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Foi fantástico fazer essa cobertura, derrubando mitos e preconceitos


Infraestrutura, oportunidades para o Brasil no mundo, a esperança e a realidade de uma população, além de uma certeza: transportes pulsam, têm vida e são agentes transformadores, tudo isso foi possível conferir de perto. É fazer parte da história. A energia realmente é diferente

ADAMO BAZANI

A COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025) terminou neste sábado, 22 de novembro de 2025, com atraso de um dia, por causa do incêndio na área de autoridades na Blue Zone e dos impasses sobre a busca de um acordo, e, mesmo não alcançando todos os objetivos esperados por diversas correntes da sociedade, entre os quais, o “mapa do caminho” que preveria o fim do uso dos combustíveis fósseis, significou avanços e compromissos em prol de um presente e de um futuro melhores. Se as metas e acordos serão cumpridos pelos governos, aí é outra história e cabe à sociedade, no mundo todo, cobrar.

Entre os dias 12 e 16 de novembro, este repórter do Diário do Transporte teve a oportunidade de estar em Belém (PA), a convite da fabricante brasileira de ônibus elétricos e empresa de consultoria para implantação de serviços eletrificados, Eletra Industrial.

Foi possível acompanhar diversos painéis e debates relacionados à mobilidade urbana e transportes em geral, conversar com autoridades locais e nacionais, com fabricantes e, acima de tudo, ver de perto a realidade de um povo e as transformações econômicas e sociais, e, logicamente ambientais, que a modernização de sistemas de transportes pode proporcionar.

Acima de tudo, entretanto, o evento internacional serviu para derrubar mitos, acabar com preconceitos e constatar que nem tudo é 100% bom ou 100% ruim, mas que o bom senso e o olhar humano devem prevalecer sempre.

Como tem ocorrido em quase tudo neste Brasil, as visões se dão pelo lado da preferência política, partidária e ideológica. De um lado, uma corrente querendo desmerecer o evento, até com apelidinhos do tipo Flop30, se referindo a “Flopar”, uma gíria proveniente do inglês “flop”, que significa fracassar, falhar ou não ter sucesso. De outro lado, uma corrente exaltando o evento como se fosse a salvação do mundo e querendo se propagar.

Nem tanto ao mar, nem tanto à terra.

Estivemos lá, vimos de perto, sentimos o clima. É uma energia diferente. Realmente, é algo fora do comum. Mexe até com os músculos, arrepia, renova o espírito, esclarece, em vários sentidos.

Da mesma forma que sim houve muita hipocrisia, oportunismo, discursos vazios e gente até aproveitadora e má intencionada; deu para ver, conhecer e aprender com muita gente de valor, trabalhos sérios, compromisso com o bem comum.

Quanto ao chamado legado, na melhoria da vida da população local, a mesma coisa. Muitas intervenções foram de fachada, passageira, só para turista ver. Mas também foi possível perceber que obras e ações foram para ficar. A mentalidade e a consciência da população também tiveram mudanças e tudo começa por aí.

Um exemplo é o BRT Metropolitano de Belém. O sistema foi planejado há quase 30 anos e atribuir sua concretização à COP30, é um entusiasmo mentiroso. Porém, a aceleração da implantação, o financiamento e a adoção de tecnologias mais modernas e sustentáveis, como parte da frota de ônibus elétricos, se deu sim, graças a COP30.

Muito mais que transportes, o BRT permitiu acesso à vida digna. De sete cidades que servem, em três delas, a população vivia quase em um isolamento dos maiores recursos de acesso ao básico como saúde, educação, lazer, emprego e renda presentes na capital. Os deslocamentos eram demorados e caros, algo de até R$ 30 por sentido de viagem. Ou seja, proibitivo para as pessoas de menor renda. Com o BRT, ficaram bem menores os tempos de deslocamentos e por R$ 4,60 a população destas áreas menos providas de recursos passou a ter acesso ao que a capital oferece.

Além disso, o trecho da BR-316, por onde passa o corredor de ônibus, que foi considerado o mais letal do Brasil, recebeu obras como passagens subterrâneas e passarelas que, praticamente, zeraram os acidentes.

Sim, os transportes têm uma força transformadora.

Destaque também para os debates de altíssimo nível e dados relevantes que na Estação do Desenvolvimento, na Green Zone, área oficial de livre acesso, o Sistema Transporte, da CNT (Confederação Nacional do Transporte) promoveu. Serviu para mostrar ao mundo, à sociedade em geral, realidades que o setor de transportes sabe, como a que o ônibus não é o vilão da poluição e que, enquanto o País continuar a privilegiar os deslocamentos individuais motorizados, qualquer discurso em prol do meio ambiente é vazio e mentiroso. Oferecer eficiência aos ônibus, mesmo os movidos a diesel, já reduz e muito os impactos ambientais. O importante foi falar “fora da bolha” dos especialistas, mas para o público em geral. Aliás, quando o Diário do Transporte nasceu, ainda em 2006 como Blog Ponto de Ônibus, o objetivo foi e continuará sendo este. Falar fora do mundinho, do cercadinho “transporteiro”, mas para todos…..A identificação foi imediata com o que a CNT propôs na COP30.

Foi possível ver a força, a flexibilidade, a resistência e a capacitação da indústria nacional, dos técnicos, da academia, dos profissionais brasileiros.

Tecnologias passando pelos biocombustíveis, biometano (gás obtido da decomposição de resíduos) aos ônibus elétricos, podem fazer com que a agenda ambiental reflita em desenvolvimento econômico e social para o Brasil. Exemplo foi nossa própria anfitriã Eletra, que nasceu de um grupo operador de transportes e já, há 30 anos, quando parecia ser loucura falar de ônibus elétricos no Brasil, acreditava e investia e hoje, pode se tornar uma das grandes exportadoras com o orgulho da bandeira brasileira.

Eventos como estes são mudanças, transformações, muito mais que no Planeta, mas no Universo que é cada um de nós. Muitas vezes, uma mudança, mesmo que pontual e transitória, pode representar a tábua de salvação para muitos.

Dentre todas as falas, a que chamou mais a atenção deste repórter, nem ocorreu em painéis técnicos e entrevistas, mas no bate-papo que tive com um dos garçons de um dos hotéis onde nos hospedamos e que servia o café da manhã.

“Meu emprego aqui é temporário. Sei que depois disso tudo, posso perder o trabalho e tudo na cidade pode voltar ao normal. Mas sabe, minha família e eu, estávamos para ser despejados de casa. Graças a COP, paguei todas as dívidas e agora, estou com cabeça para seguir em frente. Também aprendi um ofício, conheci pessoas. Isso acho que tudo é uma semente.”

O Planeta foi salvo, pelo menos para a realidade deste jovem, que com pouca idade, revelava até que parecia mais velho, mas que viu naquele momento, o resgate que precisava.

É efêmero, é passageiro, mas foi emocionante.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes



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