Publicado em: 28 de julho de 2025

Total já se aproxima de 600 somente na capital e passa de mil no estado
ARTHUR FERRARI / ÁDAMO BAZANI
Mais ataques a ônibus aconteceram nesta segunda-feira, 28 de julho de 2025. Um coletivo da concessionária Via Sudeste, que fazia a linha 574J/10 – Metrô Conceição / Term. Vl. Carrão, trafegava pela Rua do Manifesto, no Ipiranga, em sua primeira viagem do dia, quando foi atacado com uma pedra, por volta das 7h.
No momento do ataque havia cerca de 90 passageiros no ônibus. Ninguém se feriu.
No domingo, um homem de 49 anos foi preso em flagrante após arremessar uma pedra contra o para-brisa de um ônibus municipal na Avenida Rio Branco, no centro de São Paulo (SP). De acordo com informações do boletim de ocorrência, ele foi contido por populares até a chegada da polícia. Ninguém se feriu.
O caso foi registrado no 2º Distrito Policial (Bom Retiro) como dano, atentado contra a segurança de outro meio de transporte e perigo para a vida ou saúde de outrem. A detenção ocorreu em meio à onda de ataques contra veículos do transporte coletivo na capital e Região Metropolitana.
Segundo dados da SPTrans (São Paulo Transporte), por meio de nota, com o registro deste domingo, já são 563 veículos atacados desde o início da série de ocorrências em 12 de junho. Só neste domingo, foram dois novos casos de vandalismo contra ônibus municipais.
As investigações seguem sob responsabilidade do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) da Capital, com apoio de unidades regionais e da Divisão de Crimes Cibernéticos (DCCIBER). Até agora, 19 suspeitos foram presos. A principal linha de apuração aponta para ações coordenadas com possível motivação ligada a questões contratuais de empresas operadoras.
A Polícia Militar mantém ativa a “Operação Impacto – Proteção a Coletivos”, com atuação intensificada de equipes da Rocam, Trânsito e Choque nos principais corredores e terminais. O policiamento foi reforçado em toda a cidade e em municípios do entorno da capital.
Somando os registros da capital, da Grande São Paulo e do Litoral, os casos de depredações ultrapassam mil desde o início da onda de ataques.
Há casos isolados, mas Polícia não tem dúvidas que crescimento no número de ataques é em decorrência de ações coordenadas, mas ainda não esclareceu motivações, mas principal linha de investigação, que relaciona uma das principais causas a questões contratais de empresas, compactuam com apurações feitas pelo Diário do Transporte – VEJA MAIS ABAIXO AO LONGO DA REPORTAGEM
Nota da SPTrans na íntegra
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte (SMT) e a SPTrans reiteram o repúdio aos atos de vandalismo registrados no sistema de transporte e seguem fornecendo todas as informações necessárias para auxiliar nas investigações. Desde o dia 12 de junho, as empresas operadoras relataram que 563 veículos do sistema municipal de transporte foram depredados, sendo 2 neste domingo (27). Os atos aconteceram de forma distribuída por todas as regiões da cidade.
A SPTrans reforça a orientação para que as concessionárias comuniquem imediatamente todos os casos à Central de Operações e formalizem as ocorrências junto às autoridades policiais. Cabe ressaltar que a empresa é obrigada a encaminhar o veículo para manutenção, substituindo-o por outro da reserva técnica, que realizará a próxima viagem programada, garantindo a continuidade do serviço prestado aos passageiros. Caso isso não ocorra, a empresa é penalizada pela viagem não realizada.
ALGUNS CASOS DE SÁBADO:
A reportagem já havia noticiado alguns casos que ocorreram na manhã de sábado (26), como nas zonas Sul e Norte. Veja os locais no link: Na parte da tarde e início da noite foram mais ocorrências. Uma delas envolveu um ônibus da empresa Via Sudeste Transportes S.A. e foi registrado na esquina da rua João Teodoro com avenida do Estado, por volta de 14h30. O vidro de uma das portas traseiras do coletivo que fazia a linha 311C-10 Pq. São Lucas / Bom Retiro foi destruído. Ninguém se feriu. Testemunhas viram um casal brigando nas proximidades e o homem teria atirado, em seguida, uma pedra no coletivo, apresentando sinais de transtorno, o que fugiria do perfil de ataques que mais intriga a Polícia e que ainda não está esclarecido, muito embora ganha força a linha de investigação sobre eventuais descontentamentos de algumas empresas que tiveram contratos rompidos (veja mais abaixo). Em Cidade Tiradentes, na zona Leste, a GCM (Guarda Civil Metropolitana) prendeu um homem com pedras na mão sob a suspeita que ele iria atacar ônibus na região. O homem foi encaminhado para o Distrito Policial de número 49, em São Mateus.
Principal linha da investigação sobre ataques a ônibus reforça apuração feita pelo Diário do Transporte
Em 22 de julho de 2025, ao falar sobre a considerada até então prisão mais relevante nas investigações a respeito da onda de ataques a ônibus no Estado de São Paulo, do servidor público Edson Campolongo, de 68 anos, que teria confessado participação em ao menos 17 ações, o diretor do Deic (Departamento de Investigações Criminais) da Polícia Civil, Ronaldo Sayeg, descartou que desafios de jogos online sejam a motivação para a sucessão de atos de vandalismo que já danificadaram mais de mil coletivos em todo o Estado, quase 550 só na capital.
Sayeg também disse que disputas dentro do sindicato dos trabalhadores da cidade de São Paulo também perderam relevância nas apurações porque os ataques continuaram depois do encerramento da campanha salarial e não possuem características típicas de ações quando há participação de sindicalistas. Ficou como mais forte a tese de que a insatisfação de empresas de ônibus com perdas de contratos e disputas por operação podem estar por trás de grande parte dos atos.
O indicativo da Polícia Civil vai na mesma direção do que foi apurado pelo Diário do Transporte até então.
IMPORTANTE: Nem os policiais e nem a reportagem concluíram que seja de fato esta motivação, podendo algumas novas surgirem ou mesmo as enfraquecidas ganharem novos elementos. Porém, o que a Polícia entende, como já havia demonstrado o Diário do Transporte duas semanas antes das declarações do diretor do Deic, é que há até agora mais materialidade nas questões envolvendo contratos com empresas.
Além das características das ações, documentos, datas que coincidem entre atos administrativos da prefeitura de São Paulo e o início da onda de ataques são para a Polícia o que fazem com que a hipótese até agora seja a de maior indício palpável.
A reportagem, por exemplo, já havia mostrado que a assinatura da portaria que autoriza a transferência de contratos da Transwolff, na zona Sul da capital paulista para a Sancetur, foi no dia 12 de junho de 2025, mesma data considerada como do início dos ataques
A Transwolff é investigada por suposta ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital). A empresa, alvo de uma intervenção da prefeitura após uma operação do MP (Ministério Público) que resultou na prisão de diretores (grande parte já conseguiu a possibilidade de responder em liberdade), nega.
Relembre reportagem do Diário do Transporte sobre o tema bem antes da coletiva do Deic
PCC, Onda de Ataques a Ônibus, Transwolff e Sancetur: depredações em massa começam no mesmo dia em que prefeitura assina despacho que viabiliza transferência de contratos – VEJA DOCUMENTO
O fato de os ataques terem ocorrido fora da capital paulista também em vez de enfraquecer a tese, para a Polícia só reforça, isso porque pode ser indício de demonstração de força.
Além disso, também foi destacado, tanto pela Polícia como pelo Diário do Transporte ao longo das apurações, que apesar de terem um núcleo central, nem todos os ataques possuem relação, havendo casos de vandalismo que já são corriqueiros e outros que foram feitos por oportunistas.
Ouça as declarações do diretor do Deic aqui neste link
OUÇA – COMPLETO: Polícia descarta “jogos de desafios pela internet” como motivação da onda de ataques a ônibus, minimiza possibilidade de disputa sindical e reforça hipótese de empresas
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Arthur Ferrari, para o Diário do Transporte
Fonte