Publicado em: 29 de outubro de 2025

Em meio à transição energética, digitalização e equidade de acesso, painel inaugural reforça papel central do usuário e convoca nova governança integrada
ALEXANDRE PELEGI
A solenidade de abertura do Arena ANTP 2025 – Congresso Brasileiro de Mobilidade Urbana, nesta terça-feira, 28 de outubro de 2025, marcou o início de três dias de intensos debates sobre o futuro do transporte público no país. Realizado no Transamerica Expo Center, em São Paulo, o encontro reuniu representantes do poder público, operadores, técnicos, acadêmicos e entidades civis em torno de um objetivo comum: recolocar o cidadão no centro da mobilidade.
O presidente da ANTP, Ailton Brasiliense Pires, abriu o evento de forma emocionada, relembrando a trajetória da associação desde sua fundação, em 1977, e homenageando Plínio Assmann, um dos criadores da entidade. “A ANTP nasceu para que o transporte público fosse tratado como serviço essencial e parte do direito à cidade. Nosso desafio continua sendo o de garantir qualidade, eficiência e inclusão”, afirmou.
Na sequência, Luiz Carlos Mantovani Néspoli, superintendente da ANTP, destacou que a mobilidade urbana vive um momento decisivo. Segundo ele, o país precisa enfrentar simultaneamente crises de financiamento, queda de demanda e desigualdade no acesso. “Estamos falando de um novo pacto urbano. Precisamos de cidades mais inclusivas, conectadas e seguras, que reconheçam o transporte público como instrumento de cidadania”, disse, ressaltando temas como digitalização, transição energética e equidade.
Entre as falas mais marcantes da cerimônia esteve a de Sílvia Stuchi, fundadora do Instituto Corrida Amiga, que trouxe o olhar da mobilidade ativa. Ela lembrou que caminhar e pedalar são expressões legítimas de mobilidade urbana e não devem ser vistas como resistência, mas como direitos fundamentais. “Cuidar, caminhar e viver não podem ser atos de resistência. São direitos que precisam ser garantidos pelo poder público”, afirmou. Para Sílvia, investir em calçadas, travessias seguras, arborização e acessibilidade é tão essencial quanto ampliar linhas de metrô ou frotas de ônibus. Sua fala conectou sustentabilidade, saúde e participação social, apontando que a mobilidade ativa é também política de inclusão e justiça urbana.
Felício Ramuth, vice-governador de São Paulo, destacou os avanços estaduais na ampliação da rede metroferroviária e na eletrificação da frota de ônibus. “O Estado tem o compromisso de liderar a transição energética e oferecer sistemas mais modernos e limpos”, declarou.
Já o deputado federal Jilmar Tatto defendeu o financiamento estável do transporte público e o avanço da Tarifa Zero como política de equidade: “Sem custeio permanente, o transporte público não se sustenta e a cidadania perde movimento”.
O vice-ministro de Transportes do Paraguai, Emiliano Fernandes, trouxe uma perspectiva internacional ao afirmar que “o transporte público é o sangue das cidades” e destacou a importância do intercâmbio de experiências entre países latino-americanos.
A abertura reforçou a essência plural do evento: debater mobilidade como política integrada, que conecta transporte coletivo, trânsito, energia e meio ambiente. Ao final, ficou clara a mensagem que orientará os próximos dias do congresso — não basta mover pessoas, é preciso mover ideias, garantir acesso e transformar o modo como o país entende o direito de ir e vir.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes


