Publicado em: 27 de outubro de 2025

Novidades vão ser detalhadas no Arena ANTP, evento que ocorre entre os dias 28 e 30 em São Paulo; empresa diz que quer ressaltar a força da indústria nacional na eletromobilidade e Brasil deve se tornar exportador de ônibus e tecnologia
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
A Eletra, de São Bernardo do Campo (SP), anuncia ao mercado, em primeira mão ao Diário do Transporte, uma série de novidades para o mercado de ônibus elétricos, entre as quais, o lançamento oficial de sua linha de chassis com marca própria, serviços de consultoria considerados inéditos no País com a marca EletraConsult e, juntamente com a empresa WEG, também de capital nacional, uma nova geração de baterias que deve ampliar o aproveitamento energético, e, consequentemente, a autonomia e a vida útil das baterias, questão hoje que é considerada um desafio para que a chamada eletromobilidade avance mais rapidamente nas cidades brasileiras.
Todas as novidades serão apresentadas com detalhes no Arena ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), evento sobre mobilidade que ocorre entre os dias 28 e 30 de outubro de 2025, no Transamérica Expo Center, localizado na Avenida Doutor Mário Vilas Boas Rodrigues, 387, em Santo Amaro, São Paulo (SP).
A diretora-presidente da Eletra, Milena Braga Romano, disse ao Diário do Transporte que estas novidades colocam não somente a empresa, mas o Brasil como um todo, numa nova posição no mercado de ônibus elétricos em nível global, uma vez que a linha de chassis é a primeira criada por uma fabricante com origem e capital nacional integralmente e que o serviço de consultoria EletraConsult, ao desenvolver sistemas de eletrificação juntamente com operadores privados e gestores públicos de transportes, abrangendo desde a análise das primeiras obras civis necessárias nas garagens e terminais até o pós-venda, cria um acervo de conhecimento tecnológico que atualmente é considerado mais importante até que produtos em si.
“Apesar de todas as padronizações necessárias, não nos limitamos a vender produtos de prateleira. Também não nos limitamos em oferecer soluções, mas a desenvolver soluções. Temos origem em um grupo operador que atua nos transportes há 115. Sabemos o que é colocar um ônibus nas ruas, das dores e necessidades de quem opera, de quem gerencia e, principalmente, de quem utiliza os transportes coletivos. Por isso, não temos a menor dificuldade em dizer que com a linha de chassis Eletra e o serviço EletraConsult, que estuda e desenvolve desde o início todo o ecossistema de eletrificação, o Brasil entra numa nova fase dos transportes limpos. Era justamente o que o mercado precisava: a ampliação do acesso e a capacitação para eletrificar de maneira sustentável, inclusive economicamente, sistemas de transportes coletivos sobre pneus” – disse ao Diário do Transporte, a presidente da Eletra, Milena Braga Romano, resumindo os principais lançamentos no evento.
O Diário do Transporte esteve a convite da Mercedes-Benz do Brasil no início do mês de outubro na Busworld 2025, o maior evento de ônibus do mundo, realizado em Bruxelas, na Bélgica. A reportagem constatou que as dúvidas e dificuldades sobre eletrificação dos transportes coletivos não deixam de ser as mesmas do Brasil, guardadas as proporções e o fato de por lá os processos já estarem mais avançados. Além de novos modelos de ônibus, o evento teve como duas principais tônicas, que mostram a tendência mundial de eletromobilidade: a busca pelo desenvolvimento de baterias mais eficientes com maiores níveis de autonomia e ocupando menos espaço nas carrocerias e chassis e, ainda mais evidente no evento, as principais fabricantes de veículos estão criando com fornecedores de equipamentos, baterias, energia e até empreiteiras parcerias para o estudo e implantação de sistemas de ônibus elétricos, elaborando até mesmo a modelagem das garagens.
Para Milena, agora oferecendo uma linha de chassis com origem nacional e com o trabalho de consultoria, o Brasil tem mais potencial ainda em se tornar exportador de ônibus elétricos.
“Todos estes lançamentos demonstram a força da indústria genuinamente nacional, como é a Eletra, no desenvolvimento e produção de veículos e soluções de qualidade e que atendem de fato às necessidades de implantação e de operação no País, que é gigante, e possui realidades diferentes entre as regiões. Aliás, muitas vezes, dentro de uma mesma região, possui diversas realidades. Toda essa flexibilidade e qualidade coloca o Brasil na rota do desenvolvimento com grande potencial em ser exportador de ônibus elétricos e de tecnologia” – explicou.
CHASSIS ELETRA:
Anunciada ainda em 2024, como mostrou o Diário do Transporte na ocasião, a Eletra passa a disponibilizar uma linha de chassis de ônibus elétricos com a marca própria.
Relembre:
Eletra lança neste ano chassis de marca própria para o mercado de ônibus elétricos
Agora, segundo a empresa, a meta se tornou realidade.
Os novos chassis com a marca Eletra contemplam os principais segmentos dos transportes coletivos no Brasil e América Latina, desde midiônibus com 11,5m, passando pelos básicos (12m) e padrons (12m a 13m), até os superarticulados (20m a 23m) de alta capacidade de atendimento que, apesar das dimensões elevadas, são de fácil manobra devido ao eixo direcional traseiro que também esterça.
No caso dos modelos midiônibus, básicos e padrons, a aplicação é tanto para linhas alimentadoras de corredores de ônibus de grande carregamento ou de sistemas metroferroviários, como também para linhas principais e troncais.
Já os superarticulados, por terem os eixos traseiros direcionais e configurações entre 20m e 23m, são indicados tanto para corredores exclusivos (simples e BRTs – Bus Rapid Transit), como em trajetos fora de corredores, em ruas e avenidas de trânsito comum. Além disso, essa flexibilidade permite com que as operações sejam compatíveis com diferentes estruturas e portes de terminais de ônibus e estações de integração e transferência de linhas.
Todos os chassis são de piso baixo e a autonomia pode variar entre 250 km e 350 km, dependo das condições de operação.
De acordo ainda com Milena, a plataforma do chassi pela Mercedes Benz, que é parceira já da marca.
“Essa parceria garante a robustez de uma modelo já testado e aprovado no sistema de transporte no país. Eletrificamos com tecnologia Eletra a mesma plataforma do modelo à diesel, sem motor e câmbio” – explica.
Os veículos têm cerca de 95% de nacionalização, são credenciados no BNDES e Finame, com acesso às principais linhas de financiamento verde disponíveis no país, segundo a Eletra, que ainda garante que o pós-venda apresenta a assistência técnica personalizada e com atendimento rápido.
Com isso, a Eletra diz que firma uma nova posição no mercado como fabricante de ônibus elétrico, mas de acordo com Milena Braga Romano, a novidade não se representa apenas nisso porque amplia o acesso das empresas de transportes, gestores públicos e mercado em geral para a eletrificação e pode consolidar o Brasil como referência e exportador deste tipo de veículo.
“Além de serem mais modelos de ônibus elétricos que o País passa a contar, amplia o acesso do mercado como um todo à eletrificação porque todos os nossos modelos já atendem plenamente às condições de financiamentos mais vantajosos, como por linhas do BNDES. O nível de nacionalização dos produtos fiou maior ainda e o Brasil agora se torna um produtor der ônibus elétricos com uma empresa genuinamente nacional, com origem, capital e gestão brasileiras. Desta forma, pode entrar na rota internacional dos transportes coletivos limpos e se tornar referência e exportador” – afirmou.
As atuais parcerias que a Eletra possui com fabricantes de chassis, como a Mercedes-Benz e a Scania continuam, mas, de acordo com a empresa, a nova linha passa a ser mais uma opção de modelos de ônibus e abre também novas possibilidades com linhas de financiamento.
São diversas diferenças entre as duas modelagens, entre a marca própria Eletra e a parceria.
“Como as duas opções continuam paralelamente, cabe ao operador e gestor escolher qual melhor modelagem que atenda suas necessidades” – explica.
Entre as diferenças principais estão que, devido ao índice de nacionalização ainda maior, com o chassi Eletra é possível ter mais acesso a linhas públicas de financiamento com taxas de juros e carência vantajosas; o faturamento do veículo se dá diretamente pela Eletra e, do ponto de vista do processo produtivo, o chassi agora está primeiro na Eletra, é eletrificado e só depois vai para a encarroçadora, saindo pronto de lá.
Assim, a fabricação tende a ser mais rápida, pelo fato da logística ser mais eficiente (é uma “perna” a menos nas viagens logísticas” para o produto final).
O custo total do ônibus tende a cair também.
CONSULTORIA E CONCEPÇÃO DE SISTEMAS DE ÔNIBUS ELÉTRICOS: ELETRACONSULT
São muitas as dúvidas ainda quanto a eletrificação das frotas de ônibus por todo o País que partem de diversos atores fundamentais na mobilidade, como as empresas de transportes e os gestores públicos, sejam municipais, estaduais e até mesmo federais.
As questões são as mais diversas e vão desde os modelos de ônibus mais adequados para cada operação, infraestrutura nas garagens e redes de distribuição antes da compra e até formas mais adequadas de financiamentos. São fatores que mudam muito de uma cidade para outra, ou mesmo numa mesma cidade entre diferentes linhas e numa mesma garagem.
Milena Braga Romano diz que o serviço EletraConsult, outro destaque da marca no Arena ANTP, nasce com o objetivo de facilitar todo o processo de eletrificação de sistemas de transportes coletivos, indo além do simples fato de vender ônibus.
Milena garante que os trabalhos do EletraConsult não se tratam de ações de vendas, mas realmente de apoio para todas as cadeias envolvidas na mobilidade.
“A Eletra tem mais de 30 anos atuando na produção e desenvolvimento de ônibus com tração elétrica. Somos uma empresa totalmente nacional e nascemos de um grupo operador de transportes com 115 anos de história. Então, sabemos e vivemos de perto da realidade em todas as pontas, fabricação e operação, além de atuarmos com a gestão pública. A Eletra é muito mais que fabricante de ônibus, somos desenvolvedores de soluções de mobilidade elétrica”, disse Milena.
O serviço EletraConsult contempla todas as etapas necessárias para a descarbonização dos transportes coletivos, bem antes mesmo da aquisição dos ônibus, de acordo com a empresária.
“É uma via de várias mãos. A escolha do modelo de ônibus depende da infraestrutura e a infraestrutura é definida de acordo com as necessidades operacionais dos serviços, ou seja, do modelo de ônibus. Não tem como escolher o tipo de ônibus sem o dimensionamento exato do que é possível implantar em termos de carregadores, subestações, rede de distribuição pública e espaço físico. Mas transporte se faz nas ruas. Então, também não tem como escolher a infraestrutura necessária sem ter noção da frota mais adequada para cada tipo de operação e de linha. Um nasce com o outro. Por isso, sentamos com o operador e com o gestor e criamos as soluções melhores” – disse.
Milena Braga Romano destaca um ponto que considera fundamental na eletrificação e que, para a Eletra, é possível devido às bases sólidas e tradição em operação nos transportes:
“A Eletra com seus parceiros, por meio do serviço EletraConsult, não oferece soluções simplesmente, mas desenvolve soluções. Há uma enorme diferença entre vender, oferecer e criar e desenvolver. Não empurramos jamais ao mercado produtos de prateleira.”
A empresária ainda destaca que o EletraConsult é muito mais que visitas prévias a eventuais compradores de ônibus ou assistência de pós-venda.
“Tem muita gente que faz umas visitas a eventuais clientes, ajuda a escolher um modelo de ônibus e carregadores, dá manutenção e chama isso de consultoria. Fazemos mais. São serviços que englobam todo o ecossistema da eletrificação o que passa sim pelo produto (veículo) e infraestrutura, mas não se limita a só isso. Podemos aproximar operadores, gestores públicos, fornecedores (inclusive de energia) e o mercado financeiro. Ajudamos até mesmo a escolher o melhor tipo de financiamento. Outro diferencial: não somos bancos. Assim, temos liberdade de indicar qualquer produto de financiamento e não empurrar um serviço financeiro anexo” – explica Milena.
SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS DE BATERIAS, MOTORES E INVERSORES
Em relação a tecnologia embarcada, a Eletra em parceira com a WEG, indústria também genuinamente brasileira, traz diversas novidades.
Um dos destaques é a nova célula de baterias, com mais capacidade energética, o que garante maiores autonomias e menores consumos de energia
Já novos motores e inversores permitem uma redução de peso de cerca de 350 kg e ampliação de 10 passageiros à capacidade total de transportes, dependendo da configuração de cada veículo.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Colaborou Vinícius de Oliveira


