BBF 2024 mostra evolução dos ônibus e homenageia Constantino Oliveira (Nenê Constantino), fundador da GOL e precursor do Grupo Comporte

Publicado em: 23 de novembro de 2024

Empresário Nenê Constantino sendp homenageado

Tecnologia e saudosismo estiveram lado a lado e reuniram entusiastas de diversas gerações e diferentes interesses, mas todos com a mesma paixão Polêmicas geradas pela SPTrans fizeram colecionador mudar nome em ônibus

TEXTO: ADAMO BAZANI

FOTOS E REPORTAGEM: JOSÉ EUVILÁSIO SALES

É possível que um ônibus urbano rústico da metade do século passado se encontre com um moderno ônibus elétrico que não emite poluição e praticamente não gera ruído?

E um ônibus rodoviário sem ar-condicionado, com motor na frente e sem suspensão a ar esteja na mesma rota de um modelo de última geração, com dois andares e até massageadores nas poltronas?

Na BBF (BusBrasil Fest), é.

O evento já é tradicional e neste sábado, 23 de novembro de 2024, chegou à 20ª edição.

A BBF é considerada uma das maiores exposições de ônibus antigos e novos da América Latina.

O Ginásio Poliesportivo José Corrêa, localizado na avenida Guilherme Perereca Guglielmo, nº 1000 no Centro de Barueri, na Grande São Paulo, mais uma vez foi palco de uma verdadeira linha do tempo do transporte coletivo brasileiro.

Organizado pelo Portal do Ônibus e contando com diversos parceiros na divulgação, entre os quais, o Diário do Transporte, a BBF 2024 trouxe ônibus inéditos (entre lançamentos e veículos antigos, mas que nunca foram exibidos) e velhos conhecidos que já marcaram outras edições anteriores, mas que vale a pena serem vistos e revistos. Empresas e colecionadores que nunca haviam participado também estrearam neste ano de 2024.

UM SONHO DAS NAÇÕES UNIDAS:

Um dos destaques do evento foi um ônibus Caio Vitória, Mercedes-Benz OF 1315/51, ano 1988 que pertenceu à empresa Nações Unidas, da zona Norte da Capital Paulista.

O proprietário, o colecionador Flavio Said, conta que viu o mesmo ônibus chegando zero quilômetro na garagem e o sonho era ter este veículo que foi encontrado em Campo Grande (MS) em más condições e com padronização de pintura escolar.

O restauro está sendo aos poucos. Said falou da emoção em ver o veículo exposto.

“Eu vi quando chegou zero (km) nas Nações. Este foi o único que ficou na garagem da Sezefredo [Av. Cel. Sezefredo Fagundes, zona Norte de São Paulo], na linha do Butantã (…) Quando eu vi esse ‘carro’ [ônibus] aqui na BBF, os olhos encheram de lágrimas. Nem acredito que trouxe esse ônibus para cá” – disse

OUÇA:

POLÊMICAS GERADAS PELA SPTRANS FIZERAM COLECIONADOR MUDAR NOME EM ÔNIBUS:

Alguns detalhes chamaram a atenção na BBF 2024. Após as polêmicas geradas pela gerenciadora de transportes da cidade de São Paulo (SPTrans – São Paulo Transporte), que proibiu o uso do nome CMTC (Companhia Municipal de Transportes Coletivos) nos ônibus de colecionadores, alegando ser proprietária da marca, um dos colecionadores colocou o nome da empresa Pioneira em veículo Mercedes-Benz O-364 urbano (ano 1985/1986). A CMTC era a companhia pública da cidade de São Paulo. Entre 1993 e 1994 teve as operações repassadas para a iniciativa privada pela gestão do prefeito Paulo Maluf e, em 1995, já apenas como gerenciadora, a CMTC se tornou SPTrans. O veículo exposto foi originalmente da CMTC, mas, no processo de privatização, foi alugado pela Pioneira. A Prefeitura de São Paulo alugava os veículos para as operadoras no período de transição, enquanto elas providenciavam frota própria. O prefixo de quatro números que era usado pela CMTC, por exemplo, foi mantido pela Pioneira.

O veículo não estava cadastrado oficialmente no evento, mas ficou nas imediações e se destacou também entre os visitantes.

MICRO-ÔNIBUS CAROLINA SE AGIGANTOU:

Outro modelo que chamou a atenção foi um micro-ônibus Caio Carolina, Mercedes-Benz 608 D, ano 1978.

Pelo estado de restauração e reforma, mesmo sendo um veículo pequeno, o quarentão Carolina se agigantou.

O dono, Salvador Vieira, que comprou de um reformador de ônibus de Osasco (SP), disse que o intuito era transformar um motorhome, mas a raridade e a beleza do veículo chamaram a atenção e o colecionador preferiu manter a originalidade.

“Quando eu adquiri, eu ia montar um motorhome, mas eu achei ele tão bonitinho que eu não quis estragar o original dele” – conta.

OUÇA:

UM ACHADO:

Caio Alpha, Mercedes-Benz OF-1721/59 – ano 1999 – particular, veículo é um achado pela baixíssima quilometragem (pouco mais de mil km). O Diário do Transporte mostrou a história dos proprietários André Júnior e Arthur que contaram que o ônibus foi comprado 0 km no ano 1999 por meio de um consórcio destinado ao sistema de transporte coletivo “bairro a bairro” em São Paulo. Porém, como a frota já contava com veículos em boas condições, o CAIO Alpha nunca chegou a operar, tornando-se uma peça de coleção única. Relembre:

NOVIDADES E GOSTO PARA TUDO:

O evento de 2024 também trouxe ônibus 0 km que ainda vão rodar em suas empresas, com “plástico de proteção nos bancos” e sem placas, versões ano 2025, além de um modelo que sequer teve a produção em linha iniciada. (Veja mais abaixo a relação).

