Publicado em: 14 de setembro de 2025
Opinião é do engenheiro e ex-secretário de Transportes, Jurandir Fernandes, em evento na capital paulista
ADAMO BAZANI
Da mesma forma que sistemas de BRT (ônibus rápidos em corredores) e trilhos não se rivalizam, quando planejados em redes, as tecnologias de trólebus (ônibus conectados à fiação área) e puramente a bateria também são amigáveis. E mais, em conjunto, são um dos caminhos para que se garanta transportes livres de emissões locais nas cidades que ao mesmo tempo sejam economicamente viáveis e tecnicamente possíveis.
A opinião é do especialista e engenheiro Jurandir Fernandes, que, entre outros cargos foi secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo e presidente da Divisão América Latina da União Internacional de Transportes Públicos (UITP).
Fernandes participou de um seminário dedicado ao tema no dia 14 de agosto de 2025, promovido na capital paulista pelo SEESP (Sindicato dos Engenheiros do Estado de São Paulo), no centro da capital paulista.
O Diário do Transporte acompanhou o evento.
Como tem mostrado o Diário do Transporte, o prefeito Ricardo Nunes disse em 23 de julho de 2025, durante entrega de ônibus elétricos com baterias que com o início das operações de um VLT (Veículo Leve sobre Trilhos) com duas linhas no centro da cidade, previsto para 2029 ou 2030, a rede de trólebus seria completamente desativada.
Um estudo elaborado pela Rede Respira São Paulo mostra que a decisão poderia ser um equívoco, já que a abrangência dos trólebus é em uma área maior na cidade, com uma rede de 150 km indo até as zonas Leste, Sudeste e Oeste, além do centro. O VLT teria apenas 16 km. Além disso, o estudo mostra que em diversas partes do mundo, VLT e trólebus não apenas convivem como melhor compartilham estruturas de redes e abastecimento.
Relembre
Desativar trólebus por causa de VLT (Bonde de São Paulo) é um desperdício e vai na contramão do que mundo pratica, aponta estudo (ENTREVISTA e VÍDEO)
Mesmo não fazendo parte da Rede Respira São Paulo, uma ONG formada por técnicos e especialistas nas áreas acadêmicas voltadas a meio ambiente e mobilidade, Jurandir Fernandes, concorda e vai além.
Para ele, não somente a nova tecnologia chamada E-Trol, que reúne no mesmo veículo as opções de rodar como trólebus conectado à fiação aérea e independente só com baterias é viável, como apenas a opção trólebus mesmo (mais tradicional).
O E-Trol (designação comercial dada no Brasil) é um tipo de veículo usado largamente na Europa , América do Norte e Ásia, custa em torno de 30% menos que os modelos só com baterias e por carregar enquanto trafega conectado, dispensa infraestrutura nas garagens, um dos grandes obstáculos para o cumprimento da frota de ônibus menos poluentes em São Paulo.
Fernandes fala como experiência própria.
Como secretário dos Transportes Metropolitanos, geriu o Corredor Metropolitano ABD, que conta com trólebus. De perto, ele viu por meio da operadora das linhas, Metra, na ocasião, a implantação de novos modelos e tecnologias e pode concluir.
“Os trólebus evoluíram com o tempo e são excelentes opções em corredores segregados, hoje em dia, inclusive. As quedas de redes foram minimizadas pelas tecnologias novas, os sistemas de tração avançaram e mesmo com a opção E-Trol, os trólebus apenas em configuração única, preferencialmente em corredores, inclusive em novos, são ótimas soluções. Além disso, os trólebus são amigáveis com outros meios, como VLTs, ônibus somente a baterias, que podem aproveitar até sua infraestrutura, e, acima de tudo, com a saúde das pessoas” – disse no evento.
O modelo E-Trol vai circular num novo corredor BRT, que está sendo construído entre o ABC Paulista e a capital.
A implantação está em atraso, mas por questões relacionadas às obras civis e não à tecnologia dos veículos.
Adamo Bazani, jornalista especializado em transportes
