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O ônibus articulado rodoviário Scania B111 da Sulamericana – conversamos com o empresário que aceitou o desafio


Tadeu Silva ainda conta que nos Paradiso G4 havia os primeiros videocassetes em ônibus; para ter acesso à programação, o empresário bateu à porta da TV Globo, no Rio de Janeiro

ADAMO BAZANI / VINÍCIUS DE OLIVEIRA

Quem pesquisa a história dos transportes certamente vai se lembrar de algumas fotos antigas de um ônibus articulado rodoviário, Scania modelo B111, com carroceria Nielson, da Empresa Sulamericana, de Santa Catarina (SC).

O modelo foi uma opção do empresário visionário para a época, Tadeu Silva.

Se o destino e o acaso pregam peças, às vezes dão presentes também.

Foi o que ocorreu com este repórter apaixonado pela história dos transportes.

Era quase final do evento Fretamento 2025, em Foz do Iguaçu (PR), realizado pela Fresp e ANTTUR.

Este repórter estava conversando com o responsável pela viabilização do evento, Marcelo Fontana, da OTM, que também tem muita história para contar, quando um homem educado e distinto se aproximou para cumprimentar Fontana pelo pioneirismo de eventos e publicações voltadas ao setor de ônibus.

Quando fui apresentado, este senhor também me reconheceu.

O bate papo rolou solto com o empresário Tadeu Silva até que surgiu o assunto de conservação das rodovias e ele disse que um modelo de ônibus inovador para os anos 1980 estava fazendo sucesso entre os passageiros, mas teve de ser descontinuado porque as condições da rodovia entre Curitiba e Foz de Iguaçu haviam piorado.

Na verdade eram dois ônibus, que começaram a fazer tanto sucesso que havia fila de espera entre os passageiros para viajar, mesmo com cada gigante desse transportando 60 pessoas.

Enquanto empresas como Viação Garcia e Viação Catarinense na mesma época operavam com Volvo articulado rodoviário, a Sulamericana, com cerca de 100 ônibus só tinha Scania.

Os veículos rodavam macios e até era oferecida Coca-Cola para quem viajasse na parte posterior à articulação.

A operação foi até 1984, mas a rodovia estava piorando muito em relação à conservação e os veículos tiveram de ser descontinuados.

Mas na sequência, veio outra inovação. A Sulamericana comprava em 1984 os primeiros Volvo da frota. A carroceria era Marcopolo Paradiso, ainda da Geração 4, que inaugurou o estilo “Low Driver” no mercado brasileiro, pelo qual o salão dos passageiros ficava acima do nível do motorista. O modelo estreou pela Sulamericana na linha Curitiba-Cascavel.

A inovação não parava aí. Os coletivos eram leito total e tinham um diferencial, além de ar-condicionado que também não era comum para a época, contavam com a instalação de aparelhos de videocassete.

Para buscar a programação ideal, já que as legendas dos filmes internacionais eram quase minúsculas e ainda não tinha muito filme dublado, Tadeu Silva teve a ideia de bater à porta da TV Globo. Todo mundo queria ver a Plim-Plim.

O empresário foi ao Rio de Janeiro, sede da emissora, e o máximo que conseguiu foram gravações piloto do programa Vídeo Show, que mostrava os bastidores da TV. Ainda não tinha ido para o ar o programa.

Meses depois, o Vídeo Show no ar da televisão e os videocassetes eram sucesso de público e crítica.

No evento, Tadeu Silva disse que se sentiu maravilhado com as inovações de tecnologia e modelos de ônibus apresentados, mas lamenta que no Brasil, algumas rodovias estão ainda no mesmo estado que inviabilizaram a continuação dos articulados rodoviários.

Leia a entrevista na íntegra abaixo:

ADAMO BAZANI: O segmento de transportes e passageiros tem pérolas na história, que mostram luta, dedicação e, acima de tudo, buscar o melhor. Para oferecer para o passageiro, que tem que ser sim visto como cliente, isso não pode ser só uma frase, e, ao mesmo tempo, buscar rentabilidade, buscar soluções de negócios. Muita gente na internet, que gosta de ônibus, vai lembrar dos ônibus Nielson, articulado, diplomata. Tadeu Silva, ele foi pioneiro a utilizar um ônibus desse, só que Scania, é isso?

TADEU SILVA: Isso, em 1980, nós tivemos um lançamento do ônibus articulado, fazendo Curitiba-Foz do Iguaçu, que eram 640 quilômetros, e isto era feito em 9 horas e meia, 10 horas, e tinham 60 lugares. A gente tinha alguma dúvida na questão da articulação, se o passageiro não ficaria com dificuldade na segunda parte do ônibus, mas daí a gente colocou uma invenção de uma Coca-Cola dentro do ônibus, e esse ônibus, nos quatro anos que ele fez essa linha, ele teve uma ocupação acima de 95%.

ADAMO BAZANI: Pela Empresa Sul-americana?

TADEU SILVA: Isso mesmo, que hoje não existe mais, e a linha é da Viação Catarinense.

ADAMO BAZANI: Então, os passageiros, eles tinham a ocupação que eles queriam nesse ônibus, era uma unidade só?

TADEU SILVA: Era uma unidade que ia e uma unidade que voltava.

ADAMO BAZANI: Eram dois ônibus?

TADEU SILVA: Eram dois ônibus, de linha longa era a maior linha que existia no ônibus articulado.

ADAMO BAZANI: Então ele não ficava pulando atrás?

TADEU SILVA: Apesar da dificuldade da estrada, que tinha um trecho da estrada do Paraná que era muito ruim na época, perto da cidade de Irati, mesmo assim, ele não tinha maiores problemas. Tanto é que fez sucesso e durou quatro anos. De 1980 a 1984, quando esses dois ônibus foram vendidos, a empresa era 100% Scania, juntamente com a Cometa era 100%, só que a Cometa tinha mil ônibus e nós tínhamos 100. E nós compramos os primeiros três veículos Volvo, que a fábrica estava lá na nossa cidade de Curitiba.

ADAMO BAZANI: Mas não o articulado?

TADEU SILVA: Não, o articulado, a partir daquele momento a estrada foi piorando. Daí nós vamos para a questão de invenção, que eu estava conversando consigo antes, de colocarmos, daí surgiu a questão fortemente do ar-condicionado, mas também a questão do videocassete que estava entrando, e a gente colocou o vídeo para ônibus diurnos. E já no geração quatro, hoje está na geração oito a Marcopolo. Foi o primeiro da geração quatro fazendo a linha Curitiba-Cascavel de ônibus leito.

ADAMO BAZANI: Você bateu na porta da Globo, é isso?

TADEU SILVA: Eu bati na porta da Globo, ali era em Botafogo. Eu era um jovem assanhado. Eu bati a porta e disse ‘eu quero uma programação da Globo para colocar no ônibus’. Era a primeira, de linha regular, não era ônibus de turismo. E eles simplesmente me disseram, ‘olha nós temos um boneco do Vídeo Show aqui’, que estavam tentando iniciar o Vídeo Show, e eu disse ‘eu quero’, e me cobraram, era ORTN. Depois o Plano Funaro, aquelas coisas todas. E a gente acabou colocando por um ano. Todo mundo gostava, porque o videocassete, os filmes eram em inglês. E depois quando veio a parte legendada, era muito pequeno para a pessoa enxergar. Então o Vídeo Show era português. Então todo mundo ouvia, fez um sucesso. Só que na hora que destravou, você sabe que de 80 até o Plano Real, nós vivemos de plano em plano. Quando destrava a ORTN para a OTN, isto aumentou quase 100% o preço.

ADAMO BAZANI: Obrigações pelo tesouro nacional.

TADEU SILVA: Exatamente, a gente não podia mais comprar da Rede Globo, mas fomos os precursores aí.

ADAMO BAZANI: Terminando em cinco minutinhos nossa entrevista. Hoje você atua em?

TADEU SILVA: Hoje eu sou executivo da Federação das Empresas do Paraná e Santa Catarina, cujo presidente é o Felipe Gulin. E trabalho no Rodopar, que é o sindicato das empresas de ônibus do estado do Paraná, cujo presidente é o Alexandre Gulin. Então eu tenho 45 anos de analogia, de analógico. Então eu trago toda essa história até o tecnológico transformar a minha conversa, que eu só perco para os dinossauros.

ADAMO BAZANI: Perfeito, muito obrigado por esse bate-papo.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Vinícius de Oliveira, para o Diário do Transporte



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