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Passageiros de ônibus não podem continuar pagando desenvolvimento de carrão de luxo elétrico, diz especialista


De acordo com superintende da ANTP, Luiz Carlos Nespoli, distorção já ocorre e governos e o transporte individual devem assumir o custo do desenvolvimento industrial

ADAMO BAZANI

Colaborou Yuri Sena

A transição energética e de tecnologia dos transportes para alternativas menos poluentes aos combustíveis fósseis tradicionais não engloba apenas medidas ambientais, mas estratégias de investimentos que podem resultar em benefícios econômicos e sociais para Países em Desenvolvimento, como o Brasil, que contam com recursos naturais, como geração limpa de energia elétrica e produção farta de matéria-prima para biocombustíveis, com o processamento também do combustível de origem renovável em si.

Os ônibus têm sido grandes indutores deste desenvolvimento, ainda mais no contexto da eletrificação.

Muito antes de os carros elétricos serem mais comumente vistos e comercializados no Brasil, os ônibus elétricos, mesmo que timidamente, já eram realidade.

Entretanto, se ao mesmo tempo, é positivo que os coletivos puxem a fila da transição energética e tecnológica do parque fabril brasileiro, tem ocorrido uma distorção, semelhante à que já aconteceu com outros avanços na indústria ao longo da história: São os passageiros de ônibus que estão bancando tudo, inclusive avanços e modernizações, que resultam em investimentos maiores em linhas de produção, desenvolvimento de novos modelos ou estrutura de importação e distribuição de motos, caminhões e carros, inclusive de luxo, elétricos, híbridos ou de outras novas tecnologias.

Quem alerta é o Superintende da ANTP (Associação Nacional de Transporte Público), entidade que reúne especialistas de diferentes atuações e formações, Luiz Carlos Nespoli.

Para Nespoli, o problema reside na forma de financiamento do transporte coletivo no Brasil, majoritariamente pelas tarifas.

A análise foi feita ao repórter Adamo Bazani, em entrevista exclusiva, nesta terça-feira, 25 de novembro de 2025, durante cobertura da premiação “Maiores e Melhores do Transporte”, da Editora OTM, responsável pelas revistas Transporte Moderno e Techini Bus, que ocorreu na capital paulista. O evento teve parceria e apoio do Diário do Transporte e do Podcast do Transporte.

Segundo Nespoli, os passageiros dos transportes públicos, pelas tarifas, bancam praticamente tudo, direta e indiretamente, desde a operação em si até a compra dos ônibus.

Quem paga as fabricantes são as empresas de ônibus. Logo, está no preço do ônibus, o custo do desenvolvimento fabril e de novas gerações de produtos e linhas. Mas os recursos das empresas de ônibus vêm da tarifa. Assim, é o passageiro que paga a indústria também.

Ocorre que pela indução do desenvolvimento pelos ônibus, em especial os elétricos, a produção ou importação dos carros acaba se beneficiando.

Indiretamente, assim, os passageiros de ônibus estão bancando estratégias comerciais e desenvolvimento de carros, caminhões e motos.

Só muda a tecnologia, mas mais uma vez, a história e o erro se repetem: em vez de o transporte individual financiar o transporte público, é o cidadão que habitualmente tem a menor renda e está no ônibus é que acaba financiando quem anda de carrão.

ADAMO BAZANI:* Quer dizer, hoje um passageiro de ônibus pode estar pagando um desenvolvimento de um mega carrão de luxo?

*LUIZ CARLOS NÉSPOLI:* Sem dúvida nenhuma, porque você está levando para o custo operacional, ou seja, o que é o custo operacional? É o capital imobilizado, ou seja, o ônibus, são as garagens, são os custos operacionais de mão de obra, mas você está levando o capital, você está levando a tecnologia para dentro do custo.

Portanto, esse custo não pode ser arcado por aquele cidadão que, de fato, é o que tem menos renda na sociedade, arque com essa evolução. Por isso é importante que toda a transição tecnológica que vai envolver, digamos, um cidadão específico, um setor específico da sociedade, que não seja ele o responsável por essa transição.

Nespoli disse que a solução não é travar a ampliação da frota de ônibus elétricos, que beneficia o Brasil tanto do ponto de vista ambiental, como econômico e social.

O segredo está em o Estado e o dono do carro bancarem este desenvolvimento fabril e de produtos.

Assim, até mesmo os ônibus elétricos (e de outras alternativas ao diesel também), tão necessários, teriam ampliações de frotas mais significativas, com o financiamento justo.

Leia a entrevista na íntegra:

*ADAMO BAZANI:* O Diário do Transporte e o Podcast do Transporte, entrevistam Luiz Carlos Néspoli, o Branco, que é superintendente da ANTP, a Associação Nacional de Transporte Público. A gente está acompanhando toda essa questão da busca por alternativas ao óleo diesel, principalmente no transporte público. 


Agora tem a questão, quem paga a conta? Agora, não só quem paga a conta do ônibus, da infraestrutura, mas a questão também do desenvolvimento e da melhoria industrial. Essa conta pode ficar no bolso do passageiro do transporte público?

*LUIZ CARLOS NÉSPOLI:* Todo progresso tecnológico envolve uma transição que vai envolver a indústria, adaptação industrial, ou seja, custos industriais para produzir a nova tecnologia, e ao mesmo tempo vai exigir que o cidadão que adquire essa nova tecnologia comece a pagar. No caso de um bem pessoal, individual, um automóvel, de um bem qualquer, o cidadão decide o momento que ele vai comprar uma nova tecnologia, por exemplo, um novo carro elétrico.

No caso do transporte público, esse investimento, essas mudanças na tecnologia, essas adaptações industriais importam que o produto final vai custar mais. Ocorre que no nosso modelo de financiamento do custeio do transporte público, essa conta é da planilha tarifária, ou seja, ela entra como capital imobilizado, como depreciação, portanto, ela aumenta o custo do transporte.

Então, o passageiro, ele não pode ser o único a responder, porque essa tecnologia vai ser muito boa para o país, muito boa para o mundo, ou seja, você está introduzindo, por exemplo, a descarbonização, o ônibus elétrico, uma redução de poluentes, portanto, isso é importante para a cidade, é importante para o país, é importante para o mundo. E não é justo, nem é justificável, que essa conta, que vai atender toda a sociedade, no fundo, ela vai, essa evolução, vai atender toda a sociedade, toda a população, os governos também.

Então, não é justo que isso recaia, única e exclusivamente, na tarifa pública que é paga por aquele passageiro que paga. 

*ADAMO BAZANI:* Como resolver isso, como evitar esse problema?

*LUIZ CARLOS NÉSPOLI:* Toda evolução tecnológica, ela tem que ter uma participação do Estado, porque, veja, é do interesse público, é do interesse da sociedade, é do interesse dos governos que haja evolução, que haja essa migração para a descarbonização, por exemplo, para essa tecnologia. Nós já tivemos uma evolução do ônibus, que hoje você só pode adquirir ônibus novo Euro 6, que custa mais caro que o anterior, portanto, essa conta já foi para cima do usuário.

Então, é necessário que toda vez que você evolua na direção de tecnologias que custam, que a transição custa, investimento no governo, ou seja, o poder público, seja ele federal, estadual e municipal, ele tem que ser parte desse processo de transição.

*ADAMO BAZANI:* Quer dizer, hoje um passageiro de ônibus pode estar pagando um desenvolvimento de um mega carrão de luxo?

*LUIZ CARLOS NÉSPOLI:* Sem dúvida nenhuma, porque você está levando para o custo operacional, ou seja, o que é o custo operacional? É o capital imobilizado, ou seja, o ônibus, são as garagens, são os custos operacionais de mão de obra, mas você está levando o capital, você está levando a tecnologia para dentro do custo.

Portanto, esse custo não pode ser arcado por aquele cidadão que, de fato, é o que tem menos renda na sociedade, arque com essa evolução. Por isso é importante que toda a transição tecnológica que vai envolver, digamos, um cidadão específico, um setor específico da sociedade, que não seja ele o responsável por essa transição.

*ADAMO BAZANI:* Perfeito. A gente agradece bastante a sua participação.

Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes



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