Publicado em: 17 de novembro de 2025

Diretor da Transdata e membro do Comitê Executivo da UITP relata ao Diário do Transporte como a “Cultura Metro” transformou mobilidade e relações sociais na cidade colombiana
ALEXANDRE PELEGI
A reunião anual da UITP América Latina, realizada agora em novembro, levou delegações de toda a região para Medellín, cidade colombiana que comemora 30 anos do seu Metro — hoje o eixo de um sistema multimodal que reúne metrô, VLT, teleféricos, BRT e ônibus sob a mesma operação. Após a visita técnica, o Diário do Transporte conversou com Rafael Teles, diretor de Produto da Transdata e integrante do Comitê Executivo da UITP, que compartilhou suas percepções de forma direta e observacional.
Ele lembra que esse encontro anual “já se tornou tradição dentro da UITP”, sempre sediado por uma cidade-membro com experiências concretas a apresentar. Depois de Curitiba, no aniversário dos 50 anos do BRT, Medellín surgiu como destino natural. Ao comentar o motivo, Rafael destaca que a capital antioquenha oferece um exemplo claro de como a mobilidade contribuiu para reorganizar um território. “O metrô de Medellín ainda é o único da Colômbia, mas se tornou o centro de um sistema integrado muito amplo. Isso ajudou a redefinir a dinâmica urbana do Vale do Aburrá”, afirma.
A conversa avança para o conceito de Cultura Metro, frequentemente citado, mas nem sempre compreendido fora da Colômbia. Ao ser questionado sobre o que efetivamente dá forma a essa cultura, Rafael diz que ela aparece no cotidiano, não em discursos. “A população cuida do sistema. A evasão é muito baixa e há pouquíssimos casos de vandalismo. As pessoas tratam o metrô como patrimônio coletivo.” Ele observa que isso não surgiu de maneira espontânea, mas resulta de um trabalho contínuo de anos envolvendo ações comunitárias e aproximação entre o sistema e os usuários.
Uma dessas ações chamou a atenção das delegações: a presença de psicólogos em algumas estações. Quando o Diário do Transporte pediu que explicasse melhor, Rafael descreveu a chamada “rede de escutadores”, criada para oferecer um espaço imediato de acolhimento. “A pessoa pode procurar o atendimento ali mesmo, sem burocracia. São até três sessões gratuitas. Se houver necessidade de continuidade, o caso é encaminhado para a rede pública.” Para ele, essa iniciativa revela uma ampliação clara do papel do transporte.
Também foram mencionadas as bibliotecas instaladas dentro das estações — algo que o Diário do Transporte pediu que ele detalhasse. Rafael explica que são espaços pequenos, adaptados aos ambientes possíveis, mas bastante utilizados. “Essas bibliotecas também funcionam como lan houses. Jovens estudam, leem, usam internet. A estação deixa de ser apenas local de passagem e se transforma em ponto de convivência.”
Ao final, ao ser provocado a sintetizar o que Medellín oferece como aprendizado para a região, Rafael afirma que a lição principal está no entendimento de que mobilidade não é apenas operação e infraestrutura.
“A integração física é importante, mas a integração cultural sustenta o sistema. Quando o transporte passa a fazer parte da identidade da cidade, tudo melhora: comportamento, convivência, manutenção, segurança. Medellín mostra que transporte público é também vínculo. E vínculo tem força para transformar cidades.”
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes


