Publicado em: 11 de novembro de 2025

As medidas, entretanto, não devem apenas mexer com o “bolso do transporte coletivo”.. *Redução de tarifas de ônibus, trens e metrôs, além de combate ao transporte clandestino também estão entre os caminhos*. Financiamentos para a descarbonização dos deslocamentos devem vir do carro e da moto, que precisam ser mais fiscalizados.
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
Um dos eventos de mobilidade mais importantes da Cop-30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025) ocorreu nesta terça-feira, 11 de novembro de 2025, em Belém (PA). Foi a divulgação do estudo completo da Coalizão dos Transportes, denominado “Como tornar o Setor de Transportes um Contribuidor Ativo para a redução das Emissões Brasileiras”.
Somente nesta terça-feira (11), a Coalizão, liderada pela CNT (Confederação Nacional do Transporte) ganhou mais 121 adesões.
A aliança promete reduzir em até 70% as emissões de gases do efeito estufa até 2050.
As conclusões do estudo parecem óbvias, mas conseguem refletir em números o quadro atual dos impactos ambientais, sociais e econômicos dos transportes, seja de cargas ou passageiros, e com isso, apontar medidas mais adequadas.
Enquanto os discursos e ações políticas midiáticas parecem focar nas emissões geradas pelos ônibus, obrigando trocas de tecnologias de frotas sem planejamento, os técnicos, professores e mestres em áreas como engenharia e meio ambiente, conseguiram quantificar uma realidade conhecida por quem estuda mobilidade: o “vilão da poluição” nas cidades é o transporte individual e não o ônibus, mas investimentos maiores em BRTs (Bus Rapid Transit) e em modelos com tecnologias alternativas ao diesel, como elétricos e a biometano, devem ser implantados e ampliados o quanto antes. Investimentos em ampliação e modernização de transportes metroferrovários e da mobilidade ativa (sem motor, como caminhadas e bicicleta) também são considerados “obrigatórios”.
Redução de tarifas de ônibus, trens e metrôs, além de combate ao transporte clandestino também estão entre os caminhos.
“As emissões relativas ao transporte individual motorizado são muito superiores às do transporte coletivo (127 gCO2 / pkm1 em carros vs 16 gCO2 / pkm em ônibus na cidade de São Paulo), o que reforça que a expansão do transporte coletivo, preservando a inter e multimodalidade, é fundamental para a descarbonização do setor de transportes e para o alcance das emissões líquidas zero em mobilidade urbana” – diz parte da conclusão.
As medidas, entretanto, não devem apenas mexer com o “bolso do transporte coletivo”. Pelo contrário. Financiamentos para a descarbonização dos deslocamentos devem vir do carro e da moto, que precisam ser mais fiscalizados.
Uma das ações propostas é a inspeção veicular obrigatória para veículos, entre as “alavancas” para a descarbonização:
– Adoção de sistemas de inspeção veicular ambiental obrigatória: Implementar inspeções ambientais regulares para que veículos atendam aos padrões de emissões e segurança, garantindo o envolvimento não apenas da esfera federal, mas também da estadual;
– Intensificação de soluções que promovam emissões veiculares próximas do patamar zero: Implementar veículos menos emissores de GEE2 (ex.: elétricos, híbridos, movidos por rotas de hidrogênio de baixo carbono), considerando a capacidade produtiva local e o momento mais adequado para a implementação de cada solução;
– Conversão de motores de ônibus a diesel para gás (ex.: biometano): Adaptar motores existentes para que se tornem aptos ao uso de soluções gasosas menos poluentes como combustível (ex.: biometano).
– Intensificação do uso de biocombustíveis em ônibus urbanos: Substituir combustíveis fósseis por biocombustíveis menos poluentes, desde que sejam: i) constatada a viabilidade técnica, mecânica, operacional e laboratorial do referido insumo energético; ii) respeitada a diversidade de matrizes; e iii) respeitadas as especificidades regionais.
– Substituição da matriz atual com fortalecimento do transporte coletivo sustentável entre os diferentes modos (ex.: metrôs, VLTs, ônibus, BRTs) da mobilidade ativa (ex.: caminhada) e da micromobilidade (ex.: patinetes)
– Condução ecoeficiente e assistida: Agir sobre o comportamento dos motoristas de carros e ônibus para otimização do consumo de combustível (incluindo recursos como Inteligência Artificial);
– Investimento na melhoria da infraestrutura de transporte coletivo: Modernizar e realocar vias, estações e linhas para reduzir congestionamentos e melhorar a experiência dos passageiros;
– Otimização da rede de trens urbanos e VLTs: Expandir e melhorar linhas de trens urbanos e VLTs para maior cobertura e eficiência.
– Implementação de corredores exclusivos para ônibus: Adotar faixas exclusivas para ônibus/BRTs, reduzindo o tempo de viagem e aumentando a eficiência do transporte coletivo.
– Promoção da modicidade tarifária e de fontes alternativas de receita: Implementar tarifas acessíveis e sustentáveis, combinadas com outras fontes de arrecadação para financiamento do transporte coletivo (ex.: “cobrança por ganho de tempo”, outros).
– Criação de zonas de baixa emissão: Estabelecer áreas onde somente veículos de baixa emissão e/ ou transporte coletivo podem circular, levando em consideração as especificidades de cada região.
– Criação de políticas de restrição para circulação de veículos particulares: Limitar a circulação de veículos particulares em determinados dias ou horários para incentivar o uso de transporte coletivo e/ou da micromobilidade ativa.
– Fiscalização adequada e regras de desincentivo são necessárias para a implementação eficiente, impedindo, por exemplo, a compra de mais de um carro por um mesmo indivíduo.
– Implementação de políticas de gestão de estacionamentos: Adotar práticas de gestão de estacionamentos a fim de limitar a quantidade e o tamanho dos estabelecimentos e vagas disponíveis, fomentando a utilização de modos de transporte mais limpos.
– Promoção de soluções de micromobilidade: Investir e ter metas de implementação de infraestrutura cicloviária incluindo serviços de compartilhamento de patinetes elétricos e bicicletas, assim como Zonas 30 (Zonas de Tráfego Calmo).
– Promoção de soluções de mobilidade ativa (ex.: caminhadas): Investir em infraestrutura segura e acessível para estimular rotas peatonais próximas à infraestrutura cicloviária (ex.: ruas fechadas para automóveis em períodos de menor movimento, incentivando deslocamentos a pé).
– Criação de incentivos para intermodalidade: Investir na integração entre modos de transportes (ex.: integração entre ciclovias e terminais de metrô/ônibus, transportes coletivos com sistemas para carregamento interno de bicicletas, bicicletários seguros dentro de terminais de transporte coletivo).
– Combate ao transporte clandestino: Evitar o uso de meios de transporte ilegais, reduzindo os deslocamentos clandestinos e possibilitando a mudança dos mesmos para meios de transporte coletivos legalizados
Criada em 2024, a Coalizão propõe 90 ações para reduzir as emissões do transporte brasileiro, setor responsável por 11% das emissões nacionais — cerca de 260 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO₂) equivalente.
No evento, o presidente do Sistema Transporte, da CNT, Vander Costa, destacou que o estudo é plural, feito por entidades e técnicos de visões e formações diferentes, o que amplia a credibilidade do trabalho.
Vander Costa defendeu também a adoção do IPVA progressivo, em modelos semelhantes ao que ocorre em parte da Europa.
“Como representante das empresas do setor e de todos os modais, a CNT se vê na obrigação de liderar a transição energética do transporte. Porém, esse é um trabalho feito a muitas mãos”, afirmou o presidente do Sistema Transporte, Vander Costa, na abertura do painel. Em sua fala, ele destacou a importância do advento do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores), criado em 1986, como um marco para colocar o país no caminho da descarbonização.
“Para avançar, há a necessidade de políticas públicas de estímulo à mobilidade urbana em detrimento do uso do transporte individual”, ressaltou o dirigente. Segundo o presidente, essa diretriz precisa estar associada à renovação da frota. “É preciso tirar de circulação o veículo poluidor. Não adianta colocar ônibus elétricos se ônibus velhos continuarem circulando. Para isso, a solução é IPVA progressivo, como já é feito na Europa”, ressaltou. O dirigente reforçou que essas soluções têm impacto imediato, ao contrário da mudança da matriz, que demanda mais tempo.
O Diário do Transporte vai nesta semana a Belém (PA) a convite da Eletra que, apresenta na programação oficial, a primeira linha de chassis de ônibus elétricos de marca com origem 100% nacional, lançada no último mês, e o “case” *Eletra Consult*.
Segundo a companhia, trata-se de “um trabalho único na América Latina que, com parceiros, a Eletra desenvolve junto a operadores, gestores públicos e sociedade civil em geral, como academia e entidades de classe e técnicas, para orientação a respeito de todas as etapas da eletrificação de frotas, muito antes da compra dos ônibus, desde a escolha das obras civis e adequações mais indicadas nas garagens, infraestruturas de carregamento de baterias e redes de distribuição de energia, análise das opções de financiamento disponíveis no mercado para cada tipo de operador ou gestor, até a escolha do modelo de ônibus de acordo com a infraestrutura e demanda de passageiros e o pós-venda, com assistência técnica e treinamentos de motoristas e equipes de manutenção.”
Na “Estação do Desenvolvimento”, do Sistema Transporte, da CNT (Confederação Nacional do Transporte), na quinta-feira, 13 de novembro de 2025, a diretora-presidente da Eletra, Milena Romano, participa das 14h20 às 15h, do painel “Descarbonização nos modos de transporte”, que tem como objetivo compartilhar as soluções que tem contribuído para a redução de emissões em diversos modos de transporte, mapeando avanços tecnológicos e identificando sinergias entre os modos de transporte e potenciais ações integradas para a redução de emissões.
Veja a parte sobre mobilidade urbana
























Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes


