Publicado em: 15 de julho de 2025
Foram apenas sete pessoas detidas até agora, mas sem nenhum esclarecimento efeito por parte das autoridades de Segurança Pública
ADAMO BAZANI
Colaborou Arthur Ferrari
Os ataques contra ônibus em São Paulo continuaram entre esta segunda-feira, 14 de julho de 2025, e terça-feira (15).
De acordo com balanço informado na manhã desta terça-feira (15) ao Diário do Transporte pela SPTrans (São Paulo Transporte), gerenciadora das linhas municipais da capital paulista, foram mas 11 veículos deste sistema, elevando para 432 o total desde o início da onda de ataques, em 12 de junho de 2025.
O número se refere apenas a ônibus municipais de São Paulo. Considerando todos no Estado, como os intermunicipais metropolitanos, os do litoral paulista e os municipais das cidades vizinhas da capital, já são mais de 750.
Na nota, a SPTrans diz que repudia os atos e que orienta as empresas a fazerem a comunicação de imediato.
A Secretaria Municipal de Mobilidade Urbana e Transporte (SMT) e a SPTrans reiteram o repúdio aos atos de vandalismo registrados no sistema de transporte e seguem fornecendo todas as informações necessárias para auxiliar nas investigações. Desde o 12 de junho, as empresas operadoras relataram que 432 veículos do sistema municipal de transporte foram depredados, sendo 11 entre a segunda-feira (14) e a manhã de terça (15). Os atos aconteceram de forma distribuída por todas as regiões da cidade.
A SPTrans reforça a orientação para que as concessionárias comuniquem imediatamente todos os casos à Central de Operações e formalizem as ocorrências junto às autoridades policiais. Cabe ressaltar que a empresa é obrigada a encaminhar o veículo para manutenção, substituindo-o por outro da reserva técnica, que realizará a próxima viagem programada, garantindo a continuidade do serviço prestado aos passageiros. Caso isso não ocorra, a empresa é penalizada pela viagem não realizada.
Apesar da gravidade do problema, que parece estar longe de um desfecho, as investigações e operações policiais até agora têm resultado em poucos efeitos práticos.
Apenas sete pessoas detidas, mas nenhuma considerada relevante para ser apontada como uma das responsáveis.
Imagens do monitoramento as câmeras internas dos veículos de transporte coletivo mostram a vulnerabilidade de usuários e trabalhadores dos transportes.
Foi o caso de uma passageira que estava num ônibus elétrico da empresa Viação Metrópole Paulista que quase foi atingida por uma pedrada no dia 13, em um ônibus na Avenida Paulista.
Ele conversava com a passageira ao lado quando repentinamente o vidro é estilhaçado por uma pedrada. O barulho é assustador e deixa os usuários sem reação.
O Diário do Transporte teve acessos a imagens de mais casos.
Foi com um ônibus da empresa Via Sudeste.
O ataque ocorreu em plena luz do dia, pouco antes de 13h, na Av. Francesco Del Cossa, região do Sacomã, no sábado, 12 de julho de 2025, exatamente um mês do início da onda de ataques. Ninguém se feriu, mas as imagens deixam claro o desespero dos passageiros.
A falta de um perfil definido de quem realiza os ataques, que varia entre adolescentes, dependentes de entorpecentes, até pessoas que aparentam ter uma renda melhor e que usam até carros e motos em emboscadas, é uma das características que tem preocupado passageiros e trabalhadores do setor, além de intrigar a polícia. A reincidência em locais mapeados pela Polícia Civil, muitas vezes vias de grande movimento e em plena luz do dia, demonstrando que os autores dos ataques parecem não se intimidar com as operações policiais, é outro fator que gera medo. Os recentes ataques contra vans do Atende, serviço destinado a pessoas com mobilidade reduzida em grau severo, também aumentam a tensão de quem trabalha no transporte coletivo. Isso porque nem é todo mundo que sabe que estes veículos pertencem ao sistema de transportes, indicando que os atos são de autoria de quem tem pleno conhecimento do setor.
UM DOS NOVOS ATAQUES DESTA SEGUNDA-FEIRA (14)
O caso ocorreu na Rua Guichi Singueta, às 11h24, desta segunda-feira, 14 de julho de 2025, na região da Avenida Jacu Pêssego, zona Leste de São Paulo.
Um ônibus elétrico, de alto custo de aquisição e de peças para reparo, teve uma janela e um letreiro de itinerário lateral destruídos após ser atingido por uma pedra. Para se ter uma ideia, um ônibus elétrico custa o triplo de um diesel e algumas peças podem ter valores 10 vezes superiores.
O veículo prefixo 3 1952 é da Viação Metrópole Paulista e fazia a linha 4210-10 (Terminal Cidade Tiradentes/Terminal Parque Dom Pedro II), modelo eO500 U – Mercedes-Benz (chassis e tecnologia)/e-Millennium (Caio).
Ninguém se feriu.
PASSAGEIRA QUASE ATINGIDA EM ÔNIBUS NA AVENIDA PAULISTA:
Em relação a noite deste domingo (13) que, em número de casos só perde para 07 de julho de 2025, quando foram depredados 59 municipais em 24 horas , o Diário do Transporte recebeu imagens de circuito interno de um dos 47 ônibus municipais que mostram o exato momento em que uma passageira quase foi ferida porque estava sentada no banco ao lado do vidro que levou a pedrada.
A cena é impressionante e a resistência da janela do ônibus impediu que o pior pudesse ocorrer.
Ela seguia ao lado de outra passageira, quando o barulho foi estrondoso.
Foi mais de uma de pedrada e até parecia que o coletivo estava sendo alvejado por tiros.
Ela se abaixa e sai do lugar sem saber muito o que fazer.
O caso ocorreu por volta de 21h30 deste domingo, 13 de julho de 2025, na Avenida Paulista, envolvendo o ônibus prefixo 3 2662, também do mesmo modelo elétrico da Viação Metrópole Paulista que, no momento do ataque, fazia a linha 508L-10 (Terminal Princesa Isabel/Aclimação).
Imagens da câmera da dianteira do ônibus revelam uma movimentação externa, mas não é possível verificar se têm relação com os responsáveis pelas pedradas, mas o equipamento revela o áudio pelo qual, é possível perceber que os passageiros estão confusos e o motorista confirma terem sido pedras.
DESESPERO DE PASSAGEIROS NA REGIÃO DO SACOMÃ:
As imagens mostram o desespero dos passageiros que estavam no ônibus prefixo 5 1448 da empresa Via Sudeste.
O ataque ocorreu no sábado (12), mas as imagens só foram divulgadas nesta segunda-feira (14). O crime foi na Av. Francesco Del Cossa, região do Sacomã, pouco antes de 13h.
O coletivo fazia a linha 5034-10 Terminal Sacomã/Vila Livieiro.
Ninguém se feriu, mas as cenas são de pânico.
LINHAS DE INVESTIGAÇÃO:
A Polícia Civil considera três como principais
– DESAFIOS DA INTERNET: Tese de motivação por jogos online e desafios entre jovens não foi descartada, mas perde força com o avançar das apurações, números de casos e características das ações;
– CRIME ORGANIZADO E REAÇÃO DE EMPRESAS: A insatisfação de empresas com supostas ligações com o crime organizado e que perderam os contratos passa a ser investigada com maior rigor. O 8Diário do Transporte* divulgou documento que, para investigadores, pode ser peça-chave nesta linha de apuração. As depredações em massa começam no mesmo dia em que prefeitura de São Paulo assinou despacho que viabiliza transferência de contratos entre a Transwolff, empresa que foi alvo de operação do MP (Ministério Público) por suspeita de ligação com a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e a Sanceutr (companhia selecionada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes para assumir no lugar). A Polícia Civil de São Paulo investiga se há alguma relação entre os fatos, mas ocorrências onde não há nenhuma relação com as duas empresas ainda colocam em dúvida se esta seria uma das motivações. O ABC Paulista, por exemplo, é um dos principais palcos dos ataques e não têm ligação direta com esta transferência.
Os policiais não descartam que esta sim pode ser uma das motivações entre várias, já que, regionalmente, oportunistas podem ter aproveitado o início da “onda” para fazer os seus acertos locais. Ou pior; um recado do crime organizado de demonstração de força com a seguinte mensagem: não mexa com nossos interesses locais que o Estado todo pode pagar. Relembre:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes