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Indústria de fertilizantes vê disputa crescente por minerais como o fosfato


Essencial para as lavouras, o fosfato, uma das matérias-primas mais importantes para a produção de fertilizantes, tornou-se também um insumo fundamental para a produção de baterias de carros elétricos. Com a demanda crescente nos dois segmentos, a competição pelo minério deve se intensificar nos próximos anos.

Em um relatório que apresentou a investidores em março, a multinacional de insumos agrícolas Mosaic atestou que há um forte interesse no uso da matéria-prima no mercado bilionário de baterias automotivas à base de lítio, ferro e fosfato (LFP, na sigla em inglês). Até recentemente, o fosfato servia, basicamente, à indústria de fertilizantes.

Segundo a Mosaic, até o fim da década, o crescimento da produção será baixo, enquanto a demanda terá como propulsores as indústrias de carros elétricos e de sistemas de armazenamento de energia, além da agricultura. O aperto deverá ser particularmente crítico na China, o que levou o governo local a restringir, nos últimos dois anos, as exportações de quase 2 milhões de toneladas de fosfato.

“O motivo [da restrição] é garantir que os agricultores tenham acesso ao produto, para, em seguida, se suprir a demanda industrial. Só depois viria a exportação”, disse Jenny Yijun Wang, vice-presidente executiva comercial da Mosaic, durante uma conferência para investidores, que ocorreu em 18 de março, em Tampa, na Flórida (EUA).

Wang vê dois possíveis cenários. Um, de estrangulamento da oferta em virtude da demanda de diferentes segmentos por fosfato. O outro, avalia, é que o quadro aumente o apelo de projetos no ramo dos fosfatados no Norte da África e no Oriente Médio. Caso contrário, diz, o suprimento global ficará comprometido.

A nova demanda já se reflete sobre o valor do fosfato, em particular na China. A tonelada do DAP (fosfato diamônico) chinês estava custando US$ 583,50 até o dia 5 de abril, informou o boletim mensal da consultoria americana Trading Economics, que publica os valores da commodity diariamente. Os relatórios baseiam-se na cotação do produto na bolsa de Chicago.

Segundo a consultoria, o preço do DAP nos Estados Unidos subiu 1,47%, ou o equivalente a US$ 8,50 por tonelada, desde janeiro de 2025. A cotação nos EUA costuma ser a referência global.

A fórmula química do fosfato usado nas baterias é a mesma das lavouras: um átomo de oxigênio ligado a três de fósforo. E, embora o fosfato seja fundamental para o crescimento de plantas e largamente utilizado em lavouras de grãos nos Estados Unidos e no Brasil, fabricantes podem priorizar o fornecimento à indústria de veículos, um negócio mais previsível do que a agricultura, afirma André Maranhão, especialista em engenharia automotiva e mestre pela Universidade de São Paulo (USP).

“O fosfato é necessário para a construção de baterias e, por ser mais barato [do que outras tecnologias], as montadoras chinesas puxam o aumento dessa demanda. Isso vai gerar competição com a indústria de fertilizantes”, avalia o especialista.

Maranhão estima que uma bateria LFP de 180 quilos consuma de 6 a 7 quilos de fosfato, que é o material de melhor custo-benefício, segundo ele. A vantagem também pode incentivar empresas a pesquisarem fórmulas que utilizem mais fosfato do que lítio, por exemplo, cuja extração é mais complexa, afirma o especialista.

Nos últimos anos, as baterias LFP ganharam importância na indústria de carros elétricos porque sua produção é mais barata do que a das mais conhecidas, de íons de lítio. Além disso, as LFP dispensam o uso de minerais como cobalto e manganês, ambos de difícil obtenção, um trabalho que ocorre, muitas vezes, com grandes impactos ambientais.

Ele ressalta que o fosfato também pode ser uma fonte de energia domiciliar, um aproveitamento que já vem acontecendo na China. Para Maranhão, como a demanda pelo minério nas indústrias fora do agro só cresce, as fornecedoras de fertilizantes correm — ou vão começar a acelerar suas iniciativas nessa frente — para se tornar parceiras comerciais dessas outras indústrias.

A competição entre os segmentos agrícola e automotivo deverá encarecer os fosfatados no curto prazo, avalia o engenheiro. Para os agricultores brasileiros, isso pode representar um aumento de custo de produção, já que, atualmente, o país importa 70% do fosfato que utiliza nas lavouras. Em 2024, o Brasil importou 8,9 milhões de toneladas de fertilizantes fosfatados, segundo a Associação Nacional para a Difusão de Adubos (Anda).

A Mosaic, que já demonstrou interesse em ser fornecedora de fosfato para outros setores além da agricultura, projeta que a demanda agrícola pelo insumo será de quase 80 milhões de toneladas até 2030. A empresa calcula que o consumo global do produto crescerá a uma taxa média de 1,4% ao ano até o fim da década.

Uma fonte ligada ao ramo de fertilizantes, que prefere não ser identificada, avalia que a demanda por carros elétricos deve seguir concentrada na Ásia e que a tendência global aponta para consumo de carros híbridos. Para a fonte, esse é um dos fatores que ajudam a limitar altas mais expressivas dos preços do fosfato nas bolsas internacionais. Para a fonte, só a demanda da indústria automotiva por fosfato não deve direcionar a decisão de compra dos agricultores pelo fertilizante nos próximos meses, sendo necessário cautela para analisar o mercado e as cadeias de suprimento.



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