Publicado em: 18 de novembro de 2025

Para fabricantes reunidos em associações como a UNICA e Anfavea, o mundo provou que não dá para cumprir as metas de redução de emissões se depender apenas da eletrificação, em especial em veículos pesados. Já fabricantes de ônibus elétricos dizem que Brasil pode se tornar exportador
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
Entidades e fabricantes ligadas aos setores de veículos e de biocombustíveis lançaram nesta semana, na COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025), a chamada Carta de Belém, pela qual propõem “um esforço internacional coordenado para quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035”
Liderado pela UNICA (União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia), entre as linhas gerais, o documento diz que que o mundo provou que não dá para cumprir as metas de redução de emissões se depender apenas da eletrificação, em especial em veículos pesados.
A Carta de Belém traz um diagnóstico direto: o mundo está atrasado na descarbonização da mobilidade e não cumprirá o Global Stocktake sem combinar eletrificação, combustíveis sustentáveis e novas rotas tecnológicas. O documento usa o caso brasileiro como evidência prática dessa convergência. Após cinco décadas de políticas como o Proálcool e o RenovaBio, o Brasil consolidou uma das matrizes energéticas mais limpas entre grandes economias, com 29% de bioenergia e 20% de outras fontes renováveis, e ampliou a oferta de bioeletricidade, que alcançou 21.000 GWh em 2024, o equivalente a 4% do consumo nacional, diz nota da associação de fabricantes.
A carta, além de exaltar o etanol, diz que as fontes de energia precisam se complementar e ressaltam os modelos híbridos com motores elétricos e a etanol.
Além disso, o documento ressalta que o biometano (combustível obtido na decomposição de resíduos) é amplamente disponível no Brasil, pode ser uma das soluções para reduzir as emissões, mas que não está ainda tendo o potencial aproveitado. Segundo as entidades, o biometano tem potencial para substituir 60% do consumo brasileiro de óleo diesel.
O etanol é uma solução madura e de baixa intensidade de carbono com potencial imediato de expansão, promovendo a restauração da terra e a adoção de práticas agrícolas sustentáveis para permitir a produção de biocombustíveis de baixo carbono sem comprometer a segurança alimentar. Juntamente com o biodiesel, o biogás e o biometano, essas fontes renováveis reforçam um caminho diversificado e confiável para a transição energética, contribuindo simultaneamente para a mitigação das mudanças climáticas, a segurança energética e o desenvolvimento no campo. Além das fronteiras nacionais, o etanol se destaca como um importante instrumento global para a mitigação das mudanças climáticas, especialmente quando combinado com tecnologias inovadoras, como veículos híbridos flexfuel, que integram propulsão por combustão interna e elétrica. Essa sinergia demonstra que os biocombustíveis e a eletrificação são complementares, oferecendo caminhos imediatos, escaláveis e econômicos para atingir as metas de redução de emissões. É possível recuperar uma produção significativa de biogás e biometano a partir de resíduos existentes e não utilizados no Brasil, especialmente do setor sucroalcooleiro e dos resíduos orgânicos municipais. Ele tem uma intensidade de carbono baixa ou negativa e tem potencial para produzir biometano em 120 milhões de Nm3/dia, o que poderia substituir 60% do consumo brasileiro de óleo diesel. O biometano liquefeito (BioLNG) também pode ajudar a reduzir as emissões no setor naval e, juntamente com a fermentação do etanol, fornecer CO2 biogênico para o setor de combustíveis sustentáveis.
Assinam o documento entidades como Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Associação Brasileira de Bioenergia (Bioenergia Brasil), Instituto Mobilidade de Baixo Carbono Brasil (Instituto MBCBrasil) e União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (UNICA), que conduziu a elaboração do documento.
ÔNIBUS ELÉTRICOS PODEM SER OPORTUNIDADES PARA O BRASIL SE DESTACAR COMO EXPORTADOR
Se os produtores de biocombustíveis e veículos que utilizam estas fontes de energia dizem que a eletrificação sozinha não daria conta das metas de redução de poluição por causa da falta de infraestrutura e capacidade limitada da produção de veículos elétricos, as fabricantes dos eletrificados dizem que são justamente nestes modelos que reside uma oportunidade de o Brasil entrar na rota da “neoindustrialização” e ganhar destaque mundial.
Inclusive, as plantas brasileiras podem se tornar exportadoras, em especial de ônibus elétricos para a América Latina.
Quem compartilha desta opinião, como mostrou o Diário do Transporte, é a presidente da Eletra Industrial, Milena Romano, durante um dos eventos oficiais da COP30 Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025, em Belém (PA), no painel “Descarbonização nos Modos de Transporte” na Estação do Desenvolvimento, espaço do Sistema Transporte da CNT (Confederação Nacional do Transporte), na Green Zone (área de livre acesso), no dia 13 de novembro.
“A alta flexibilidade dos modelos nacionais de ônibus elétricos e o conhecimento em operar em diferentes características de linhas e cidades que capacitam o Brasil a atender qualquer País, em especial na América Latina. Não adianta vender ônibus de prateleira. É necessário ter um padrão unificado e técnico de segurança, design e engenharia, mas conseguir a partir deste padrão, adaptar os modelos de ônibus de acordo com cada uma destas realidades. A Eletra sabe que não basta oferecer soluções, é necessário desenvolver soluções. – disse Milena
Relembre:
Segundo Milena, o momento do Brasil na neoindustrialização é agora. No segmento de ônibus, os ônibus brasileiros, na “era do diesel” lideraram na América Latina, mas hoje, na fase da eletrificação, perdem cada vez mais espaço para os chineses.
Eu acho que agora é o momento mais importante que a gente passou nos últimos 50 anos de indústria, porque o Brasil, como foi citado no painel, perdeu muito. A indústria do Brasil perdeu competitividade, perdeu timing, perdeu mercado. E a China acabou engolindo Brasil, Europa. Então eu acho que agora, com essa mudança de tecnologia, é a grande chance do Brasil, principalmente no setor de ônibus, porque ônibus também, você sabe, há 25, 30 anos atrás, o Brasil liderava as vendas de ônibus na América Latina.
Hoje, nós perdemos o mercado para os chineses. Então hoje, se você for para o Chile, para o México, para a Colômbia, todos os ônibus são chineses. Todas as fabricantes hoje, parceiras da Eletra, são brasileiras. Então a WEG para os motores elétricos, as baterias são elétricas a caixa e encarroçadoras. E tem outras fabricantes também, Marcopolo, que produz no Brasil. As plataformas Mercedes, que também são brasileiras, a Scania. Então eu acho que é uma grande oportunidade. O governo federal está vendo com bons olhos e querendo nos apoiar nessa nova chance de, como eles chamam, de ne-industrialização, que é uma reindustrialização do país.
A Eletra Industrial é uma empresa 100% brasileira, pioneira no País em ônibus elétricos, que lidera o mercado nacional, respondendo por 62% de todos os mais de 1100 coletivos não poluentes movidos com baterias em circulação no Brasil. Além de fabricar ônibus elétricos na planta de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, por meio do serviço Eletra Consult, a Eletra é a única na América Latina a oferecer consultoria completa destinada a gestores públicos e operadores privados de transportes para a implantação de sistemas eletrificados, contemplando todas as etapas, desde a definição das obras mais indicadas nas garagens, escolha da infraestrutura de carregamento, análise das linhas de financiamento mais indicadas, indicação dos modelos de ônibus para cada operação e o chamado pós-venda, com o treinamento de motoristas, planos de manutenção e até as alternativas para a utilização e destinação de baterias ao fim da vida útil nos veículos.
O Diário do Transporte visitou a COP30 na última semana, a convite da Eletra.
VEJA O DOCUMENTO LIDERADO PELA UNICA:





Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes


