Ver um time que costumava se impor perante qualquer adversário acumular uma série de derrotas marcantes surpreendeu o mundo – mas não quem ajudou a construir essa dinastia na Inglaterra.
Há uma década no Manchester City, Kevin de Bruyne viveu toda a transformação do clube, que, apesar de já endinheirado, ainda não conquistava títulos a rodo como passou a acontecer nas mãos de Pep Guardiola. Só que a atual temporada apresentou um cenário diferente.
Atrapalhado por lesões importantes e uma renovação tardia de um elenco envelhecido, o City apresenta sua pior versão com Guardiola. Está longe da briga pelo título da Premier League e em situação muito difícil na Uefa Champions League. Surpresa? Não para o craque belga.
“Acho que as pessoas esperam que a gente vença todo ano, então é por isso que, provavelmente, elas estejam surpresas”, falou De Bruyne, em entrevista exclusiva à ESPN. “Eu acho que às vezes você tem que viver momentos difíceis. Essa é a vida. Você não pode sempre estar em momentos muito bons, tem que passar por momentos difíceis. E nós estamos superando isso”.
Parte dessa temporada atípica tem a ver com a natural evolução do futebol. O Manchester City encantou o planeta com um jogo de posse de bola, trocas quase infinitas de passes e um controle absoluto do que acontecia nas quatro linhas. Hoje, sofre para competir fisicamente com as potências da Inglaterra (vide Liverpool e Arsenal) ou da Europa (como o Real Madrid).
De Bruyne acredita que as mudanças são parte do processo vivido pelo futebol inglês, que evoluiu de um jogo mais individual para um extremamente tático. A figura de Guardiola, claro, tem a ver com isso.
“Com o jeito que o Pep joga, isso transformou o futebol no mundo e agora ele está se tornando mais tático, mais baseado em sistemas. Você tem que funcionar como equipe. Diria que, 20 anos atrás, era um pouco mais individual. Mas eu acho que o problema agora é que você não pode cometer nenhum erro. Se você partir para o um contra um e perder a bola, você tem problemas”, opinou o camisa 17, que enxerga uma certa “culpa” do técnico do City.
“Acho que todo mundo sabe como ele joga, e ele fez isso no começo, com o um dois primeiro. Há sempre outras pessoas que também tiveram uma influência no futebol e mudaram ele. Mas, sim, ele tem sido um desses”.
Se o futebol mudou, De Bruyne também. Do reforço que chegou até certo ponto sem prestígio à Inglaterra, após uma passagem de pouco sucesso pelo Chelsea, ao craque que tornou-se uma lenda do Manchester City, o belga sabe que também precisou evoluir para seguir em evidência. Mas ainda consegue se enxergar como um “rebelde” dentro do rígido sistema de Guardiola.
“Diria que, de certa maneira, sou diferente porque jogar por 10 anos em um sistema e fazendo as coisas de uma certa maneira vão te mudar. Obviamente, eu acho que quando você é jovem, você é mais ágil, mais técnico, eu acho que você se torna mais eficiente conforme fica mais velho”, falou o meia.
“Eu ainda estou feliz com a maneira que penso sobre o jogo, eu ainda sou um rebelde, porque eu jogo com espaços, mas esse é mais o meu jogo. Eu não sou um driblador técnico no um contra um, individualmente, mas sou mais dessa maneira que ainda consigo a liberdade para fazer o que faço de melhor e isso é importante para mim”.