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Brasil vai ter a maior frota de ônibus elétricos da América Latina até dezembro de 2026 e São Paulo superou problemas


Informação é da diretora-presidente da Eletra, Milena Romano, ao repórter Adamo Bazani na COP30 em Belém (PA), que confirmou a entrega de mais de 650 ônibus da marca já comprados

ADAMO BAZANI / ARTHUR FERRARI / VINÍCIUS DE OLIVEIRA

Como a frota atual de 1.150 ônibus elétricos, sendo 1.009 deles apenas na cidade de São Paulo (SP), o Brasil hoje está na terceira posição de frota de ônibus elétricos na América Latina, considerando o Chile em primeiro lugar, e em seguida o México.

Entretanto, até dezembro de 2026, o Brasil deve liderar na América Latina no total de frota deste tipo de ônibus. Quem afirma é a diretora-presidente da Eletra Industrial, Milena Braga Romano, que foi uma das palestrantes do painel “Descarbonização nos Modos de Transporte” na Estação do Desenvolvimento, espaço do Sistema Transporte da CNT (Confederação Nacional do Transporte), na Green Zone (área de livre acesso) da COP30, a Conferência de Mudanças Climáticas da ONU (Organização das Nações Unidas).

De acordo com Milena, a cidade de São Paulo ainda será a protagonista no País. Somente na capital paulista no próximo ano, devem ser alcançados 2.000 ônibus elétricos. Como mostrou o Diário do Transporte, o ônibus número 1.000, inclusive da marca Eletra, foi entregue em outubro de 2025, em cerimônia do prefeito Ricardo Nunes.

Ainda de acordo com Milena, para a Eletra já foram encomendados 650 ônibus elétricos, a maioria para a cidade de São Paulo. No entanto, a empresa atende a outros sistemas, como o do BRT Metropolitano de Belém (PA), que começou a funcionar recentemente. O Diário do Transporte foi visitar a estrutura.

Relembre:

BRT Metropolitano de Belém: O legado da COP30 e da regulamentação que acabou com a exclusão

Na exposição, Milena disse que São Paulo pode ser considerada um exemplo, em especial pela restrição aos ônibus a diesel e o que considera de coragem para eletrificar a frota. Na entrevista, o repórter Adamo Bazani lembrou Milena dos entraves que a capital paulista sofreu, principalmente em relação a falta de infraestrutura, o que fez com que a prefeitura não alcançasse a meta de 2.600 ônibus elétricos prometida para dezembro de 2024.

Milena disse que os problemas foram superados, e que agora São Paulo terá um ritmo maior de eletrificação, o que deve impulsionar o País e outros sistemas nacionais.

A empresária destacou também a tecnologia BESS, que dá segurança as empresas em caso de blackout e apagão, e ainda contorna a falta de infraestrutura em alguns bairros, principalmente no carregamento em média e alta tensão, onde ainda não existe essa configuração, e falou sobre o E-Troll, modelo de ônibus que será aplicado no BRT ABC, corredor que vai ligar a capital paulista a região do ABC, que é flexível funcionando conectado a rede elétrica e desconectado a bateria.

Veja a entrevista na íntegra:

ADAMO BAZANI: O Diário do Transporte faz uma cobertura especial na COP30, que é a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas aqui em Belém do Pará. A gente está nesse momento na Green Zone, que é o espaço verde. São vários estandes, vários locais sobre diferentes temáticas relacionadas à sustentabilidade. E o Sistema Transporte da CNT, a Confederação Nacional do Transporte, tem um dos maiores espaços onde são discutidos projetos, iniciativas, exemplos para que a mobilidade, seja de carga, seja de pessoas urbanas, rodoviária metropolitana, seja cada vez mais sustentável. A gente teve aqui o painel Descarbonização do Sistema de Transportes, e uma das palestrantes, expositoras, foi a diretora-presidente da Eletra Industrial de São Bernardo do Campo, empresa que produz ônibus elétricos, mas não somente isso, ela faz consultorias para gestores públicos, para operadores privados, para como se implantar a frota de ônibus elétricos, e não somente isso, também acompanha depois essa implantação.

Milena, muito boa tarde, obrigado pela sua participação aqui no Dia do Transporte.

A gente acompanhou sua exposição, e para a gente até dinamizar essa conversa, a gente elencou alguns pontos importantes. Um deles é, você acredita que em dezembro de 2026, um pouquinho antes, um pouquinho depois, o Brasil vai se tornar a maior frota de ônibus elétricos da América Latina? Com base em que você fala isso?

MILENA BRAGA ROMANO: Com certeza, Adamo. Eu acho que nós demoramos para entrar na eletromobilidade, mas de um ano para cá nós evoluímos muito. Hoje o Brasil já está com 1.158 carros (ônibus) em operação, e só a Eletra, hoje a Eletra tem 62% do mercado nacional, é claro que é uma forte indústria dos ônibus elétricos, mas temos outros também, e nós temos, só de pedidos já registrados para entrega até abril, que seria primeiro semestre, 650 ônibus elétricos. A maioria é capital paulista.

Então isso nos deixa a certeza de que até dezembro nós ultrapassaremos, porque o ritmo do Brasil está muito rápido, principalmente a cidade de São Paulo, então acho que é um exemplo que precisa ser replicado para o resto do país, é o que o prefeito Ricardo Nunes fez, enfrentou, definiu que vai fazer essa transição da frota para elétrico, proibiu a entrada por lei de novos ônibus a diesel, ultrapassou as barreiras de infraestrutura, de recarga, de garagens, e hoje já bateu os mil primeiros ônibus da cidade de São Paulo.

ADAMO BAZANI: Agora você falou na sua apresentação que São Paulo pode ser considerado um exemplo, mas a gente acompanhou que São Paulo teve vários problemas. Infraestrutura, proibição do diesel em todos os sistemas, porque lá são três subsistemas em São Paulo: O local de distribuição são os micro-ônibus, os ônibus midis, das antigas cooperativas, tem articulação regional, e tem os estruturais, que são os ônibus maiores. Principalmente no local está tendo uma carência muito grande, a frota está envelhecendo. Como que você vê essas derrapadas, digamos assim, de São Paulo?

MILENA BRAGA ROMANO: Essas derrapadas foram derivadas da falta de infraestrutura e a falta de entrega da energia nas garagens pela Enel. Então, foi projetada uma entrega de ônibus, acho que a prefeitura se baseou numa questão de infraestrutura e de energia, disponibilidade de energia, que não aconteceu há dois anos atrás. Então, esses dois anos, a indústria patinou, os operadores patinaram, porque tudo isso deteriorou a frota, mas eu acho que agora, este ano nos demonstrou que tudo isso está superado. Então, as garagens já têm infraestrutura, as garagens já têm os parceiros que levam a energia, que constroem a infraestrutura necessária de recarga, os carregadores funcionando. Então, vários passos foram superados e hoje a energia e a infraestrutura não são mais problema. E nós temos uma indústria nacional, principalmente, que consegue entregar a demanda de troca necessária para a atualização dessa frota sucateada de São Paulo.

Eu acredito que com essas entregas deste ano, mais os pedidos que já foram feitos e os que estão por vir no segundo semestre, nós ultrapassaremos com facilidade os dois mil ônibus elétricos só na cidade de São Paulo.

MILENA BRAGA ROMANO: Com certeza, os BESS foi uma alternativa que foi buscada pela prefeitura de São Paulo para sair da dependência da distribuidora e hoje é uma realidade. Nós temos duas ou três garagens já com os BESS já instalados. São containers com grandes baterias de alta capacidade que carregam os ônibus a qualquer hora do dia e dependendo do tamanho do BESS há a possibilidade de recarga de mais de 30 veículos. E isso não só é importante, é uma solução, claro, provisória para a recarga, porque o mais correto é você ter os carregadores e a chegada da energia pela rede, que é mais barato. Mas, qual a segunda preocupação que nós, eu como indústria e como operadora que sou, tínhamos? Quando você tiver 50% dessa frota elétrica, se tem uma queda de energia, qual é o plano B que você tinha que ter? Hoje você tem. Então, é um grande gerador, ele vai ser utilizado também quando tiver falhas na energia ou quedas de energia, ele vai suportar o carregamento de 100% da frota das garagens.

O Troll é uma iniciativa da Eletra, uma novidade que a Eletra vai lançar. Já lançou, já temos o primeiro ônibus cabeça de série e ele é um carro que distribui a recarga no decorrer do período, então ele vai carregando e volta autônomo, mas para isso você tem que ter um corredor exclusivo e uma rede aérea, mas não é aquela rede que a gente está acostumada de trólebus, aqueles cabos que você tem que subir em cima do ônibus, colocar cabo, cai cabo, não. É uma coisa ultramoderna que já existe muito na Alemanha, na Europa e na China para grandes centros, que você recarrega em um trecho e anda autônomo no outro trecho. Em movimento, então é uma vantagem em termos financeiros porque você não precisa construir uma infraestrutura, você não precisa ter carregador, você recarrega, está sempre carregado o ônibus e ele vai carregando, volta autônomo. Então você também vai baratear o custo dessa energia porque você vai carregar o dia inteiro, durante todo o seu período de operação. Então você não concentra isso também no horário noturno, que você tem riscos também de concentrar muito, além de ser mais caro, você pode ter quedas de energia.

Então é um modelo inteligente, mais barato, o ônibus também tem um benefício. E você também tem a questão, se você quiser em meio percurso, só carregando, você aperta um botão e ele desce. Ele sobe a catenária, aperta o botão e ela desce. Então é uma coisa muito simples e eu acho que vai ser um sucesso no Brasil, principalmente para projetos de BRT com corredor exclusivo.

Para recarga de oportunidade, por exemplo, você aproveita janelas operacionais de almoço, de descanso do motorista e consegue ir no entrepico e consegue parar e carregar. Mas nesse caso não, ele carrega quando ele está carregando passageiro, em movimento.

MILENA BRAGA ROMANO: Por isso que nós criamos a Eletra Consult. Ela vem aí para oferecer a melhor tecnologia, do melhor tamanho, com a maior autonomia, conforme a necessidade da cidade, do cliente, de tudo, da capacidade de transporte, porque como eu disse, os e-trolls são mais leves, então eles aumentam a capacidade de passageiros dentro do veículo, porque você tem uma distribuição de peso melhor. Então tem várias vantagens. Então é a Eletra sempre criando e inovando com soluções criativas para atender melhor cada tipo de cliente.

Eu acho que agora é o momento mais importante que a gente passou nos últimos 50 anos de indústria, porque o Brasil, como foi citado no painel, perdeu muito. A indústria do Brasil praticamente acabou.

Perdeu competitividade, perdeu timing, perdeu mercado. E a China acabou engolindo Brasil, Europa. Então eu acho que agora, com essa mudança de tecnologia, é a grande chance do Brasil, principalmente no setor de ônibus, porque ônibus também, você sabe, há 25, 30 anos atrás, o Brasil liderava as vendas de ônibus na América Latina.

Hoje, nós perdemos o mercado para os chineses. Então hoje, se você for para o Chile, para o México, para a Colômbia, todos os ônibus são chineses. Todas as fabricantes hoje, parceiras da Eletra, são brasileiras. Então a WEG para os motores elétricos, as baterias são elétricas a caixa e encarroçadoras. E tem outras fabricantes também, Marcopolo, que produz no Brasil. As plataformas Mercedes, que também são brasileiras, a Scania.

Então eu acho que é uma grande oportunidade. O governo federal está vendo com bons olhos e querendo nos apoiar nessa nova chance de, como eles chamam, de neo-industrialização, que é uma reindustrialização do país.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes

Arthur Ferrari e Vinícius de Oliveira, para o Diário do Transporte



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