Diferentes gerações de entusiastas de transportes se reuniram. E há público para tudo: os que mais gostam dos modelos históricos e os que querem ver tecnologia e inovação, mas a maioria quer mesmo saber da evolução: exaltar o valor e a contribuição dos charmosos ônibus antigos que foram fundamentais para que os imponentes, mais seguros e mais ambientalmente amigáveis modelos atuais se tornassem uma realidade.

CURIOSIDADES DA BBF-2024:

– Foram inscritos aproximadamente 170 ônibus de diferentes épocas e modelos, entre os pertencentes a colecionadores particulares e de empresas.

– O ônibus mais antigo exposto é um monobloco Mercedes-Benz O-321, da empresa CatiRose, ano 1965.

– Foram quase 80 empresas participantes, a maior parte operadoras de transportes, mas houve também fabricantes de chassis e carrocerias.

– Ônibus zero km – versão 2025: Urbano Caio Apache Vip V, da Viação Pirajuçara; Marcopolo Paradiso 1800 DD (Dois Andares) G8 (Geração 8), da Viação Catedral

– Ônibus 0 km com pintura histórica (retrô), Marcopolo Paradiso 1200 G8, da empresa Sussantur

– Modelo que será produzido em linha somente em 2025: Busscar Panorâmico DD – família NB1, exibido pela fabricante de carrocerias Busscar, de Joinville (SC).

EMPRESÁRIO HOMENAGEADO:

Cecílio Souza (com microfone na mão); funcionário há mais de 70 anos; ao meio, Joaquim Constantino (filho de Constantino de Oliveira) e o empresário de 93 anos, Constantino de Oliveira (Nenê Constantino), homenageado desta edição.

Recentemente, a BBF tem homenageado empresários de ônibus que formaram conglomerados do setor de transportes e se tornaram fortes e influentes na economia e até na política.

Neste ano de 2024, a homenagem foi a Constantino de Oliveira, o Nenê Constantino, fundador da GOL Linhas Aéreas e do Grupo Comporte, que hoje reúne mais de sete mil ônibus distribuídos em diferentes empresas como Viação Piracicabana, Nossa Senhora da Penha, Expresso União, Expresso de Prata, Itamarati, entre tantas outras e que marca presença no segmento de trilhos, com o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) na Baixada Santista, no Metrô da Grande Belo Horizonte e na concessão para construção e operação do TIC (Trem Intercidades) entre a capital paulista e as cidades de Jundiaí e Campinas, no interior, englobando a linha 7-Rubi da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).

O empresário recebeu um troféu e uma placa. Nenê Constantino de 93 anos, nascido em 08 de agosto de 1931, em Patrocínio (MG), agradeceu e, ao final, brincou com um funcionário Cecílio Souza, que atua no grupo há mais de 70 anos e é responsável pelo Museu dos Transportes da família, que possui ônibus e trólebus de várias décadas.

“Só tenho de agradecer, agradecer e agradecer. Desejo a todos, muita saúde. Um abração” – agradeceu no meio da homenagem.

Ao final da apresentação, Nenê brincou.

“Aos colegas motoristas, muito obrigado pela boa vontade de todos. Aguentar os motoristas é fácil, o duro é aguentar o Cecílio … 70 anos já” – se divertiu com o funcionário e amigo.

Familiares e amigos também discursaram.

OUÇA:

DOS ENTREVISTADOS:

Monobloco Mercedes-Benz O-364 Urbano – ano 1985/1986. Veículo tinha o nome da CMTC, mas depois de polêmicas geradas pela SPTrans, proprietário colocou a nomenclatura da empresa pioneira.

Monobloco Mercedes-Benz O-364 Urbano – ano 1985/1986. Veículo tinha o nome da CMTC, mas depois de polêmicas geradas pela SPTrans, proprietário colocou a nomenclatura da empresa pioneira.

Caio Alpha, Mercedes-Benz OF-1721/59 – ano 1999 – particular, veículo é um achado pela baixíssima quilometragem (pouco mais de mil km).

Caio Alpha, Mercedes-Benz OF-1721/59 – ano 1999 – particular, veículo é um achado pela baixíssima quilometragem (pouco mais de mil km).

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1315/51 – ano 1988, que pertenceu à empresa Nações Unidas, hoje do colecionador Flavio Said, ainda mantém placa orginal com endereço da garagem

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1315/51 – ano 1988, que pertenceu à empresa Nações Unidas, hoje do colecionador Flavio Said, ainda mantém placa orginal com endereço da garagem

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1315/51 – ano 1988, que pertenceu à empresa Nações Unidas, hoje do colecionador Flavio Said, ainda mantém placa orginal com endereço da garagem

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1620/60 – ano 1994– com pintura da empresa Capital do Vale – particular

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1620/60 – ano 1995 – com pintura da CMTB (Companhia Municipal de Transportes de Barueri)

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1620/60 – ano 1995 – com pintura da CMTB (Companhia Municipal de Transportes de Barueri)

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1620/60 – ano 1995 – com pintura da VCT (Viação Cidade Tiradentes), da zona Leste da capital paulista

Caio Padron Vitória, Mercedes-Benz OF-1620/60 – ano 1995 – com pintura da VCT (Viação Cidade Tiradentes), da zona Leste da capital paulista