Publicado em: 21 de maio de 2025
Relatório revela que sistemas de ônibus e trilhos de cidades como São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Rio de Janeiro (RJ) recebem notas baixas da população, com destaque para superlotação, integração limitada e infraestrutura precária
ARTHUR FERRARI
A Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou os resultados da 5ª edição do Índice da Qualidade da Mobilidade Urbana (IQMU), com dados atualizados até abril de 2025. O levantamento avaliou as percepções da população sobre os sistemas de transporte em três das principais capitais brasileiras: São Paulo (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Belo Horizonte (MG).
Nenhuma das cidades ultrapassou a nota 5,5 em uma escala de 0 a 10. São Paulo obteve o melhor desempenho entre as avaliadas, com índice de 5,4. Belo Horizonte alcançou 4,8, enquanto o Rio de Janeiro ficou com 4,6. A pesquisa foi feita por meio de entrevistas presenciais com 2.443 cidadãos entre os dias 8 e 13 de abril, em áreas centrais das três capitais.
Em São Paulo, os investimentos em trilhos, corredores de ônibus e ciclovias contribuíram para uma avaliação relativamente melhor. No entanto, os usuários ainda relatam problemas graves como tarifas elevadas, com nota 3,1, superlotação e tempos longos de deslocamento. A cidade lidera o ranking, mas ainda está distante de uma mobilidade urbana de qualidade.
No Rio de Janeiro, o principal gargalo apontado foi a integração entre os diferentes modais de transporte. A cidade, mesmo com sistemas como o BRT e faixas BRS, segue com dificuldades operacionais. A lotação dos veículos foi o item com pior avaliação entre todas as capitais, recebendo nota 2,9. A população também aponta queda de qualidade nos serviços e congestionamentos constantes.
Belo Horizonte concentra seu sistema de transporte coletivo quase exclusivamente em ônibus, sem uma rede significativa de metrô ou trens. Isso gera sobrecarga no modal e insatisfação entre os usuários. Apesar das limitações, aspectos como acessibilidade nos veículos e atendimento dos funcionários receberam notas positivas, sinalizando pontos fortes a serem mantidos.
A pesquisa também mostrou que modais alternativos, como caminhadas e transporte por aplicativos, foram melhor avaliados. Em São Paulo e Belo Horizonte, o deslocamento a pé se destacou de forma positiva, com boa avaliação para travessias e sinalização. Esses dados indicam uma preferência crescente por formas de transporte não motorizadas.
Já o uso da bicicleta continua sendo um desafio nas três cidades. Em Belo Horizonte, por exemplo, o modal obteve uma das piores notas (3,8), devido à infraestrutura insuficiente e à falta de segurança. Isso desestimula os cidadãos a adotar a bicicleta como meio de locomoção, limitando as opções de mobilidade ativa.
O IQMU é elaborado pelo núcleo de transportes da FGV, em parceria com a Systra Brasil e apoio do Instituto Primestar. O objetivo é fornecer subsídios para a formulação de políticas públicas e alertar gestores sobre a necessidade urgente de melhorias. A baixa nota média geral evidencia o descontentamento da população com o transporte urbano e reforça a urgência de ações estruturais nos sistemas de mobilidade das grandes capitais brasileiras.
Arthur Ferrari, para o Diário do Transporte