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”Subsídio público pode acabar financiando mototáxi”, alerta ANTP sobre futuro da tarifa e da transição tecnológica


Uma lei federal de julho de 2009 regulamenta a atividade de mototaxista no Brasil. Foto meramente ilustrativa / Bruno Concha.

Em entrevista ao Diário do Transporte, Luiz Carlos Nespoli, superintendente da ANTP, explica por que a busca por alternativas ao diesel e a renovação tecnológica da frota podem pressionar ainda mais o modelo tarifário — e reforça o risco de o passageiro de ônibus arcar com custos que deveriam ser públicos

ALEXANDRE PELEGI

Em meio ao avanço acelerado dos aplicativos de transporte sobre diferentes segmentos da mobilidade, o mototáxi voltou ao centro do debate público após o lançamento da Nota Técnica nº 57 do IPEA, que analisa mortalidade, morbidade e os riscos associados à adoção desse serviço no Brasil. O documento alerta para o impacto direto no transporte coletivo e para o aumento já comprovado de acidentes graves envolvendo motocicletas.

Para aprofundar o tema, o Diário do Transporte entrevistou Luiz Carlos Néspoli, o Branco, superintendente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), que comenta os achados do estudo, apresenta números inéditos produzidos pela ANTP e detalha um ponto ainda pouco discutido: como a liberação irrestrita do mototáxi por aplicativo pode transferir recursos públicos para modelos privados sem qualquer garantia de segurança ou eficiência.

A seguir, a entrevista completa:

Alexandre Pelegi: Branco, o IPEA lançou a Nota Técnica nº 57 trazendo números preocupantes sobre acidentes com motocicletas e avaliando os riscos de implantação do mototáxi no Brasil. Para começar: qual é a principal mensagem do estudo e por que o tema é tão urgente?

Branco: A Nota Técnica é muito clara: o Brasil enfrenta um cenário gravíssimo no trânsito envolvendo motocicletas. O estudo mostra fragilidades estruturais e externalidades negativas associadas ao crescimento do uso da moto — e alerta que motocicletas não são apropriadas para transporte remunerado de passageiros, o chamado mototáxi.
Há razões de segurança viária, mas também impactos diretos no transporte público.

Alexandre Pelegi: O estudo e sua fala na webinar destacaram efeitos graves no transporte coletivo. Qual é o impacto imediato caso haja migração para o mototáxi?

Branco: A ANTP realizou um estudo que mostra que uma migração de apenas 10% dos passageiros do transporte público para o mototáxi por aplicativo geraria um aumento de 30% no custo operacional do sistema em São Paulo.
Para manter oferta e qualidade, seria inevitável elevar o subsídio público.
O problema é que esse dinheiro público acaba indo, de forma indireta, para o enriquecimento do negócio dos aplicativos.
É o Estado financiando um concorrente desregulado.

Alexandre Pelegi: Ou seja, o subsídio público acaba financiando o aplicativo?

Branco: Exatamente. É uma política pública ruim: além de favorecer um serviço sem regras claras, estimula um modal que gera um volume enorme de mortes e custos hospitalares altíssimos.
Hoje, muitos leitos são ocupados por acidentados de moto — tirando espaço de outras enfermidades.

Alexandre Pelegi: Com a determinação judicial para que municípios regulamentem, que caminhos existem para evitar efeitos predatórios?

Branco: Existem medidas possíveis:

1) Autoridade de transporte público
• Delimitar setores da cidade onde o mototáxi pode operar de forma complementar ao transporte público.

2) Autoridade de trânsito
• Exigir cumprimento das regras de veículo e condutor.
• Restringir circulação:
• proibição de velocidades acima do limite;
• limite de 50 km/h em vias expressas e arteriais;
• proibição de circular entre carros levando passageiro;
• proibição de operar fora das áreas autorizadas.

Alexandre Pelegi: Você também menciona ajustes no modelo de negócio das plataformas. O que precisa mudar?

Branco: A tecnologia permite controles eficazes. Exemplos:
• Algoritmo deve bloquear viagens fora das áreas autorizadas.
• Impedir jornadas exaustivas.
• Proibir incentivos financeiros a viagens perigosas — como chuva, excesso de volume ou busca por produtividade acima do seguro.
Tudo isso é possível com o rastreamento já existente.

Alexandre Pelegi: Mesmo com campanhas tradicionais — engenharia, educação, fiscalização —, por que os números seguem piorando?

Branco: Porque essas ferramentas não têm sido eficazes para motos.
Enquanto outros acidentes caíram 30% em dez anos, as mortes envolvendo motocicletas só aumentam. É preciso atacar a raiz do problema, que está nos modelos de negócio do motofrete e do mototáxi — e isso envolve governo, saúde, fabricantes, motociclistas e empresas de delivery.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes



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