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“É preciso redefinir a Mobilidade Urbana com foco em uma nova relação entre passageiros e o sistema de transporte coletivo”


Gustavo Balieiro, diretor da Bus2

Em entrevista na UITP Summit, na Alemanha, Gustavo Balieiro e Marco Littig explicam como abordagem da empresa, focada em dados massivos, busca entender e induzir o comportamento do usuário

ALEXANDRE PELEGI

Em meio à efervescência do UITP Summit em Hamburgo, Alemanha, um dos mais importantes eventos de mobilidade urbana global que aconteceu nesta semana, de 15 a 18 de junho de 2025, o Diário do Transporte conversou com Gustavo Balieiro e Marco Littig, diretores da Bus2, diretamente do stand da empresa. Focados em um modelo de crescimento orgânico e na redefinição da relação entre passageiros e o sistema de transporte, eles compartilharam insights sobre a trajetória da empresa, os desafios do mercado e sua visão de futuro.

Gustavo e Marco conversaram com a jornalista Renata Veríssimo, da Impacto RV Comunicação, numa colaboração especial para o Diário do Transporte.

Leia os principais pontos da entrevista:

Diário do Transporte: Gustavo e Marco, como foi a experiência da Bus2 nesta edição do UITP Summit?

Gustavo Balieiro: Estar aqui em Hamburgo, pela segunda vez com nosso stand, é um marco importante. Essa exposição externa começou em Barcelona, em 2023, e foi crucial para as empresas brasileiras nos verem com seriedade. Aprendemos muito desde então, inclusive sobre as ‘pegadinhas’ logísticas e tributárias. Nesta feira, por exemplo, compramos duas televisões smart para o stand porque era mais barato do que alugar, e as doamos a garçons ao final, já que não podíamos levá-las de volta. Viemos com uma equipe significativa, contando com o pessoal da Bus2 e nossos parceiros da Forsmart, somando cerca de dez pessoas ao todo.

Marco Littig: Exatamente. A movimentação no stand foi intensa, com várias empresas nos procurando para entender nossos produtos e a forma como trabalhamos. É gratificante ver esse interesse crescente.

 

Diário do Transporte: A Bus2 se destaca por ser uma empresa de crescimento orgânico. Em que momento a Bus2 se encontra hoje, em meados de 2025, e o que significa essa abordagem?

Gustavo Balieiro: Estar em meados de 2025 e saindo deste Summit de volta para o Brasil é um momento de consolidação. Estamos simplesmente fazendo o que nos propusemos a fazer em 2021. Ser uma empresa de crescimento orgânico significa que estamos com nossas próprias pernas, escolhendo o que e como vamos fazer. É uma caminhada longa, que exige paciência, mas felizmente, temos paciência e tempo. Estamos literalmente no caminho do destino que traçamos.

 

Diário do Transporte: Marco, como vocês avaliam a inovação no setor de mobilidade observada aqui no Summit, especialmente em comparação com edições anteriores?

Marco Littig: Essa é uma questão crucial para nós. Não vimos nenhuma grande evolução desde o evento de Estocolmo em 2019. Em Barcelona, em 2023, houve uma grande evolução em termos de beleza dos produtos, experiência do usuário e interface. Mas, o que nos chamou a atenção é que não tivemos nenhuma inovação tecnológica. E aqui, em 2025, a situação se repete: evolução no design, mas nenhuma inovação tecnológica de fato.

Gustavo Balieiro: É um ponto que nos assusta um pouco. Todo mundo fala em “olhar para o passageiro” e “para a demanda”, mas a prática mostra que o mercado continua oferecendo produto e serviço para a oferta. São poucos que realmente entregam soluções de informação ou aplicativos para o usuário. O que realmente falta é um ecossistema que converse com o usuário, entenda seu perfil comportamental e, mais importante, consiga induzir comportamento através de ferramentas para o passageiro. E isso, não tem ninguém fazendo.

 

Diário do Transporte: Essa é uma observação muito incisiva. Isso significa que a Bus2 está trilhando um caminho pioneiro?

Marco Littig: Sim, absolutamente. O que estamos fazendo reforça a nossa convicção de que precisamos ter paciência e continuar, pois estamos num caminho que é muito diferente. Não estamos falando apenas de sermos pioneiros no Brasil, mas sim pioneiros no mundo. Tivemos várias reuniões aqui onde todos ficaram impressionados com a nossa abordagem. Embora o desafio de provar nosso valor na Ásia ou nos Estados Unidos seja grande, estamos muito confiantes e confortáveis. A Bus2 vem se consolidando.

 

Diário do Transporte: Com essa visão tão clara e um caminho tão distinto, quais são os maiores desafios que a Bus2 enfrenta hoje, pensando no mercado da América Latina, e que soluções vocês enxergam para esses desafios?

Gustavo Balieiro: O maior desafio é a confiança. É fazer com que as pessoas acreditem e confiem na Bus2. Às vezes, somos vistos como uma ‘empresinha’ ou uma startup, e temos que provar que sabemos o que estamos fazendo e que nosso produto tem valor. Temos um cliente que fechamos este ano, por exemplo, que o Marco prospectou por oito anos. Então, é sobre estabelecer uma marca que se torne confiável, com produtos confiáveis que de fato tenham valor para os clientes. O mercado leva um tempo natural para amadurecer e entender o que fazemos, porque algumas coisas não são fáceis de assimilar.

Marco Littig: E o ponto central é a clareza sobre qual problema nos propomos a resolver. Muitas pessoas falam em resolver a evasão da demanda do sistema, mas se elas não entendem por que a demanda está evadindo, o que elas estão resolvendo? Não é sobre colocar um veículo zero-quilômetro, porque o passageiro não tem percepção sobre a idade do veículo; ele só não quer que o veículo quebre. Portanto, nosso papel e o do nosso ecossistema são essas camadas: comunicar com o passageiro, entender o passageiro e, o que realmente vai mudar o jogo, induzir o passageiro a fazer aquilo que nem mesmo ele sabe que é bom para ele. Ainda não estamos ouvindo o usuário como deveríamos.

 

Diário do Transporte: Para finalizar, Marco, a Bus2 é conhecida por sua capacidade de lidar com dados massivos. Poderia nos dar uma dimensão do volume de dados que vocês processam e como isso se traduz em inteligência para o setor?

Marco Littig: Com certeza! O mais legal que conseguimos nesse tempo todo é a quantidade de dados que consumimos e geramos. Hoje, temos mais de 400 projetos na América Latina. A Bus2 possui o maior repositório de dados de mobilidade urbana da América Latina. Se consolidarmos os dados que temos no Brasil com os dados públicos, nos tornamos praticamente o terceiro maior player do mundo. Só na América Latina, temos cento e dois mil ônibus conectados à nossa plataforma, processando mais de um bilhão e meio de dados mensalmente. São mais de 400 projetos mapeados apenas no Brasil.

Gustavo Balieiro: É uma massa de dados absurda que demanda dezenas de servidores, mas que produz insights maravilhosos e inteligência. Essa informação não só nos capacita, como nos dá um conhecimento cada vez mais profundo do que é preciso fazer e para onde seguir. E o mais importante: se conseguimos fazer isso no Brasil, temos a confiança de que podemos replicar em qualquer lugar do mundo.

 

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

Renata Verissimo, jornalista da Impacto RV Comunicação, em colaboração especial para o Diário do Transporte





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