Publicado em: 25 de agosto de 2025
Especialistas apontam que ônibus tipo E-Trol devem ser considerados em novos corredores pela flexibilidade e tecnologia nacional. Ratinho Júnior trouxe para Curitiba exemplar de mesma fabricante que secretário paulistano foi conferir no país asiático
ADAMO BAZANI
Colaborou Arthur Ferrari
O secretário municipal de mobilidade e transportes de São Paulo, Celso Jorge Caldeira, divulgou nesta segunda-feira, 25 de agosto de 2025, imagens de uma visita que fez a fabricantes de veículos de transporte coletivo na China no início do mês, destacando um modelo que é visto em diversos sistemas como alternativa aos VLTs (Veículos Leves sobre Trilhos).
Trata-se da tecnologia conhecida como DRT (Digital Rail Transit, ou transporte sobre trilhos digitais em português) que, segundo a própria divulgação do secretário de Nunes, é uma espécie de “VLT sobre pneus, que se locomove por meio de ímãs instalados no asfalto”.
O Diário do Transporte antecipou em 30 de julho a visita que tinha na agenda marcas como Huawei, CRRC, BYD (que já fornece ônibus elétricos para a capital) e Chery & Wanda Bus, localizadas nas cidades de Nanjing, Shenzhen e Hong Kong.
Relembre:
O veículo com pneus destacado por Caldeira é produzido pela empresa CRRC Nanjing Puzhen.
É da mesma marca e tecnologia de um exemplar trazido pelo governador do Paraná, Rainho Júnior, divulgado em 30 de julho de 2025 e que foi denominado na região metropolitana de Curitiba como BUD (Bonde Digital Urbano).
Relembre:
Uma das vantagens do sistema, segundo a fabricante, é o menor custo por exigir menos infraestrutura que o VLT. Além disso, é mais flexível, podendo ter ampliações mais fáceis ou mudanças de trajetos em ocasiões pontuais.
BONDE DE SÃO PAULO:
O Diário do Transporte mostrou que a prefeitura da capital paulista planeja implantar um “Bonde de São Paulo” no centro da cidade. Serão duas linhas de trilhos com 26 estações em 16 trechos espalhados em 12 km. Haverá impactos em 260 linhas de ônibus e o custo aproximado de implantação deve ser de R$ 4 bilhões. O projeto deve ser licitado neste ano de 2026 e inauguração é esperada para entre 2029 e 2030. Deste total, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), do Governo Federal), deve financiar R$ 1,3 bilhão. A demanda estimada é de 134 mil passageiros por dia. o “Bonde de São Paulo” será integrado a cinco terminais de ônibus, nove estações de metrô e duas estações de trens já existentes. O trabalho também considera integração com o corredor de ônibus de alta capacidade BRT (Bus Rapid Transit) da Radial Leste e a futura linha 19-Celeste do Metrô: São Paulo (Anhangabaú) X Guarulhos (Bosque Maia).
Relembre:
FIM DOS TRÓLEBUS E INDÚSTRIA NACIONAL COM E-TROL:
A possibilidade da desativação total da rede de trólebus de São Paulo com a implantação de um sistema de bondes no centro foi anunciada ao Diário do Transporte pelo prefeito Ricardo Nunes em 23 de julho de 2025, na apresentação de mais ônibus elétricos com baterias para a cidade.
Relembre e ouça a entrevista:
O ano de 2029 previsto para a inauguração do Bonde de São Paulo coincide com o limite de idade permitida para os trólebus atuais. Pelo contrato com a empresa operadora Ambiental Transportes, é necessário trocar por modelos de ônibus novos, que podem ou não ser trólebus. A única exigência é que não emitam poluição, podendo, inclusive serem com baterias.
Relembre:
Especialistas, entretanto, contestam os planos de Nunes e destacam que, em vez de aproveitar uma disponibilidade maior de energia elétrica existente na região central de São Paulo, ainda mais diante dos problemas de falta de infraestrutura encontrados para cumprir as metas previstas em lei para reduzir as emissões de poluentes pelo transporte coletivo, desativar a rede de trólebus da cidade por causa da implantação do VLT (Veículo Leve sobre Trilhos), o Bonde de São Paulo, pode ser um desperdício e ir na contramão do que fazem as cidades sustentáveis e modernas. Também apontam que ônibus tipo E-Trol devem ser considerados em novos corredores pela flexibilidade e tecnologia nacional.
É o que procura mostrar um estudo da Rede Respira São Paulo, uma ONG (Organização Não Governamental) formada por técnicos, membros de universidades e profissionais ligados à mobilidade e redes de energia elétrica.
Relembre:
Os trabalhos apontam que a tecnologia dos veículos trólebus está mais desenvolvida, inclusive com uma configuração largamente usada na Europa, Ásia e América do Norte, e produzida no Brasil em São Bernardo do Campo (SP), pela Eletra Industrial, comercialmente denominada no mercado nacional como E-Trol, que num mesmo veículo reúne a operação “trólebus”, rodando conectado à rede aérea por um trecho, e a bateria, de forma independente no restante da linha. As vantagens é que este tipo de veículo, que vai operar num corredor entre a capital e o ABC Paulista (BRT-ABC), custa 30% menos, dispensa infraestrutura nas garagens e carrega as baterias enquanto trabalha conectado.
CONHEÇA MAIS:
O Diário do Transporte mostrou também que até especialistas internacionais defendem o tipo E-Trol para São Paulo, ao mesmo tempo que a cidade implanta os bondes para os sistemas conviverem.
É o caso do especialista em mobilidade elétrica da UITP, Arnd Bätzner, que, em um evento sobre o tema no SEESP (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo), em 14 de agosto de 2025, foi enfático ao dizer que, se a cidade de São Paulo optar por não expandir a rede de trólebus, deve ao menos manter a atual estrutura e, ao mesmo tempo, modernizar os serviços e a frota.
Bätzner citou como exemplo positivo a tecnologia E-Trol, que consiste em um veículo que opera tanto com baterias quanto conectado à rede aérea, já largamente utilizado em diversas partes do mundo. No Brasil, há também essa tecnologia desenvolvida pela Eletra, em São Bernardo do Campo. Os veículos vão operar no corredor BRT-ABC, que está sendo construído entre as cidades de São Bernardo do Campo, Santo André, São Caetano do Sul e São Paulo.
Relembre:
CONHEÇA MAIS SOBRE O E-TROL:
ENTREVISTA em VÍDEO: Transformar ônibus e caminhão a diesel em elétrico, retrofit, gera economia de 30%. E-Trol também é 30% mais barato e baterias duram até 40% mais
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes