Publicado em: 24 de julho de 2025
Ao Deic, servidor público disse que escolha dos coletivos era “aleatória” e não havia motivação relacionada ao setor de transportes. Polícia não acredita no depoimento
ADAMO BAZANI
Colaborou Yuri Sena
Para chegar ao servidor da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), o motorista Edson Aparecido Campolongo, 68 anos, que confessou 18 ataques a ônibus, sendo 16 apenas no ABC, a Polícia Civil usou uma série de provas materiais.
Entre elas, imagens de monitoramento dos próprios ônibus, de trânsito, de vias públicas e de estabelecimentos comerciais, com as quais foi possível, além de obter prova material, estabelecer padrões de horários e rotas. (VEJA MAIS ABAIXO ALGUNS EXEMPLOS)
O Diário do Transporte teve acesso a algumas destas imagens, que mostram, entre outras características, uma presença constante ao longo do Corredor Metropolitano ABD, de ônibus e trólebus, sistema operado pela empresa NEXT Mobilidade, de 33 km que liga o Jabaquara, na zona Sul da cidade de São Paulo, a São Mateus, na zona Leste, passando pelas cidades de Diadema, São Bernardo do Campo, Santo André e Mauá (Terminal Sônia Maria), além de uma extensão de 15 km, entre Diadema e o Brooklin, na zona Sul da cidade de São Paulo.
A maior parte das captações de imagens ocorreu entre São Bernardo do Campo, em regiões como o Paço Municipal, no centro, e em Santo André, como no cruzamento das Avenida Pereira Barreto com Rua Ibiapava, entre a Vila Gilda e o Bairro Paraíso.
O carro era sempre um Virtus, à serviço da CDHU, mas alugado da CS Brasil, fretadora de frota, do grupo conhecido, na origem como “Júlio Simões”.
É que Edson era motorista do chefe de gabinete da CDHU, que mora em São Bernardo do Campo.
Todos os dias, o motorista deixava o chefe em casa, no ABC, e depois levava o carro para onde mora, em Taboão da Serra.
Aos policiais, o suspeito negou “predileção” por empresas de ônibus, disse que a escolha dos veículos de transportes coletivos era aleatória e que os locais de ataque eram simplesmente porque faziam parte de sua rota diária.
Dos 18 ônibus atacados atribuídos a Edson, 16 foram no ABC, entre ônibus e trólebus metropolitanos da NEXT Mobilidade e municipais da BR7 Mobilidade, além de um micro-ônibus escolar em São Bernardo do Campo, da Diastur, todas empresas que pertencem ao mesmo grupo. Uma série de ataques, que ocorreu em 17 de julho de 2025 no ABC, chamou a atenção pela semelhança dos danos aos coletivos, a maior parte atingida por bolinhas esféricas metálicas.
Em 15 de julho de 2025, um ônibus municipal da capital paulista, integrante do sistema SPTrans (São Paulo Transporte), pertencente a Alfa Rodobus, foi atingido na parte da tarde da Avenida Jorge João Saad. Um garoto de 10 anos que estava no coletivo ficou ferido, mas está fora de perigo. O coletivo também foi danificado por bolinhas metálicas.
Uma série destes artefatos foi encontrada pela Polícia na casa de Edson, que confessou ter comprado muitas destas bolinhas no ano passado ainda.
Isso reforça a tese da Polícia de que, apesar de a série de ataques ter começado no dia 12 de junho de 2025, somando até agora mais de mil em todo o Estado, tudo teria sido premeditado bem antes.
Aos policiais, Edson falou que não havia motivação relacionada ao setor de transportes e que seria uma forma de revolta contra a situação do País, a qual queria mudar com estes supostos protestos. Ao Deic, o servidor público reforçou que escolha dos coletivos era “aleatória”. A Polícia não acredita no depoimento.
Nesta quarta-feira (23), se entregou ao Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Bernardo do Campo (SP), Sérgio Aparecido Campolongo, de 56 anos.
Sérgio é irmão Edson Aparecido, de 68 anos, tinha também a prisão decretada.
O próprio Edson delatou Sérgio acusando o irmão de ter participado de ao menos dois destes 18 ataques a ônibus confessados, em especial no ABC Paulista e em parte da capital.
A Polícia Civil de São Paulo descartou os jogos de desafio pela internet como motivação da onda de ataques contra ônibus que já atingiu mais de mil coletivos, entre capital paulista, Grande São Paulo e litoral, sendo quase 550 somente no sistema municipal de São Paulo
A declaração foi do diretor do Deic (Departamento de Investigações Criminais), Ronaldo Sayeg, em entrevista coletiva nesta terça-feira, 22 de julho de 2025, a respeito da prisão de Edson, considerada até o momento principal prisão no âmbito destas investigações.
Ainda de acordo com o diretor do Deic, a hipótese de disputas sindicais também perdeu a força, mesmo porque houve já o dissídio coletivo da categoria e, mesmo assim, os ataques continuaram. Resta assim, como principal motivação, questões contratuais envolvendo empresas de ônibus
Ainda de acordo com o diretor do Deic, a hipótese de disputas sindicais também perdeu a força, mesmo porque houve já o dissídio coletivo da categoria e, mesmo assim, os ataques continuaram. Resta assim, como principal motivação, questões contratuais envolvendo empresas de ônibus
Relembre:
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes