Publicado em: 13 de setembro de 2025
Congelamento de verbas, cortes fiscais e proposta de fim do programa federal colocam em risco a substituição de milhares de ônibus a diesel
ALEXANDRE PELEGI
O EPA Clean School Bus Program (CSBP), programa da Agência de Proteção Ambiental dos EUA (EPA) voltado à renovação da frota de ônibus escolares a diesel por veículos elétricos ou de baixa emissão, foi lançado em 2021 como um dos maiores investimentos em transporte estudantil sustentável da história mundial. Criado no governo Biden, previa US$ 5 bilhões em cinco anos e rapidamente financiou milhares de veículos em todos os estados norte-americanos. Mas desde o início de 2025, sob a administração Trump, o futuro do programa entrou em xeque: verbas foram congeladas, incentivos reduzidos e o orçamento federal de 2026 já não prevê sua continuidade.
O que é o Clean School Bus Program
O CSBP tem como objetivo reduzir a poluição emitida por ônibus escolares, tradicionalmente movidos a diesel. O programa oferece subsídios e reembolsos para distritos adquirirem ônibus elétricos (BEVs), a gás natural comprimido (CNG) ou a propano — embora a esmagadora maioria das compras tenha sido de veículos 100% elétricos.
Até o final de 2024, foram financiados mais de 8.800 ônibus, atendendo a cerca de 1.000 distritos escolares em todos os 50 estados, territórios e comunidades indígenas.
As leis que criaram e sustentaram o programa
Bipartisan Infrastructure Law (IIJA): sancionada em novembro de 2021, destinou os US$ 5 bilhões iniciais ao programa.
Inflation Reduction Act (IRA): aprovada em agosto de 2022, reforçou o CSBP com incentivos fiscais e apoio à infraestrutura de recarga.
O impacto das mudanças no governo Trump
Desde janeiro de 2025, o programa passou a enfrentar obstáculos significativos:
Congelamento de verbas: logo no início do mandato, a Casa Branca suspendeu desembolsos de programas climáticos, incluindo o CSBP.
Corte de incentivos fiscais: em julho de 2025, a lei “One Big Beautiful Bill Act (HR1)” reduziu os créditos para veículos elétricos, exigindo que a compra fosse concluída até 30 de setembro de 2025 para garantir o subsídio.
Fim previsto no orçamento: a proposta de orçamento federal para 2026 não incluiu o CSBP, sinalizando a intenção do governo Trump de encerrar a política em âmbito nacional.
Consequências para distritos escolares
A incerteza afeta diretamente distritos escolares, fabricantes de ônibus e fornecedores de infraestrutura. Em estados mais ricos, como Califórnia e Nova York, há planos de manter a eletrificação com recursos estaduais. Porém, em regiões dependentes dos repasses federais, muitos distritos podem ser forçados a continuar operando frotas a diesel.
Organizações de pais e associações ambientais têm pressionado pela manutenção do programa, alegando que o diesel emite poluentes ligados a doenças respiratórias em crianças, além de contribuir para o aquecimento global.
Panorama internacional
O retrocesso nos EUA contrasta com a postura de países europeus, asiáticos e latino-americanos, que seguem ampliando investimentos em ônibus elétricos e criando programas nacionais de apoio. Para especialistas, o caso americano mostra como a mudança de governo pode impactar diretamente políticas de mobilidade sustentável, criando insegurança para fabricantes e operadores.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes
