20.9 C
Rondonópolis
quarta-feira, 10 dezembro - 02:01
- Publicidade -
Publicidade
HomeTransportes“Enquanto aviões da LATAM restringem banheiro para ‘classe superior’, setor rodoviário amplia...

“Enquanto aviões da LATAM restringem banheiro para ‘classe superior’, setor rodoviário amplia conforto e atrai passageiro”, diz consultor


Design sem nome – 1

Para Ilo Löbel da Luz, restrição da companhia aérea ao uso do banheiro dianteiro expõe retrocesso na experiência do cliente e abre espaço para avanço do transporte por ônibus, que democratizou o conforto

ALEXANDRE PELEGI

Enquanto o aéreo restringe o básico, o rodoviário democratiza o conforto: a lição da “crise do banheiro”

A medida adotada pela LATAM Airlines em voos domésticos — restringindo o acesso ao banheiro dianteiro exclusivamente aos passageiros da Premium Economy — trouxe à tona um debate amplo sobre atendimento, prioridades operacionais e o papel da aviação na jornada do passageiro. A determinação, segundo a companhia, segue “procedimentos de segurança e fluxo interno de cabine”, mas a repercussão expôs percepções muito distintas entre operação e experiência do cliente.

A orientação começou a circular internamente entre tripulantes no fim de novembro e rapidamente ganhou repercussão após passageiros relatarem que estavam sendo impedidos de acessar o sanitário dianteiro mesmo quando ele estava vazio. A LATAM reforçou que o banheiro da frente deve permanecer reservado à classe superior, direcionando passageiros da classe econômica exclusivamente ao sanitário traseiro, gerando filas alongadas e desconforto a bordo.

A justificativa operacional segue o argumento de controle de fluxo na área frontal da aeronave, especialmente em Airbus A320 e A321, os modelos mais usados nas rotas domésticas. No entanto, especialistas em experiência do passageiro avaliam que a medida, além de incomum, cria barreiras desnecessárias.

O consultor Ilo Löbel da Luz, advogado e especialista em regulação do transporte rodoviário, é enfático:

“Quando transformar banheiro em privilégio vira estratégia, é sinal de que a aviação perdeu o rumo. A LATAM trocou segmentação por segregação — e quem sente isso é o passageiro da econômica, tratado como um incômodo operacional.”

Impacto simbólico e erosão da experiência

Segundo usuários que relataram a situação em redes sociais, a tripulação chegou a posicionar barreiras físicas discretas e orientar verbalmente os passageiros da econômica a não utilizar o banheiro dianteiro, mesmo nos períodos de voo estável. O desconforto gerado pela fila única no fundo da aeronave intensificou a sensação de diferenciação forçada entre classes.

Para Ilo, esse impacto simbólico é mais nocivo que o operacional:

“Transformar uma necessidade fisiológica em marcador de classe envia uma mensagem devastadora: o cliente comum vale menos. Não existe entrega de valor quando um serviço básico é negado. Isso é miopia estratégica — e o mercado reage.”

A abordagem da LATAM contrasta com práticas internacionais, onde companhias associam diferenciação de classe a serviços adicionais, e não à supressão de acessos essenciais.

Enquanto o modal aéreo reduz a experiência a bordo, o transporte rodoviário interestadual vive um ciclo de qualificação acelerada. As classes Leito e Leito-Cama, e a expansão das frotas Double Decker, elevaram o nível de conforto em rotas que competem diretamente com o aéreo em viagens de até 800 km.

Ilo destaca essa evolução:

“Enquanto o aéreo aposta na escassez, o rodoviário ampliou o conforto e democratizou a experiência. Hoje não é raro o passageiro perceber que viaja melhor de ônibus do que de avião, pagando muito menos.”

Wi-Fi, plataformas de streaming, tomadas USB, maior espaço de poltronas e banheiros acessíveis tornaram-se padrão, criando uma comparação direta na mente do passageiro.

Para o consultor, o caso da LATAM funcionou como ponto de virada simbólico:

“Sem querer, a companhia entregou ao rodoviário uma campanha espontânea de marketing. O passageiro olha para o avião e vê barreiras; olha para o ônibus e vê acolhimento. A escolha fica clara.”

Ele aponta que, em um cenário de aperto de tarifas aéreas e aumento da ocupação média por aeronave, decisões como essa geram rejeição e estimulam a busca por alternativas.

“O cliente moderno compara dignidade. Isso não é detalhe. Se no ônibus ele é tratado como cliente e no avião como problema, a migração acontece sozinha”, diz.

A lição, conclui Ilo, é direta:

“Conforto real gera fidelidade. Exclusividade artificial gera rejeição. Hoje, nesse duelo, o transporte rodoviário está na cabine de comando.”


Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes



Fonte

RELATED ARTICLES

Most Popular

Recent Comments