Publicado em: 12 de setembro de 2025
Estratégia VIGIAR cruza dados de saúde infantil com mobilidade urbana e pode antecipar a adoção de frotas limpas em corredores de alta demanda
ALEXANDRE PELEGI
A Secretaria Municipal da Saúde publicou a Portaria SMS.G. 622/2025, criando em São Paulo a estratégia Unidade Sentinela do Programa VIGIAR. O foco é analisar a relação entre poluição do tráfego e adoecimento infantil, especialmente em crianças de até cinco anos atendidas em unidades de saúde da rede básica e ambulatorial.
Os dados coletados serão cruzados com mapas de qualidade do ar, grandes eixos viários e fontes poluidoras. O diferencial é que a informação será territorializada, ou seja, mostrará em quais bairros, corredores e terminais os impactos da poluição se refletem mais fortemente na saúde.
Essa articulação representa uma mudança de paradigma. Não é mais apenas uma meta de sustentabilidade: trata-se de uma exigência de saúde pública. Se as Unidades Sentinela identificarem alta incidência de agravos respiratórios em regiões próximas aos corredores tradicionais, a resposta pode vir com ônibus elétricos, corredores verdes e estrutura urbana adaptada aos limites da criança.
Corredores de ônibus no centro das mudanças
A medida pode trazer efeitos diretos para os corredores exclusivos de ônibus, áreas onde há concentração de frota circulando com alta frequência. Se o georreferenciamento indicar maior incidência de problemas respiratórios nas regiões próximas, a Prefeitura terá embasamento técnico para:
Priorizar ônibus elétricos ou a biometano nesses corredores;
Acelerar a substituição da frota mais antiga e poluente;
Reforçar programas de monitoramento e manutenção das emissões;
Planejar novos corredores já com exigência de veículos de baixa emissão.
Projeto Corredor Verde já em estruturação
A Prefeitura de São Paulo já vem estruturando o projeto Corredor Verde, que tem a proposta de criar eixos de maior demanda de transporte por ônibus na cidade com caráter integralmente sustentável. A iniciativa prevê não apenas veículos livres de emissões, mas também estações de embarque e desembarque com energia solar, captação e aproveitamento de água de chuva, pavimento com tecnologia de escoamento e drenagem, além de maior área de jardinagem.
O prefeito Ricardo Nunes revelou ao Diário do Transporte que o primeiro eixo será o Corredor 9 de Julho/Santo Amaro, o mais movimentado da capital, com cerca de 700 mil passageiros por dia.
A conexão entre os dados do VIGIAR e a implantação dos Corredores Verdes pode reforçar ainda mais a prioridade para corredores críticos, acelerando a adoção de ônibus limpos justamente onde os impactos da poluição são mais graves para a saúde infantil.
Terminais como áreas críticas
Os terminais de ônibus, que concentram veículos em manobras de partida e chegada, também devem aparecer como pontos de maior exposição. Caso isso se confirme nos relatórios, soluções como barreiras ambientais, aumento de áreas verdes e priorização de veículos limpos podem ser adotadas nesses locais.
Zonas de tráfego intenso sob vigilância
Eixos como Radial Leste, Av. dos Bandeirantes, Marginal Tietê e Av. 23 de Maio deverão ser acompanhados de perto. O cruzamento dos atendimentos de saúde com os níveis de poluição poderá subsidiar medidas como zonas de baixa emissão (LEZ), restrições de circulação em horários de pico e maior oferta de transporte coletivo sustentável.
Saúde pública como motor da mobilidade
Ao mostrar com precisão onde o tráfego adoece mais, o município terá um instrumento inédito para pressionar por frota limpa nos corredores críticos. O VIGIAR, aliado ao projeto dos Corredores Verdes, coloca a saúde infantil como argumento central para antecipar mudanças na frota e no desenho da mobilidade urbana em São Paulo.
O que é o georreferenciamento no VIGIAR
O georreferenciamento é a ferramenta que permitirá cruzar os atendimentos de saúde registrados nas Unidades Sentinela com informações espaciais da cidade, como:
Qualidade do ar medida por estações de monitoramento;
Localização de vias e corredores de ônibus de grande circulação;
Terminais e garagens que concentram veículos;
Fontes fixas poluidoras (indústrias, estacionamentos, pátios de carga).
A partir desse cruzamento, serão gerados mapas de risco mostrando onde há maior associação entre poluição e adoecimento infantil. Com base nessas evidências, a Prefeitura poderá priorizar a implantação de ônibus elétricos e a biometano em corredores críticos, reforçar o controle de emissões e até estruturar zonas de baixa emissão.
Contexto e desafios
A frota elétrica da capital já é a maior do país em número de veículos circulando, com redução estimada de mais de 10 mil toneladas de CO₂ por ano.
Mas há obstáculos: infraestrutura de recarga, capacidade energética nas garagens e expansão da rede elétrica. A distribuidora ENEL tem se comprometido a equipar mais garagens com infraestrutura para milhares de ônibus elétricos até o fim de 2025.
O Programa BioSP, que incorpora ônibus a biometano como alternativa, também está em curso para complementar a transição, especialmente onde a eletrificação ainda enfrenta entraves logísticos ou financeiros.
A convergência entre VIGIAR e Corredores Verdes sinaliza uma nova etapa na mobilidade urbana paulistana. Na prática, São Paulo pode estabelecer eixos de transporte que não apenas cortam a cidade, mas também protegem a saúde das crianças. É um passo importante de planejamento que alia evidência técnica (atenção à saúde) a infraestrutura sustentável — algo cada vez mais urgente nas metrópoles do século XXI. Caberá à prefeitura utilizar os dados como ferramenta crucial de planejamento na mobilidade urbana.
Georreferenciamento como ferramenta estratégica
O georreferenciamento consiste em cruzar dados de saúde (atendimentos por doenças respiratórias em crianças, no caso da Unidade Sentinela do VIGIAR) com informações espaciais, como:
qualidade do ar medida em estações de monitoramento;
localização de vias de grande circulação (como Marginal Tietê, Radial Leste, Av. 23 de Maio, etc.);
corredores exclusivos de ônibus e terminais de alta demanda;
presença de fontes fixas de poluição (indústrias, garagens, etc.).
Esse cruzamento gera mapas de risco que indicam, por exemplo, se crianças que moram ou frequentam regiões próximas a corredores de ônibus ou terminais têm maior incidência de atendimentos respiratórios.
Impacto direto nos corredores de ônibus
Priorização de frotas limpas: ao identificar corredores com maior associação entre tráfego e problemas de saúde, gestores poderão priorizar a introdução de ônibus elétricos, híbridos ou a biocombustíveis nesses eixos.
Reforço no controle de emissões: dados georreferenciados podem servir de evidência para políticas de renovação de frota, alinhando saúde e transporte.
Terminais de ônibus como pontos críticos
Exposição concentrada: terminais concentram veículos em manobras e aceleração, gerando “bolsões” de poluentes. O georreferenciamento permitirá verificar se moradores do entorno apresentam mais atendimentos respiratórios.
Intervenções urbanísticas: com essa informação, pode-se justificar coberturas verdes, barreiras acústicas/ambientais ou relocações de garagens para mitigar impactos.
Zonas de tráfego intenso e políticas de mobilidade
Identificação de hotspots: cruzar saúde e tráfego apontará zonas críticas (como Radial Leste, Av. dos Bandeirantes ou Marginal Pinheiros).
Subsídio a medidas restritivas: esses dados podem embasar zonas de baixa emissão (LEZ), restrição de caminhões em horários de pico, ou mesmo ajustes em políticas de rodízio.
Planejamento integrado: orienta investimentos no transporte coletivo limpo em áreas de maior vulnerabilidade da população, especialmente crianças.
Relevância para políticas públicas
O diferencial é que os dados não serão apenas estatísticos, mas territorializados. Ou seja: gestores poderão dizer, com precisão, quais bairros ou corredores apresentam maior correlação entre poluição do ar e adoecimento infantil, transformando informações de saúde em evidência técnica para decisões de transporte e urbanismo.
Ricardo Nunes anuncia criação de corredores verdes para circulação exclusiva de ônibus elétricos ou a biometano em São Paulo
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes