Publicado em: 22 de novembro de 2025

Evento, em Belém (PA), mostrou ainda a força da indústria do Petróleo, porém, houve avanços: nunca uma COP havia discutido claramente a questão e edição brasileira foi uma das que mais abordou mobilidade na história. Diário do Transporte acompanhou presencialmente na capital paraense
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
Foi concluído neste sábado, 22 de novembro de 2025, com atraso de um dia, por causa do incêndio na área de autoridades na Blue Zone e dos impasses sobre a busca de um acordo, o texto final do da COP30 (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas), em Belém (PA).
O Diário do Transporte, a convite da fabricante brasileira de ônibus elétricos e empresa de consultoria para eletrificação, Eletra Industrial, esteve na capital paraense, de forma presencial, realizando a cobertura.
O principal impasse entre as nações, a previsão do fim do uso dos combustíveis fósseis, não foi incluída no texto.
O “mapa do caminho”, que era a proposta do Brasil para criar metas de acordo com as realidades de cada grupo de Países, ficou de fora.
Entretanto, foi a primeira edição de uma COP na história que discutiu claramente a questão e o debate agora foi lançado para o mundo.
A criação de um “mapa do caminho” teve apoio de 80 países, aproximadamente.
Por outro lado, nações que produtoras de Petróleo, como a Arábia Saudita, se opuseram e articularam para que não houvesse nenhum compromisso formal na carta final da COP30 sob o argumento de que especificar nominalmente a exclusão de uma fonte de energia poderia causar prejuízos econômicos e sociais em nações que dependem deste tipo de combustível.
A exclusão da previsibilidade do fim dos combustíveis mostra a força política e econômica da indústria petrolífera no mundo o que explica, em parte, o não avanço mais rápido do uso de fontes alternativas em setores que tradicionalmente utilizam derivados de petróleo, como transportes de cargas e passageiros e fabricação de bens manufaturados.
Entretanto, mesmo com a decepção, a COP30 brasileira foi inédita e considerada inovadora em diversos aspectos.
Além de ter sido a primeira a debater nominalmente o tema fim dos combustíveis fósseis, como queria o Brasil, também discutiu temas sociais e assuntos mais presentes no dia a dia das pessoas comuns, como exclusão social, discriminação racial, de gênero e regional, povos indígenas e transportes públicos.
Conversando com jornalistas de outros países e com delegados e especialistas, todos que acompanharam edições anteriores, o repórter Adamo Bazani, ouviu que nunca uma COP teve tanto espaço aberto para mobilidade. Entre estes contatos, o que foi mais possível ouvir é que nunca uma COP foi tão pés no chão.
O Sistema Transporte da CNT (Confederação Nacional do Transporte) tinha um dos maiores espaços na Green Zone (área de livre acesso ao público em geral) e trouxe debates que não se limitaram ao óbvio. Por ouvir diversos atores da mobilidade, desde especialistas, academia, líderes de classes, a gestores públicos, fabricantes de veículos de transporte coletivo e de carga e operadores de serviços de passageiros e transportes de mercadorias, foi possível entender realidades sob diferentes pontos de vistas.
Entre as conclusões está de que os transportes estão entre os maiores responsáveis pela poluição no Planeta e lideram nas áreas urbanas. Mas quando se fala em transportes, os grandes vilões, de acordo com os estudos divulgados nos painéis, são os deslocamentos individuais e os de carga leves. Somados, os carros, motos e comerciais leves passam de 50% das emissões dos transportes, seguidos de caminhões, com 34%. Os ônibus respondem apenas por 11% das emissões e é nos deslocamentos coletivos, que está uma das saídas para combater a poluição nas cidades, além de reorganizar a distribuição de emprego e renda, diminuindo as distâncias e necessidades de deslocamentos.
Assim, incentivar os transportes públicos de média e alta capacidade, melhorando a infraestrutura e eficiência dos serviços, com mais corredores de ônibus e linhas metroferroviárias, e deixando as tarifas mais em conta, convenceria as pessoas a deixarem o carro e as motos em casa, e por si, só já seria uma medida em prol do meio ambiente, sem, no entanto, excluir os modelos de ônibus elétricos, a biometano (gás obtido na decomposição de resíduos), GNV (Gás Natural Veicular) e híbridos dos planos, uma vez que, além de benefícios nas reduções de emissões, a agenda ambiental pode ser estrategicamente econômica para o Brasil e América Latina.
“Pelo conhecimento ao longo de anos e anos de desenvolvimento em operações severas e com grandes variações regionais, climáticas, de infraestrutura, geográficas e até climáticas, pelo fato de o Brasil ser imenso, com dimensões continentais, sua indústria de ônibus elétricos é flexível, não vende modelos de prateleira e pode atender às necessidades de quaisquer outros países. Assim, podemos nos tornar grandes exportadores de ônibus elétricos para o mundo. E quando falo de ônibus, não é o veículo em si apenas. Mas o veículo, toda a cadeia de carregadores, baterias, inversores, capacitores, motores, infraestrutura em geral, e, acima de tudo, de expertise e conhecimento. Isso geraria emprego, renda, arrecadação, capacitação de mão de obra. E seriam exportações de produtos e serviços de alto valor agregado” – disse a presidente da Eletra, Milena Romano, em diferentes painéis oficiais no evento. A fabricante brasileira de ônibus elétricos e empresa de consultoria em eletrificação, lançou na COP30 a “Carta de Belém pela Eletromobilidade como estratégia ambiental, econômica e social para a América Latina”.
Relembre:
Os produtores de biocombustíveis e biometano, como os associados a ÚNICA, e de fabricantes de veículos, como a própria Anfavea, que reúne a indústria automotiva brasileira, também lançaram uma Carta ressaltando que será possível quadruplicar o uso destas fontes de energia até 2035 e que há potencial de o biometano substituir 60% do consumo de diesel em ônibus e caminhões.
Relembre:
Na Blue Zone (área restrita, de autoridades), também foram ouvidos especialistas, gestores e operadores de transportes.
Ministérios brasileiros também estiveram ativos em painéis, debates e exposições de exemplos e troca de experiências. Entre as pastas com maior quantidade de atividades foi o Ministério das Cidades, justamente a quem institucionalmente cabe viabilizar projetos de transportes públicos no Brasil, em auxílio a municípios e Estados.
Os BRTs (Bus Rapid Transit), sistemas de ônibus rápidos e de maior capacidade, em especial os metropolitanos, que ligam cidades diferentes numa mesma região, estiveram entre os destaques nos debates para soluções rápidas de infraestrutura, com exemplos de casos e visitas em delegações.
No próprio “quintal da COP30”, está um destes exemplos que atraiu as atenções de especialistas, autoridades brasileiras e delegações internacionais, recebendo visitas e vistorias: o BRT Metropolitano de Belém. O Diário do Transporte também conheceu o sistema.
Sendo inaugurado em 1° de novembro de 2025, e com as operações ainda em ampliação, o corredor possui, ao longo de cerca de 11 quilômetros, o atendimento a sete cidades: a capital Belém, Ananindeua, Marituba, Benevides, Santa Isabel, Santa Bárbara do Pará e Castanhal.
Em cobertura à COP30, em Belém, o Diário do Transporte visitou o sistema de ônibus e conversou com o diretor-geral da Arcon (Agência de Regulação de Serviços Públicos do Governo do Pará), Eduardo de Castro Ribeiro, que disse que a inclusão social com o BRT Metropolitano da região se deu porque das cidades de Santa Isabel, Santa Bárbara do Pará e Castanhal não havia ligação metropolitana alguma com a capital. As pessoas gastavam quase R$ 40 para se deslocar em vans inseguras para terem acessos a emprego, renda, lazer, educação e serviços de saúde mais aprimorados, disponíveis apenas em Belém.
Além disso, segundo Ribeiro, as obras do BRT Metropolitano de Belém permitiram uma readequação da BR-316, por onde passa, eliminando cruzamentos perigosos com passagens subterrâneas e passarelas. O trecho chegou a ser considerado um dos mais letais em rodovias do Brasil.
Relembre:
Ainda na cobertura do Diário do Transporte à COP30, o Ministro das Cidades, Jader Filho, disse que justamente pela carência de mobilidade com mais qualidade em ligações entre diferentes cidades numa mesma região e pelo caráter de integração e inclusão que estes sistemas podem ter, os BRTs Metropolitanos estão entre os focos de financiamento, estudos e planejamentos da pasta e que modelo de Belém deve ser replicado pelo país.
Relembre:
Assim, segundo especialistas, apesar das decepções, ainda mais com a exclusão de um plano para acabar com o uso dos combustíveis fósseis, a COP30 não pode ser considerada um fracasso. Nem um sucesso, logicamente, mas não deixou de ser pioneira, emblemática e que vai gerar frutos, porque houve a coragem de lançar sementes que antes nunca haviam sido plantadas.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes


