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Como São Paulo e Corinthians trocaram protagonismo por dívidas bilionárias


Rivais em clássico do Brasileirão neste sábado (19), no Morumbis, São Paulo e Corinthians se enfrentam bem longe do topo. Enquanto o Tricolor inicia a rodada apenas uma posição acima da zona de rebaixamento, o Alvinegro é o 9º colocado, oito pontos atrás dos líderes da tabela.

O momento deles contrasta bastante com um duelo 12 anos atrás. Em 2013, os dois eram os “donos da América”, já que o São Paulo era campeão da CONMEBOL Sul-Americana e o Corinthians da CONMEBOL Libertadores (e do mundo). Por isso, ambos decidiram a CONMEBOL Recopa.

Essa mudança de cenário tem uma explicação: dinheiro. Se outrora São Paulo e Corinthians eram referências e lideravam estatísticas financeiras, hoje em dia, muito por conta de más administrações, o que se vê é um oceano de distância entre os dois e alguns rivais.

O Corinthians encerrou o ano de 2024 com um déficit de R$ 181,7 milhões e uma dívida total que já bate a casa dos R$ 2,5 bilhões. Nos últimos dias, o clube ainda antecipou R$ 30 milhões em direitos de transmissão neste ano, um sinal de que o fluxo de caixa está no limite.

Do lado tricolor, a situação também é grave: o São Paulo acumulou déficit de R$ 287,6 milhões em 2024 — o quinto resultado negativo em seis anos. A dívida total do clube cresceu 45% em apenas um ano, saltando de R$ 666,7 milhões em 2023 para R$ 968,2 milhões em 2024. No primeiro semestre de 2025, o clube ainda registrou um prejuízo de R$ 31,8 milhões — embora o número tenha vindo abaixo do estimado no orçamento aprovado.

Por conta de todos esses problemas financeiros, o ESPN.com.br questionou Cesar Grafietti, economista e consultor de gestão e finanças do esporte. Para ele, os dois clubes vivem consequências de decisões tomadas a partir de um erro comum: tentar ser competitivo sem ampliar receitas, recorrendo cada vez mais a dívidas para contratar e sustentar elencos caros.

“As construções são demoradas, mas as destruições acontecem rápido e é por isso que muitas vezes a gente não percebe, justamente porque o campo ajuda a encobrir esse tipo de situação. Eu vejo Corinthians e São Paulo muito parecidos na forma como eles se desestruturaram, porque foram lentamente aumentando suas dívidas, buscando competitividade, pois eles foram incapazes no tempo de buscarem mais receitas, então eles ficaram muito estagnados em termos de receita por muito tempo e foram buscando competitividade, capacidade de contratar jogadores”, iniciou o especialista.

“O problema é que a dívida ficou tão grande que ela travou a gestão dos dois clubes. São clubes que perderam muito a relevância competitiva. Ganhar o Campeonato Paulista, uma Copa do Brasil pode acontecer, porque a gente está falando de futebol, mas o fato é, deixaram de ser competidores recorrentes de competições de grande porte, como Libertadores e Campeonato Brasileiro”, continuou Grafietti, sem esperanças de um futuro promissor tão cedo.

“A minha sensação é de que são dois clubes que terão muitas dificuldades em conseguir se reenquadrar num momento em que Palmeiras e Flamengo estão muito mais distantes do ponto de vista financeiro. As torcidas de São Paulo e Corinthians seguem buscando conquistas, precisam de relevância, e os dirigentes têm muita dificuldade agora em conseguir recuperar o tempo perdido, ou seja, controlar a dívida, controlar custo, pagar as contas, enfim, se tornarem fortes novamente. É um processo que vai levar pelo menos cinco, seis, dez anos, em alguns casos, para que esses clubes, que hoje têm receitas bilionárias”.

Apesar de ambos estarem mergulhados em dívidas, há diferenças importantes na forma como lidam com a crise. O São Paulo adotou o uso de um FIDC (Fundo de Investimento em Direitos Creditórios), que impõe limites para gastos, especialmente com o elenco. Segundo Grafietti, o clube tem respeitado essas travas, o que demonstra um início de reorganização.

“O caminho óbvio é controlar custos, tentar aumentar a receita, e aí o São Paulo, diferente do Corinthians, pelo menos tem uma iniciativa nesse sentido, que foi o FIDC, onde ele conseguiu colocar algumas travas, que têm sido respeitadas, então o clube não tem gasto acima do permitido, do ponto de vista de investimento em elenco profissional, enquanto que o Corinthians continua desorganizado e gastando da forma que bem entende. Claro que esse ano fez menos investimentos, mas porque no ano passado, de fato, foi muito grande, o investimento pra se salvar e montou um time caro, que permanece em boa parte daqui para 2025”.

De acordo com o economista, a dívida do Corinthians é tão pesada que a operação normal do clube já não é suficiente para garantir a sustentabilidade. Boa parte da receita anual (que ultrapassou R$ 1 bilhão em 2024) é consumida por folha salarial e encargos operacionais. O que sobra não cobre os altos juros das dívidas.

“O Corinthians precisa parar de aumentar a dívida, resolver a situação da Arena e alongar os passivos. A operação, por si só, não salva mais. Precisa de uma solução mais radical”.

Já o São Paulo, embora também sofra com o tamanho da dívida, ainda tem chances de se reestruturar pela via tradicional, se mantiver o controle rígido dos gastos e melhorar a eficiência na gestão esportiva.

“A dívida do São Paulo é muito mais com instituições financeiras, com bancos, do que a do Corinthians. O Corinthians tem uma dívida grande com o estádio, mas tem muita dívida de imposto atrasado, com outros clubes, agentes e tudo mais. Então são características diferentes de dívida. A do São Paulo, por ser uma dívida de mercado financeiro, ela tem soluções via mercado financeiro, sempre associadas com um corte de custo. Você tem que cortar custo para sobrar dinheiro e esse dinheiro te permitir operar o dia a dia do clube, mas ainda assim continuar pagando as dívidas”, explicou o analista.

“O Corinthians hoje é muito dependente de um processo de SAF, por exemplo, de um processo de recuperação judicial, porque só pela operação ele não vai conseguir se salvar. Acho que o São Paulo ainda tem um pouco mais de possibilidade de se resolver dentro do operacional por conta do perfil da dívida, mas ainda assim vai levar cinco ou seis anos para que a casa volte a ficar em ordem”.

Grafietti também critica a dependência política das diretorias em relação às torcidas organizadas — algo presente tanto em São Paulo quanto no Corinthians. Segundo ele, essa influência atrapalha decisões estratégicas que exigem visão de longo prazo, algo feito com primor por um grande rival deles, o Palmeiras.

“O Palmeiras conseguiu cortar esse vínculo e trabalha de uma maneira muito mais focada no que é a estrutura do futebol e muito menos permissível em relação ao torcedor, especialmente o organizado. O Corinthians tem uma dependência imensa dessa relação com o torcedor e a diretoria do São Paulo criou uma dependência enorme com a torcida organizada, a ponto da torcida participar das viagens, a torcida ir a treino, distribuir vídeo para todo lugar, estar questionando, criticando e participando da vida social do clube. Este comportamento tira inclusive a sua capacidade como gestor de tomar as decisões que têm que ser tomadas, porque você está sempre dependendo de um aval ou de uma aceitação do torcedor organizado que está ali pressionando. A mudança financeira virá junto com uma mudança estrutural de gestão que tome as decisões corretas pensando no futuro. O papel do torcedor é cobrar, é ser exigente, mas é cobrar também que cada vez mais os clubes tenham uma visão de longo prazo que passa necessariamente por ter finanças saneadas”.

Próximos jogos do São Paulo:

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