Publicado em: 23 de junho de 2025
Iniciativa da Guident, em parceria com a Adastec, utiliza ônibus em teste no campus da Universidade de Michigan
FÁTIMA MESQUITA, ESPECIAL PARA O DIÁRIO DO TRANSPORTE
No mês passado, um funcionário sentado à frente de um monitor na sede da empresa Guident em Boca Raton, Flórida, dirigiu remotamente um ônibus com nível 4 de automação que estava a 2.000 km de distância, circulando no asfalto do campus da Universidade de Michigan no norte dos Estados Unidos.
A empreitada envolveu a Adastec, empresa especializada em automação nível 4 para veículos comercias, um ônibus elétrico da (hoje falida) canadense Vicinity e faz parte do desenvolvimento do Centro de Controle e Monitoreamento (RMCC) que a Guident tem oferecido como uma espécie de último recurso caso algum veículo autônomo encontre problemas no mundo real. O experimento foi considerado pelos envolvidos como um sucesso, apesar de ter sido também descrito como uma teleoperação “quase” em tempo real.
A ideia por trás do RMCC da Guident é oferecer uma camada extra e humana de segurança que tenha escalabilidade, já que cada operador remoto pode monitorar ao mesmo tempo vários veículos. A iniciativa tenta também cortar caminho, tornando o nível 4 atual de automação mais viável e palatável enquanto várias frentes de trabalho no mundo todo trabalham para colocar de pé veículos com a automação completa e segura que se espera do nível 5.

A sala do RMCC da Guident na Flórida
O campus e o ônibus
O ônibus utilizado na operação faz parte do serviço regular oferecido no campus da MSU, foi adquirido alguns anos atrás e mobiliado com a parafernália high-tech pela Adastec.
O veículo conhecido como SpartanXpress na univerisidade tem cerca de oito metros de comprimento e 22 assentos além de equipamento e espaço reservado para cadeirantes. A bordo, existem seis unidades LiDAR, seis radares, oito câmeras RGB e uma unidade C-V2X (Cellular Vehicle-to-Everything), uma tecnologia que permite a comunicação entre veículos e com a infraestrutura ao redor.
Já os quase 1.000 km de ruas do campus da Universidade de Michigan têm servido regularmente como um centro de pesquisa e teste de veículos autônomos para projetos internos e externos. O espaço está salpicado de infraestrutura V2X e há um ecossistema todo dedicado ao tema envolve desde aspectos como biometria — incluindo o estado de saúde, bem-estar e cognição dos ocupantes do veículo –, segurança cibernética, estudos sobre o comportamento de pedestres e seu controle preditivo, fusão de dados dos radares, do LiDAR e das câmeras multiespectrais, além de aspectos sociais, econômicos, éticos e legais envolvidos na automação, e, por fim, a interface e a experiência do usuário em relação à aceitação e à confiança dos humanos.
Fátima Mesquita é jornalista e escritora, editora do ANTP Café e editora da Revista dos Transportes Públicos