Publicado em: 6 de setembro de 2025
Cidades da Alemanha, Áustria, Hungria e Reino Unido anunciam novas compras e entregas de veículos elétricos, além de reforços em programas de incentivo
ALEXANDRE PELEGI
A primeira semana de setembro de 2025 foi marcada por anúncios importantes relacionados à eletrificação de frotas de ônibus urbanos em diversas cidades europeias. Entre contratos de fornecimento, entregas e políticas públicas de incentivo, os países do continente demonstraram que seguem acelerando a transição energética no transporte coletivo.
Alemanha: entregas, contratos e política nacional
Em Leipzig, a operadora LVB (Leipziger Verkehrsbetriebe), responsável pelo transporte público da cidade de cerca de 630 mil habitantes, assinou contrato para a aquisição de 40 Solaris Urbino 18 elétricos. Os veículos terão baterias de mais de 570 kWh e poderão ser recarregados por pantógrafo e plug-in.
A LVB atua com uma rede integrada de mais de 50 linhas de ônibus e 13 linhas de bonde elétrico, transportando diariamente cerca de 160 mil passageiros apenas nos ônibus. Com esse novo pedido, a empresa reforça sua meta de reduzir emissões e ampliar a participação de veículos zero-emissão em sua frota, em linha com a estratégia climática da cidade, que prevê neutralidade de carbono até 2045.
Em Wolfsburg, a operadora WVG (Wolfsburger Verkehrs-GmbH) colocou em operação 12 ônibus articulados MAN Lion’s City 18 E, marcando a primeira grande incorporação de veículos 100% elétricos em sua frota.
A WVG atende a cidade-sede da Volkswagen, com aproximadamente 125 mil habitantes, e opera cerca de 15 linhas de ônibus que transportam diariamente em torno de 40 mil passageiros. A empresa é subsidiária da holding municipal Stadtwerke Wolfsburg AG e desempenha papel central na mobilidade local, conectando bairros residenciais, o centro urbano e o parque industrial da Volkswagen. A entrada dos novos articulados elétricos representa um passo estratégico dentro do plano municipal de mobilidade sustentável, que prevê a eletrificação de toda a frota de ônibus até 2030.
Em Bonn, foram entregues 10 Mercedes-Benz eCitaro à operadora municipal SWB (Stadtwerke Bonn Verkehrs-GmbH). Além dos veículos, foi implantada no pátio de Friesdorf uma infraestrutura turnkey com oito pontos de recarga rápida por pantógrafo e duas conexões CCS2 (Combined Charging System tipo 2).
O CCS2 é o padrão europeu mais difundido para recarga de veículos elétricos por cabo, permitindo tanto cargas rápidas em corrente contínua (DC) quanto recargas em corrente alternada (AC). No caso dos ônibus, ele é usado em pátio para complementar a recarga feita por pantógrafos, oferecendo flexibilidade operacional: enquanto os pantógrafos garantem recargas rápidas entre viagens, as conexões CCS2 permitem carregamento mais lento e estável durante períodos de inatividade ou à noite.
A SWB é a empresa pública responsável pelo transporte de Bonn, cidade de cerca de 330 mil habitantes no oeste da Alemanha. A operadora administra uma rede composta por aproximadamente 30 linhas de ônibus e 4 linhas de bonde urbano (Stadtbahn), além de atuar de forma integrada com a VRS (associação regional de transporte do Reno-Sieg). A frota de ônibus da SWB é de cerca de 200 veículos, dos quais mais de 60 já são elétricos. A meta anunciada é alcançar 100% de operação com veículos livres de emissões até 2035, alinhada ao plano climático da cidade.
No plano nacional, a associação VDV (Verband Deutscher Verkehrsunternehmen), que reúne mais de 600 empresas de transporte público e operadores ferroviários na Alemanha, destacou o reforço das verbas federais para a compra de ônibus elétricos no orçamento de 2025. A entidade representa companhias municipais e privadas que juntas movimentam bilhões de passageiros por ano, incluindo ônibus urbanos, trens regionais, VLTs e metrôs.
Em comunicado, a VDV celebrou a continuidade dos aportes federais, considerados essenciais para a renovação das frotas, mas alertou que a digitalização dos serviços de transporte ainda não acompanha o mesmo ritmo. Segundo a associação, a combinação entre veículos livres de emissões e sistemas inteligentes de gestão de dados será crucial para garantir eficiência operacional, redução de custos e melhor experiência para os passageiros.
Áustria: novos recursos e ônibus turísticos
Na Áustria, o governo federal lançou uma nova chamada do programa EBIN (E-Mobilitätsoffensive für Busse und Infrastruktur). Criado para apoiar a transição energética no transporte coletivo, o programa disponibiliza subsídios que cobrem até 60% do custo adicional da aquisição de ônibus elétricos ou a hidrogênio em relação a veículos a diesel, além de apoiar a instalação de infraestrutura de recarga. A nova rodada aberta neste mês soma € 80 milhões e reforça a política austríaca de acelerar a descarbonização das frotas urbanas.
Na capital Viena, a Big Bus Wien, subsidiária da britânica Big Bus Tours – uma das maiores operadoras mundiais de ônibus turísticos de dois andares –, anunciou que colocará em circulação 16 ônibus double-deck elétricos até o fim de 2025. A empresa, que transporta milhares de visitantes por ano em Viena, vai integrar os novos veículos ao programa nacional eMove Austria, voltado à eletrificação de serviços turísticos e de transporte coletivo urbano. A iniciativa é considerada um passo importante para reduzir a poluição sonora e atmosférica em áreas históricas da cidade, como a Ringstrasse e o centro antigo, onde o tráfego turístico é intenso.
Reino Unido e Hungria: reforços locais
No Reino Unido, a Reptons Coaches, operadora familiar sediada no condado de Surrey, região ao sul de Londres com cerca de 1,2 milhão de habitantes, iniciou a operação de um Yutong E9L de 9,5 metros. A empresa atua no transporte escolar, fretamento e linhas suburbanas, atendendo principalmente comunidades locais que dependem do ônibus como alternativa ao carro em áreas menos servidas por trem.
O Yutong E9L é um ônibus elétrico compacto, ideal para cidades médias e áreas suburbanas. Com autonomia de até 300 km por carga, motor de 350 kW e capacidade para cerca de 60 passageiros, o modelo foi projetado para operar em ruas estreitas e rotas de menor demanda. Além disso, conta com sistema de climatização eficiente e carregamento rápido em cerca de 2 horas, o que facilita sua integração em operações escolares e de curta distância. A aquisição contou com apoio financeiro do conselho local, dentro de programas britânicos de incentivo à eletrificação do transporte.
Na Hungria, a BKK (Budapesti Közlekedési Központ) confirmou a preparação para a compra de 160 ônibus elétricos, em um dos maiores pacotes do Leste Europeu. Criada em 2010 como autoridade integrada de transporte da capital, a BKK é responsável pela coordenação do sistema público de Budapeste, cidade com 1,7 milhão de habitantes. A empresa supervisiona ônibus, bondes, metrô e até balsas no rio Danúbio, atuando em parceria com a transportadora BKV (Budapesti Közlekedési Vállalat), que opera diretamente a frota.
Atualmente, Budapeste conta com cerca de 1.200 ônibus em operação, dos quais pouco mais de 40 são elétricos. Com o novo pacote, a BKK pretende multiplicar por quatro a presença de e-buses até 2027, reduzindo significativamente as emissões e o ruído urbano. O investimento será parcialmente financiado pela União Europeia, dentro dos programas de modernização de mobilidade sustentável da região.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes