Publicado em: 12 de julho de 2025
Ônibus à bateria da SPTrans, além de trólebus da capital e EMTU, têm excelente desempenho; trens da CPTM demonstraram maior eficiência energética por passageiro transportado
ALEXANDRE PELEGI
Que os ônibus elétricos e os trólebus, assim como o sistema de trens, são ambientalmente sustentáveis, todos já sabíamos. Mas quantificar qual a contribuição de cada modal na redução de emissões, auxilia os governos do Estado e do Município a elaborar políticas públicas que possam ser mais eficazes.
Evidente que há outros elementos que devem contribuir na elaboração de um amplo projeto voltado a um transporte de massa que seja mais eficiente sob diversos ângulos, inclusive o ambiental, mas essa discussão deve ser analisada sob os diferentes ângulos que possui.
A contribuição importante vem de um estudo comparativo abrangente sobre o consumo energético no transporte de passageiros em São Paulo, elaborado pelo Subgrupo de Eletromobilidade e Mobilidade Sustentável do Comitê Diretor de Transporte Integrado (CDTI), foi divulgado visando analisar os dados de empresas como CPTM, EMTU, Metrô e SPTrans.
O CDTI tem por objetivo a realização de estudos para a implementação de ações conjuntas para melhoria do transporte coletivo, e é constituído pelos órgão e empresas do Governo do Estado e da Prefeitura da capital paulista.
O principal objetivo do documento, finalizado em junho deste ano, é comparar os consumos dos veículos e seus impactos ambientais, sem abordar os custos, mas fornecendo uma base sólida para futuras análises sobre o tema.
A pesquisa busca quantificar a diferença de consumo entre as diversas tecnologias para identificar formas de alcançar um sistema de transporte de massa com o menor impacto ambiental possível.
O relatório aborda principalmente as emissões de gases de efeito estufa (GEE), com foco específico no dióxido de carbono equivalente (CO2e). O estudo explora a pegada de carbono dos modais de transporte e busca a diminuição dessas emissões para melhorar a qualidade do ar, especialmente em grandes cidades como São Paulo.
As emissões de CO2e são calculadas com base nos fatores equivalentes para diferentes fontes de energia:
- Para o óleo diesel, é considerado um fator de 2,671 kg de CO2 para cada litro consumido.
- Para a energia elétrica, o fator médio anual em 2023 foi de 38,5 kg de emissão de CO2 a cada megawatt-hora (MWh).
O estudo compara as emissões de kgCO2e/km e kgCO2e/passageiro (real transportado) para os diferentes modais no ano base de 2023
Veja um resumo das principais conclusões do estudo:
O estudo ressalta a importância da busca por soluções tecnológicas mais sustentáveis e a substituição de veículos movidos a combustíveis fósseis, como o diesel, para diminuir as emissões de gases de efeito estufa e melhorar a qualidade do ar nas grandes cidades.
- Eficiência Energética por Quilômetro (MJ/km):
A conversão de todos os dados para Mega Joule (MJ) permitiu uma comparação direta entre os modais. O MJ é uma unidade de medida frequentemente utilizado para medir grandes quantidades de energia, como na área de transporte.
Os resultados para o ano base de 2023 mostram uma clara vantagem dos veículos elétricos:
– Os ônibus elétricos da SPTrans apresentaram os menores consumos, com destaque para o eMIDIÔNIBUS (3,82 MJ/km), seguido pelo eBÁSICO (4,64 MJ/km), ePADRON 1 (4,75 MJ/km) e eARTICULADO (6,73 MJ/km).
– Os trens da CPTM também se destacaram com um consumo de 7,57 MJ/km, sendo mais eficientes que os do Metrô (9,79 MJ/km).
– Os Trólebus da SPTrans (11,34 MJ/km) e da EMTU (11,95 MJ/km) também mostraram boa eficiência na categoria elétrica.
– Em contrapartida, os veículos a diesel apresentaram consumos significativamente mais altos, com os ônibus Biarticulados da SPTrans sendo os maiores consumidores (32,40 MJ/km), seguidos pelos Articulados 23m (30,60 MJ/km) e Articulados 18m (28,80 MJ/km). A frota diesel da EMTU em São Paulo registrou 17,87 MJ/km.
- Eficiência Energética por Passageiro Transportado (MJ/passageiro x km):
Considerando o número de passageiros transportados por carro ou veículo, a eficiência dos modais elétricos se sobressai ainda mais.
Os trens da CPTM são os mais eficientes nesse quesito, com apenas 0,024 MJ por passageiro por quilômetro.
O Metrô segue de perto, com 0,030 MJ por passageiro por quilômetro.
Já entre os ônibus elétricos da SPTrans, o eARTICULADO (0,056 MJ/passageiro x km) e o ePADRON 1 (0,059 MJ/passageiro x km) demonstraram alta eficiência.
Em contraste, a frota diesel da SPTrans e EMTU apresenta consumos consideravelmente maiores por passageiro. Por exemplo, o Miniônibus diesel da SPTrans (0,371 MJ/passageiro x km) e o Midiônibus diesel (0,338 MJ/passageiro x km) mostram-se menos eficientes.
- Impacto Ambiental – Emissões de CO2e:
A análise da pegada de carbono é um ponto central do estudo, alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e às demandas de indicadores ESG. Esses indicadores são métricas usadas para avaliar e monitorar o desempenho de uma empresa em relação aos critérios Ambiental, Social e de Governança (ESG), e medem o quão sustentável, socialmente responsável e bem gerida é uma organização.
Os modais com matriz energética elétrica, como ônibus elétricos e trólebus da SPTrans, e trens da CPTM e Metrô, apresentaram maior eficiência em comparação com os modais a diesel da EMTU.
Emissões por quilômetro (kgCO2e/km) em 2023:
Os modais elétricos têm emissões drasticamente menores: CPTM (0,079 kgCO2e/km), SPTrans Elétrico (0,081 kgCO2e/km), Metrô (0,105 kgCO2e/km) e EMTU Elétrico (0,128 kgCO2e/km).
Já os modais a diesel, por outro lado, têm emissões significativamente maiores: EMTU Diesel (1,059 kgCO2e/km) e SPTrans Diesel (1,513 kgCO2e/km).
Emissões por passageiro transportado (gCO2e/passageiro x km) em 2023:
A CPTM (13,12 gCO2e/passageiro x km) e o Metrô (22,15 gCO2e/passageiro x km) são os que menos emitem por passageiro.
As frotas a diesel da SPTrans (840,72 gCO2e/passageiro x km) e da EMTU (725,65 gCO2e/passageiro x km) são as que mais contribuem para as emissões nesse critério.
Média Anual de Emissão (tCO2e):
Em termos de emissão total anual, os modais a diesel da SPTrans (958.636,73 tCO2e) e da EMTU (354.614,93 tCO2e) são os maiores emissores.
Em contraste, os modais elétricos emitem muito menos: EMTU Elétrico (567,85 tCO2e), SPTrans Elétrico (2.118,91 tCO2e), Metrô (11.165,00 tCO2e) e CPTM (14.300,28 tCO2e).
Transição Energética:
De forma geral, os resultados do estudo demonstram que os modais que utilizam matriz energética elétrica emitem consideravelmente menos CO2e em comparação aos modais a diesel. O relatório enfatiza que o aumento da eficiência energética no transporte de passageiros gera ganhos ambientais substanciais, em especial na redução das emissões de gases de efeito estufa.
A pesquisa reforça a importância da transição energética, especialmente no que se refere ao impacto ambiental do uso de combustíveis fósseis. O transporte de passageiros em massa é essencial para o desenvolvimento urbano sustentável e possui um grande potencial para reduzir as emissões de CO2 em grandes centros urbanos. Essas ações estão alinhadas com a campanha global ‘Race to Zero’ da COP, à qual o Governo do Estado de São Paulo aderiu, buscando a neutralidade de carbono e a redução drástica das emissões de gases de efeito estufa. O estudo serve como um passo fundamental para padronizar dados e subsidiar futuros estudos sobre a mobilidade urbana em São Paulo, visando um futuro mais sustentável.
QUADRO RESUMO
CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos)
Modal: Trens
Sustentabilidade: É um dos modais mais eficientes ambientalmente, com as menores emissões por quilômetro (0,079 kgCO2e/km) e por passageiro transportado (13,12 gCO2e/passageiro x km) entre todos os analisados. Sua matriz é elétrica.
Metrô (Companhia do Metropolitano de São Paulo):
Modal: Trens.
Sustentabilidade: Também é um modal de alta eficiência ambiental, utilizando energia elétrica. Apresentou emissões de 0,105 kgCO2e/km e 22,15 gCO2e/passageiro x km, sendo o segundo mais sustentável por passageiro.
SPTrans (São Paulo Transporte S/A):
Modal Elétrico (Ônibus Elétricos e Trólebus):
Sustentabilidade: Os ônibus elétricos (eMIDIÔNIBUS, eBÁSICO, ePADRON, eARTICULADO) e Trólebus da SPTrans demonstram excelente desempenho ambiental. As emissões médias dos modais elétricos da SPTrans são de 0,081 kgCO2e/km e 31,25 gCO2e/passageiro x km.
Modal Diesel (Ônibus a Diesel):
Sustentabilidade: São os menos sustentáveis do grupo, com emissões de 1,513 kgCO2e/km e 840,72 gCO2e/passageiro x km. O estudo reforça a importância da substituição desses veículos movidos a combustíveis fósseis.
EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo):
Modal Elétrico (Trólebus):
Sustentabilidade: Os Trólebus da EMTU são ambientalmente mais vantajosos que seus congêneres a diesel, com emissões de 0,128 kgCO2e/km e 461,51 gCO2e/passageiro x km.
Modal Diesel (Ônibus a Diesel):
Sustentabilidade: Assim como os ônibus a diesel da SPTrans, os veículos a diesel da EMTU são grandes emissores, com 1,059 kgCO2e/km e 725,65 gCO2e/passageiro x km, o que os coloca entre os menos sustentáveis.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes