Publicado em: 27 de agosto de 2025
Troca de trens, que não era necessária, agora terá de ser feita na Estação Barra Funda. Medida é criticada por especialistas
ADAMO BAZANI
Fim de um atendimento que vai deixar saudades:
Vai ficar com saudades quem está acostumado com a ligação de 101 km que abrangia 31 estações sem a necessidade de trocar de trens entre Rio Grande da Serra, no extremo da ABC Paulista e Jundiaí, no interior de São Paulo, passando por outros municípios do ABC, centro e zona Oeste da capital, Franco da Rocha e Francisco Morato.
Nesta quinta-feira, 28 de agosto de 2025, o Serviço 710 deixa de existir e os passageiros das linhas 7-Rubi e 10-Turquesa terão de trocar de trens na Estação Barra Funda, nas plataformas 5 e 6.
Isso ocorre porque a linha 7 foi concedida à iniciativa privada dentro do pacote que prevê a construção de um TIC (Trem Intercidades), entre a capital paulista e a região de Campinas, no interior. A linha 10 – Turquesa continua sendo de operação estatal, pela CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos).
Quem é TIC Trens:
O Consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos, a ração social da TIC Trens, que passa a operar a linha 7 e vai implantar o trem para Campinas é liderado pelo Grupo Comporte, controlado pela família de Constantino de Oliveira, atualmente maior empresário de ônibus do Brasil, o serviço 710, que “emenda” as linhas 7-Rubi e 10—Turquesa de trens metropolitanos de São Paulo, vai deixar de existir. O Grupo Comporte controla mais de sete mil ônibus no Brasil de empresas como Viação Piracicabana, Nossa Senhora de Penha, Expresso União, BRMobilidade, além de Constantino ser fundador da GOL Linhas Aéreas e operar o VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) no Litoral Paulista, entre Santos e São Vicente. Também integra o TIC Trens, a CRRC, empresa chinesa fabricante de trens.
Pode voltar, mas só se privatizar a 10 e trocar tecnologia, para Governo:
Nesta semana, o Governo do Estado admitiu que o Serviço 710 pode voltar, mas num futuro distante. Condicionou a retomada ao fato de passar para a iniciativa privada também a linha 10-Turquesa, cuja licitação está em fase de estudo ainda, e a mudança das tecnologias de sinalização e controle de trens de ambas as linhas.
Onde trocar de trens:
A partir de 28 de agosto de 2025, todos os passageiros são obrigados a descer na estação Barra Funda, na zona Oeste, e trocar de trens para completar a viagem. Para seguir sentido Jundiaí ou Rio Grande da Serra, os passageiros devem fazer a transferência no mesmo nível nas plataformas 5 e 6.
Na contramão do mundo e privilégio à iniciativa privada:
O fim do Serviço 710 foi criticado não apenas por passageiros, que perdem comodidade e viagens mais rápidas, mas por especialistas em transportes que estudam profundamente o assunto e até trabalharam efetivamente para o contrário do que está sendo feito.
Um deles é o mestre em Engenharia de Transportes pela Escola Politécnica da USP na área de Sistemas Inteligentes de Transportes (ITS, na sigla em inglês), Cláudio de Sena Frederico.
Relembre:
Secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo de 1º de janeiro de 1995 a 6 de agosto de 2001, nas gestões dos governadores Mário Covas e Geraldo Alckmin, foi um dos que atuaram na chamada Operação Centro, iniciada em 1994, e que reuniu investimentos e estudos para justamente reunificar as linhas originais de trens no Estado de São Paulo.
Atualmente, o engenheiro Cláudio de Senna Frederico é consultor internacional e vice-presidente da ANTP (Associação Nacional de Transportes Públicos), entidade que reúne técnicos e profissionais do setor acadêmico das áreas de mobilidade.
Hub Ferroviário é criticado:
O Governo do Estado diz que a Estação Palmeiras-Barra Funda se tornará um “hub ferroviário”, inclusive com a linha 11-Coral da CPTM sendo prolongada e passando também a atender o trecho entre Luz e Barra Funda. As operações assistidas em testes começaram na segunda-feira, 25 de agosto de 2025, e deveriam ser apenas fora dos horários de pico. Mas tiveram atendimento ampliado logo no primeiro dia porque um trem de manutenção no trecho do Serviço 710 descarrilou nas proximidades da Estação da Luz, causando bloqueio de circulação naquele ponto. A manhã foi de caos e o prolongamento foi uma tentativa de minimizar.
Relembre:
Na terça-feira (26) e na quarta-feira (27), a CPTM manteve o prolongamento da linha 11- Coral de Luz a Barra Funda durante todo o horário comercial, inclusive no pico, alegando testes de controle de trens.
O conceito “hub ferroviário” para trens metropolitanos, no entanto, não se aplica mais na visão de especialistas e só faz sentido para trens regionais de maior distância, como é o TIC (Trem Intercidades). Ou seja, tudo foi planejado para privilegiar a concessão.
O que era o Serviço 710, suas origens e destinos:
O serviço 710 teve início em maio de 2021, remete a um trecho da primeira ligação ferroviária do Estado de São Paulo, a Santos Jundiaí que começou a operar em 1867 a partir da Vila de Paranapiacaba, e atualmente beneficia cerca de 170 mil passageiros por dia que predem a oportunidade de ligações diretas. O trecho entre Rio Grande da Serra e Jundiaí possui 101 km, abrange 31 estações, englobando entre Rio Grande da Serra, no extremo da ABC Paulista e Jundiaí, no interior de São Paulo, passando por outros municípios do ABC, centro e zona Oeste da capital, Franco da Rocha e Francisco Morato.
O que passa a funcionar na Estação Barra Funda:
Além das linhas 7 e 10, o prolongamento da linha 11 e o Expresso Aeroporto da CPTM, a estação Palmeiras-Barra Funda recebe também as linhas 3-Vermelha de metrô e 8-Diamante de trens metropolitanos. A estrutura contempla ainda tem terminas de ônibus, com linhas municipais da capital paulista (SPTrans) e metropolitanas intermunicipais (Artesp), além dos rodoviários intermunicipais (Artesp) e interestaduais e internacionais (ANTT).
O Trem Intercidades São Paulo x Campinas e o TIM (Trem Intermetropolitano):
o início da operação do serviço expresso está previsto para maio de 2031. Ele será o primeiro trem de média velocidade do Brasil, que ligará de forma expressa São Paulo a Campinas, com parada em Jundiaí, alcançando uma velocidade de 140 km/h, capacidade de até 860 passageiros por viagem, com 101 quilômetros de extensão e 64 minutos de trajeto. Já o TIM tem previsão para maio de 2029. Ele ligará Jundiaí a Campinas em um trajeto de 44 quilômetros e 33 minutos, com paradas em Louveira, Vinhedo e Valinhos.
O leilão do projeto ocorreu em fevereiro de 2024. O consórcio C2 Mobilidade Sobre Trilhos foi o vencedor, com investimento estimado de R$ 14,2 bilhões.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes