscado esse equilíbrio?

Miguel Angelo Pricinote: Aqui trabalhamos para combinar coragem e responsabilidade. A coragem de implementar subsídios, reconhecendo que eles são necessários, e a responsabilidade de aprimorar a gestão e a qualidade do serviço. Não há soluções mágicas, o desafio é complexo. Mas temos a obrigação de colocar as pessoas, sua dignidade e seu tempo no centro das decisões. O transporte público precisa ser entendido como vetor de inclusão social e desenvolvimento das cidades.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes



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