Publicado em: 7 de junho de 2025
O caso do ABC Paulista dá uma oportunidade de discutir uma realidade nacional
ADAMO BAZANI
Como mostrou o Diário do Transporte, o ABC Paulista, umas das regiões mais importantes e ricas do País, escapou de ter uma greve de ônibus após a campanha salarial ter sido bem-sucedida.
Relembre:
Com o acordo junto às empresas, o salário base de um motorista de ônibus convencional chega a cerca de R$ 4,5 mil por mês. O segundo maior do País, perdendo apenas para Sorocaba (SP). Veja índices e relações de exemplos em outras cidades mais abaixo.
O caso do ABC Paulista dá uma oportunidade de discutir uma realidade nacional. O valor de uma categoria profissional não pode ser medido apenas com números.
É o caso de motoristas de ônibus, categoria profissional cuja importância vai além do transporte se entendemos que diariamente eles zelam e cuidam de vidas.
Essenciais para o desenvolvimento das cidades e para garantir o direito constitucional do cidadão de ir e vir, os motoristas de ônibus, em geral, não só ganham menos que merecem, como precisariam ter melhores condições de trabalho e reconhecimento não somente das empresas de transportes, mas de toda a sociedade que nem percebe a realidade deste profissional, que enfrenta horários extremos (da madrugada ao fim da noite), trânsito, violência urbana, incompreensão, falta de educação de passageiros, pontos iniciais sem um banheiro sequer…
Estão faltando motoristas de ônibus no mercado de trabalho e os motivos começam a ser entendidos.
Claro que a categoria deve estar atenta e cobrar das empresas de ônibus sempre as melhorias necessárias.
Mas a questão vai além das companhias de ônibus.
O setor tem perdido demanda de passageiros por diversos fatores, cujo foco principal é a falta de prioridade aos transportes públicos por parte das autoridades.
Se a demanda de passageiros voltasse a crescer, assim como a arrecadação dos sistemas de transportes, os motoristas de ônibus e funcionários dos sistemas teriam mais margem para reivindicar melhores salários e condições.
Não é defender empresas, mas constatar a realidade.
Equilíbrio financeiro e aumentar a demanda de passageiros é pensar no motorista.
E mesmo com todas as dificuldades da profissão, o motorista precisa entender também que o passageiro é seu cliente e a razão do seu sustento. Assim, atender bem esse cliente, ser gentil, além de ser um ato e uma obrigação humana e de cidadania, é investir em sua carreira, ganhos econômicos pessoais e melhores condições de vida.
Vale que todos reflitam, não só o setor, mas a sociedade como um todo.
Com os reajustes aplicados sem arredondamento, os salários dos funcionários de transportes vão ser os seguintes no ABC:
SALÁRIOS e ÍNDICES DE REAJUSTE
Percentual: 6 %
Salário Convencional/Articulados/Trólebus – R$ 4.490,88
Salário Midi – R$ 3.949,00
Cobrador e Van – R$ 2.592,00
VALE ALIMENTAÇÃO:
VA – 10% – R$ 941,71
PLR – PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS:
PLR – 7% – R$ 3.220,00
Cidades com os maiores salários para Motoristas de Ônibus Urbano:
- Sorocaba (SP): Apresenta um dos maiores salários, com motoristas recebendo até R$ 5.400 mensais.
- Região do ABC (SP): R$ 4.236,68, passará para R$ 4.490,88
- Porto Alegre (RS): Salário médio de R$ 3.219,44, sendo o mais alto entre as capitais brasileiras.
- Manaus (AM): Motoristas recebem cerca de R$ 3.078,43, incluindo benefícios como vale-refeição e plano de saúde.
- São Paulo (SP): Na capital, a média salarial varia entre R$ 3.800 e R$ 4.200, dependendo da experiência e porte da empresa.
- Curitiba (PR): Motoristas podem receber até R$ 3.200 mensais, conforme dados locais.
- Campinas (SP): Apresenta salários médios em torno de R$ 3.450.
- Rio de Janeiro (RJ): Salários variam entre R$ 2.877 e R$ 3.043, dependendo da região metropolitana.
SOMATÓRIA DE ESFORÇOS:
É necessário haver somatória de esforços em relação a função dos motoristas e _a sustentabilidade dos sistemas de transporte em geral.
Do poder concedente, maior atuação em coibir a informalidade no setor e cuidar do trânsito com ações como rodízio e blitzes de verificação de documentos. Rodam por aí muitos veículos sem licenciamento e com multas que superam o valor do automóvel em si. Essas ações também ajudariam na sensação de segurança.
Das empresas, maior investimento em treinamento operacional e também um treinamento para melhorar a relação motorista/passageiro, além de entender o valor do motorista e suas necessidades como profissional e, acima de tudo, como ser humano.
E da categoria de trabalhadores, uma conscientização maior da responsabilidade que é conduzir um ônibus com tantas vidas, ver o passageiro como seu cliente, sabendo que sem passageiro, não tem trabalho, além de cuidar mais do equipamento de trabalho (ônibus).
Um empresário nos disse que registram pequenas avarias todos os dias em 3,4, 5 ônibus. Grande parte, por falta de pequenos cuidados.
O mundo mudou tanto! Não existem mais motoristas como antigamente e nem passageiros como antigamente.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes