Publicado em: 7 de setembro de 2025
O motorista da Fênix, de Serra Negra (SP), é um apaixonado por transportes e aproveita a bênção do seu trabalho para registrar os presentes que a Natureza dá a humanidade e nem percebemos
ADAMO BAZANI
Colaborou Vinícius de Oliveira
Independentemente de religiões ou crenças (ou até mesmo de se acreditar em algo), a Vida, por meio da Natureza, abençoa a humanidade a cada dia.
O ar, a água, as fontes de alimentos, a terra…Quem nunca, num momento de angústia, olhou para uma plantinha, nem que seja na selva de pedras cinzenta de fumaça e de concreto, e sentiu um certo alívio? Muitos já, mas talvez nem perceberam ou se lembram.
Ao ser humano, foi dado um dom, uma faculdade, que o distingue dos outros animais: a capacidade de contemplação.
Contemplar não é ficar parado olhando uma determinada cena ou situação. Mas é o dom de perceber…e aí, não somente Natureza, mas a vida, o cotidiano. Paisagens, mas cenários e fatos.
Poucas profissões dão esta oportunidade. Motorista de ônibus é uma delas.
Mesmo na correria, na necessidade de prestar atenção no trânsito e na responsabilidade técnica e de segurança, o motorista de ônibus pode contemplar. Enxergar fatos e cenários.
O parabrisa do ônibus pode ser somente um vidro, mas também, pode ser um portal que se transforma em vários elementos: num quadro de pintura artística; em palcos com cortinas que se descerram; em telões de cinema com a arte da vida real; num ato da sinfonia da vida; numa melodia de momentos alegres, leves e felizes, mas também de tristeza, dor, lágrimas, perdas, decepções e descrenças.
UM JOVEM MOTORISTA DA FÊNIX DE SERRA NEGRA, QUE SENTE, CONTEMPLA E REGISTRA OS PEQUENOS IMENSOS PRESENTES DS VIDA

A pintura do ônibus parece conversar com a pintura da Criação
O jovem Márcio Alves Gonçalves, de 30 anos, é motorista de ônibus da Fênix, empresa concessionária do serviço municipal de Serra Negra, uma das cidades mais bonitas e agradáveis do interior paulista, integrante do circuito das águas, pelas fontes naturais de águas com diversas propriedades naturais, até mesmo com indicações de usos medicinais.
Alves sempre foi apaixonado por ônibus, desde criança.
Uma das empresas que despertaram esse amor foi a Viação Gaivota, que operava antes em Serra Negra.

Foto de um passeio que Adamo Bazani fez em 1992, na cidade de Serra Negra, com a mãe, Ada Alonso Justo Bazani (na imagem descendo do ônibus) e com o pai, Wilson Bazani. Márcio se emocionou ao ver um dos ônibus que de tanta paixão, fez até miniatura
O jovem decidiu entender uma das bênçãos de sua profissão. A contemplação. E foi além, passou a registrar as cenas e as paisagens de locais onde atua.
TURISTANDO NA REALIDADE:
Este repórter, no fim de semana de 30 e 31 de agosto de 2025, foi ao interior paulista, em meio a uma tribulação familiar e profissional.
Mas quis aproveitar um momento de alívio para conhecer Serra Negra.
O local do ponto de vista de turismo é sensacional…as fontes, o teleférico, o Cristo, o alto da Serra, a gastronomia (se come com qualidade, barato e MUITO no centro da cidade. Quem está de dieta, vai escorregar).
Mas é hábito deste repórter conhecer as cidades reais, além dos picos de turismo. Onde e como as pessoas moram e vivem ou sobrevivem.
E a melhor maneira disso, que o Diário do Transporte recomenda, é andar de ônibus urbanos.

A cidade toda é uma atração
Nos informamos na rodoviária qual seria uma linha interessante.
Um motorista falou, pega aquele ônibus (que já estava dando ré para sair)
Era o “Bairro da Serra”. A população local não conhece em Serra Negra, as linhas por números, mas por bairros. Apesar de, na programação do letreiro eletrônico para o motorista selecionar e para fiscalização da prefeitura e da empresa, a linha ser registrada como 01, para os passageiros o número não aparece.
Dito e feito: por R$ 4,00 (valor da tarifa, que é paga em dinheiro), foi possível contemplar uma Serra Negra que poucos turistas conhecem. Uma Serra Negra do povo, rural, onde se planta, se irriga, se colhe. Se cria gado.
O trabalho é grande, mas nem por isso a vida é ruim. Pelo contrário. Apesar do cansaço, pelo menos naquele ônibus, os rostos estavam leves e serenos. Havia uma sensação de liberdade que há muito tempo não percebia nas pessoas, morando na agitada Santo André, região altamente urbanizada da Grande São Paulo, e transitando pelas vizinhas capital paulista, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul.
O ônibus pega morros, numa paisagem lindíssima. Fruto da criação.
A estrada, asfaltada, é sinuosa, curvas fechadas, subidas e descidas bem inclinadas.
Até que o asfalto (em muito bom estado, ressalta-se) dá lugar a uma rua de terra, mas com cara de urbana ainda, até virar típica estrada de chão batido rural.
Inclusive, estrada danificada por marcas de pesadas máquinas agrícolas.
O ônibus vai rasgando de um lado plantações, de outro, natureza.
Gados e cavalos praticamente contemplam o ônibus…é sério…eles estão pastando. Quando o bruto igual a eles, mas de metal, passa , os animais param e olham (Isso me chamou muito a atenção). Mas aparentemente, nada assustados.
FUI EXTERNALIZAR UM SENTIMENTO, GANHEI UM AMIGO
Este repórter na parada de virada de linha foi elogiar tudo para o motorista. Tinha de externalizar o sentimento, a admiração. Na verdade, nem era externalizar, mas comemorar o momento.
Foi aí que ele contou que faz estes registros. Para arquivo pessoal.
Serra Negra é linda pelo seu turismo tradicional, mas belíssima pela Natureza.
Este repórter logo pensou.
Por que não dividir estes arquivos maravilhosos gerados pelo motorista com os leitores?
A tempo, tudo é feito por Márcio Alves com o ônibus parado. Segurança em primeiro lugar.
Como começou no serviço escolar como motorista, foi possível a Márcio registrar locais diferentes.
A trajetória de Márcio nos transportes, ele mesmo conta.
DICA DO REPÓRTER
O fim do passeio, já de noite, foi antecedido por um pôr do sol maravilhoso, alaranjado com tons de rosa…diferentes do laranja do céu poluído das médias e grandes cidades.

Pôr do Sol em Serra Negra, um presente no fim do passeio
E este repórter diz: Conheça Serra Negra, a do turismo clássico, mas se der, pegue ônibus urbano, ao menos o Bairro da Serra, na rodoviária mesmo.
Veja o relato de Márcio, mais vídeo do passeio e as fotos.
“Eu comecei no guichê rodoviário em 01/09/2019 e terminei meu contrato com ele 18/12/2020, assim entrando de garagista na Fenix na manobra dos veículos e abastecimento.
Quando passei para motorista de ônibus escolar, foi na data de 25 de novembro de 2021. Aí nesse tempo, fiquei rodando no Bairro das Tabaranas como motorista escolar e em finais de semana ia fazer linhas urbanas na cidade.
Eu e meu amigo Adamo, andamos na linha Bairro da Serra, que tem como seu ponto final no Jardim do Salto que faz divisa com as cidades de Socorro e Lindóia. Já o local que a gente fez a volta com o ônibus retornando para o Terminal Rodoviário é bairro Jardim do Salto. Nesse percurso, foi o ônibus de prefixo 25483, ano 2019/2020. O modelo é OF-1519 sobre um chassi Mercedes-Benz, Euro 5, carroceria Marcopolo Torino”

Estrada sentido ao trecho final Bairro do Salto; 01º de setembro 2025 – Linha Bairro da Serra

Bairro Barrocão, Estrada do bairro Barrocão; 15 de agosto 2025

Estrada sentido Bairro da Serra; 23 de agosto de 2025 – Linha bairro da Serra

Estrada sentido a fazenda Mário Orlandi Serra negra sp 30 de agosto 2025 Linha : Bairro da Serra

O poderoso Neobus Scania, um dos preferidos na história de Márcio: subia até paredes e montanhas

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O primeiro escolar da carreira, no qual começou na manobra

Um dos últimos escolares
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
Colaborou Vinícius de Oliveira