Publicado em: 12 de novembro de 2024
Diário do Transporte confirmou nesta terça-feira, 12 de novembro de 2024, com fontes ligadas às investigações que existe a apuração sobre envolvimento de pessoas em comum no possível esquema de infiltração do PCC nos ônibus e na morte do empresário Vinicius Gritzbach, no Aeroporto. Companhias correm o risco de descredenciamento
ADAMO BAZANI
O assassinato do delator do PCC (Primeiro Comando da Capital), o empresário Vinicius Gritzbach, executado a tiros de fuzil na última sexta-feira, 08 de novembro de 2024, no Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na região metropolitana, pode chegar aos transportes coletivos da capital paulista. Outras três pessoas foram baleadas, uma delas foi o motorista de carro de aplicativo Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, que não tinha nada a ver com o crime, mas foi atingido por um tiro de fuzil nas costas. Novais chegou a ser internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu. O motorista de aplicativo deixou esposa e três filhos, de 20 anos, 13 anos e 3 anos.
A possível ligação entre diretores de empresas de ônibus e a execução no Aeroporto é uma das linhas de investigação da Força Tarefa formada pelas polícias Civil e Militar de São Paulo, MPSP (Ministério Público de São Paulo) e Polícia Federal.
De acordo com as apurações, os elos seriam dirigentes da UPBus, empresa de ônibus que atua na zona Leste da capital paulista, e em 09 de abril de 2024, foi alvo, juntamente com a Transwolff, da zona Sul, da Operação Fim da Linha, do Ministério Público de São Paulo, que investiga crimes de lavagem de dinheiro do PCC por meio destas duas companhias de transporte.
O jornal Metrópoles trouxe nesta terça-feira, 12 de novembro de 2024, a informação que um áudio, atribuído ao advogado Ahmed Hassan, conhecido como Mude, mostra que ele teria oferecido R$ 3 milhões pela morte do empresário Vinicius Gritzbach.
Hassan é apontado como um dos sócios da UpBus que usaram a empresa para lavar dinheiro da facção criminosa.
O Diário do Transporte confirmou também nesta terça-feira, 12 de novembro de 2024, com fontes ligadas às investigações que existe a apuração sobre o “envolvimento de pessoas em comum no possível esquema de infiltração do PCC nos ônibus e na morte do empresário Vinicius Gritzbach, no Aeroporto”
A conversa de Hassan teria sido realizada com um policial civil do Denarc (Departamento de Narcóticos) de São Paulo, que também é investigado.
Como mostrou o Diário do Transporte, Hassan chegou a ser preso em 06 de agosto de 2024 pela Operação Decurio, da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes), de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, mas no dia 12 de agosto de 2024 conseguiu o direito de responder em prisão domiciliar.
Relembre:
Além de Ahmed Hassan, também é investigado no âmbito das apurações sobre a morte do empresário no Aeroporto, Silvio Luiz Ferreira, conhecido como Cebola, um dos principais sócios da UpBus e que teve na prisão decretada no dia da deflagração da Operação Fim da Linha em 09 de abril de 2024, mas foi considerado foragido.
De acordo com uma das fontes da investigação ouvidas nesta terça-feira, 12 de novembro de 2024 pelo Diário do Transporte, em dezembro de 2021, Cebola também teria “manifestado interesse” na morte de Vinicius Gritzbach por causa dos assassinatos de Anselmo Santa Fausta, o “Cara Preta”, e o motorista dele Antônio Corona Neto, o “Sem Sangue”.
“Cara Preta” e “Sem Sangue” foram executados em 27 de dezembro de 2021, no Tatuapé, zona Leste da capital paulista, e são apontados também como sócios da UPBus e elos com o PCC.
Em setembro de 2022, o Diário do Transporte noticiou que a Justiça determinou a apreensão de R$ 80 milhões em imóveis, helicóptero e lanchas atribuídos a supostos membros do PCC ligados aos transportes coletivos, entre os quais, de “Cara Preta”, que já tinha sido assassinado.
Relembre:
As defesas de Cebola e Ahmed Hassan não foram localizadas pelo Diário do Transporte até o momento para comentar as linhas de investigação informadas nesta terça-feira, 12 de novembro de 2024.
As fontes disseram ao Diário do Transporte que, por enquanto, tratam-se “apenas de suspeitas”, mas “fortes” e que a morte do empresário Vinicius Gritzbach, no Aeroporto, em Guarulhos (SP), pode causar “forte impacto” nos transportes por ônibus da cidade de São Paulo.
Como mostrou o Diário do Transporte, tanto a UPBus quanto a Transwolff, podem ser descredenciadas definitivamente do sistema da capital paulista.
Ambas empresas, sob intervenção do poder público desde 09 de abril de 2024, quando foi deflagrada a Operação Fim da Linha, do Ministério Público, foram notificadas pela prefeitura em 31 de outubro de 2024, e têm até a próxima semana para responderem aos apontamentos feitos pela avaliação externa realizada pela Fundação Carlos Alberto Vanzolini e pelos interventores da SPTrans (São Paulo Transporte). A Fundação foi contratada pela gestão do prefeito Ricardo Nunes por R$ 1,54 milhão para fazer esta avaliação.
Nunes já afirmou que, dependendo das respostas, UPBus e Transwolff podem ter os contratos rescindidos. Novas licitações seriam abertas para conceder as operações dos ônibus e das linhas a outras companhias.
POR ADAMO BAZANI
– OPERAÇÃO FIM DA LINHA – MINISTÉRIO PÚBLICO DE SP (TRANSWOLFF E UPBUS)
Condução: Ministério Público com Receita Federal e Polícias Civil e Militar sobre a Transwolff, que tem cerca de 100 linhas na zona Sul, 1206 ônibus e é a terceira maior frota da cidade É originária da cooperativa CooperPam. A operação é também foi sobre a UpBus, empresa da zona Leste com 13 linhas e 159 ônibus, que chegou a se chamar Qualibus, originária da garagem 2 da Associação Paulistana
Deflagração da Fase I: 09 de abril de 2024.
O Ministério Público, a Receita Federal e as polícias Civil e Militar deflagraram a Operação “Fim da Linha” que identificou um suposto esquema de lavagem de dinheiro do tráfico de drogas e outros crimes sob responsabilidade do PCC (Primeiro Comando da Capital) por meio de diretores de duas empresas de ônibus (Transwolff e UpBus).
Foram presos no dia Luiz Carlos Efigênio Pacheco, o Pandora (um dos donos da Transwolff), Robson Flares Lopes Pontes (Transwolff), Joelson Santos da Silva (Transwolff), por causa dos mandados de prisão. Também houve prisões em flagrante por porte de armas. Sócio da UpBus, Alexandre Salles Brito, foi preso em 16 de abril de 2024
Já Silvio Luís Ferreira, o Cebola, sócio da Upbus, por não ser encontrado no dia, foi considerado foragido. Também teve a prisão decretada, outro sócio da UpBus, Decio Gouveia Luiz, apelidado de Décio Português.
Desdobramento em 25 de junho de 2024: O Ministério Público de São Paulo realizou EM 25 de junho de 2024, a apreensão de 23 armas de fogo atribuídas ao presidente afastado da empresa de transportes UpBus, Ubiratan Antônio da Cunha.
Foi um desdobramento da Operação Fim da Linha, deflagrada em 09 de abril de 2024, que investiga a possível relação de diretores da UpBus, e da Transwolff, que opera na zona Sul da capital paulista, com o PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que atua dentro e fora de presídios.
Ubiratan Antônio da Cunha é um dos réus no processo que apura as supostas ligações entre parte dos transportes da cidade de São Paulo e o crime organizado.
Segundo o Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado ), do Ministério Público, a Polícia Civil havia sido procurada por integrantes da cooperativa Aliança Paulistana, que deu origem à UpBus por terem sido expulsos, com emprego de força física e intimidação verbal, da sede da empresa.
Ainda de acordo com a promotoria, a expulsão e a ameaça ocorreram no dia 05 de junho de 2024, por Ubiratan, mesmo sendo impedido por ordem da Justiça de frequentar a garagem.
Desdobramento em 16 de julho de 2024: Atendendo a pedido do MPSP, por meio do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (GAECO), a Justiça decretou a prisão preventiva do presidente afastado da empresa de transportes Upbus, Ubiratan Antônio da Cunha. Um dos alvos da Operação Fim da Linha, deflagrada em abril de 2024, se tornou réu pela prática dos crimes de lavagem de dinheiro e organização criminosa. O mandado foi cumprido nesta terça-feira (16/7) pela 2ª Delegacia da Divisão de Investigações sobre Crimes contra o Patrimônio (DEIC), da Polícia Civil.
No dia 5 de junho, a Polícia Civil foi procurada por integrantes da cooperativa sucedida pela Upbus em razão de terem sido expulsos da sede da empresa pelo dirigente da sociedade, atualmente impedido por ordem da Justiça de frequentar o local. Os fatos foram comunicados ao Ministério Público.
Posteriormente, o MPSP descobriu que, na mesma semana, o interventor nomeado pelo município foi atraído por funcionários da Upbus sob o pretexto de tomarem um café em um estabelecimento nas redondezas da garagem. O dirigente esperava por ele no local, em afronta à decisão judicial.
02 de agosto de 2024: Em primeira mão, no dia 02 de agosto de 2024, o Diário do Transporte mostrou que a prefeitura de São Paulo, por meio da Secretaria Executiva de Transporte e Mobilidade Urbana (SETRAM), contratou por R$ 1,54 milhão a Fundação Carlos Alberto Vanzolini para fazer uma avaliação externa independente nas empresas Transwolff e UPBus
31 de outubro de 2024: Em 31 de outubro de 2024, a prefeitura enviou notificação à Transwolff e UPBus, que desde 09 de abril de 2024 passaram a estar sob intervenção do poder público. Foi o primeiro passo para uma eventual (até então) possibilidade de extinção dos contratos com estas viações. O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, confirmou em 07 de novembro de 2024, que os contratos tinham o risco de fato de ser extintos. Nas palavras do prefeito, uma auditoria (avaliação externa) mostrou incapacidade financeira de a UpBus e a Transwolff continuarem operando na capital paulista.
Ela (auditoria) demonstrou algumas inconsistências do ponto de vista de gestão, a incapacidade financeira delas continuarem avançando.
– OPERAÇÃO ATARAXIA – DENARC (UPBUS)
Condução: Denarc – sobre UPBus (empresa da zona Leste com 13 linhas), que chegou a se chamar Qualibus, originária da garagem 2 da Associação Paulistana
Deflagração da Fase I: 02 de junho de 2022
Investigações começaram há mais de um ano a partir da morte Anselmo Santafausta, o Cara Preta, por questões ligadas ao crime organizado.
Segundo as apurações, boa parte dos mais de 60 sócios da empresa têm passagens pela polícia e ainda é envolvida com a criminalidade. A UPBus, de acordo coma Polícia, lava dinheiro de facções criminosas. O esquema também envolvia ganhos na Loteria Federal também para dar uma aparência legal ao dinheiro obtido em atividades criminosas.
Deflagração da Fase II: 15 de junho de 2022
Foram bloqueados entre R$ 40 milhões e R$ 45 milhões em imóveis e veículos da empresa de transportes urbanos UPBUS, que opera na zona Leste de São Paulo, e de investigados da “Operação Ataraxia”, que apura o uso da companhia de ônibus por uma facção criminosa para lavagem de dinheiro.
Todos os veículos da empresa UPBUS, dentre eles quase 250 ônibus, também foram objetos de sequestro, impedindo eventual a alienação dos veículos por parte da empresa. Estes ônibus poderão continuar operando, só que os ônibus não podem ser vendidos e a arrecadação da operação vai para conta judicial.
UPBus não se manifestou
OPERAÇÃO PRODITOR
Condução: Deic – sobre TransUnião (empresa da zona Leste com 524 ônibus), que surgiu da cooperativa Nova Aliança
Deflagração: 09 de junho de 2022
Investigações começaram após assassinato de Adauto Soares Jorge, ex-diretor, ocorrido em 04 de maio de 2020.
Polícia aponta que Adauto era “testa de ferro” do vereador Senival Moura (PT) na direção da empresa, que era utilizada para a lavagem de dinheiro de membros do PCC (Primeiro Comando da Capital). O próprio vereador era proprietário de 13 ônibus que prestavam serviços para a empresa. O parlamentar nega.
A Polícia chegou a apreender 18 ônibus, 14 operacionais e quatro que estavam na reserva em manutenção, mas os veículos foram devolvidos para operação.
A TransUnião não se manifestou.
MINISTÉRIO PÚBLICO:
O Gaeco, do Ministério Público do Estado de São Paulo, passou também investigar a possível ligação de empresas de ônibus da capital paulista com o crime organizado.
De acordo com o delegado-geral Oswaldo Nico Gonçalves, em 15 de junho de 2022, foi montada uma força-tarefa entre os promotores e a Polícia Civil.
CÂMARA MUNICIPAL:
Em 15 de junho de 2022, na Câmara Municipal de São Paulo, foi protocolado por um delegado da Polícia Civil um pedido na corregedoria da casa para investigar o vereador Senival Moura, do PT.
No dia 10 de junho de 2022, um pedido de abertura de CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) foi aberto pelo vereador Mario Palumbo Junior, o delegado Palumbo, do MDB. Houve poucas assinaturas no início: Fernando Holiday (Novo), Érica Hilton (PSOL), Sonaira Fernandes (Republicamos) e Marlon Luz (MDB), porém, Marlon Luz retirou sua assinatura.
Veja em:
CONTROLADORIA DO MUNICÍPIO:
A CGM (Controladoria Geral do Município) da capital paulista abriu sindicância para apurações internas sobre as empresas de ônibus que têm contrato com a prefeitura e que são investigadas pela Polícia Civil a respeito de um suposto envolvimento com o crime organizado em São Paulo.
De acordo com a prefeitura, haverá um compartilhamento de informações com as frentes policiais.
“A decisão foi tomada pela CGM após liderar reunião de representantes da gestão municipal com a Polícia Civil para compartilhamento das informações apuradas nas investigações sobre a utilização de empresa de transporte público para lavar dinheiro para organização criminosa”.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes