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Investimento recorde de 1,6 bilhão de libras vai transformar ônibus na Região Metropolitana de Liverpool, Inglaterra


Plano da autoridade metropolitana prevê ampliação da frota elétrica, bilhetagem inteligente, franquia dos serviços e manutenção do teto tarifário de £2, uma das tarifas mais baixas do Reino Unido

ALEXANDRE PELEGI

A Liverpool City Region Combined Authority (LCRCA), autoridade pública responsável por coordenar o transporte, o planejamento urbano e os investimentos estratégicos da região metropolitana de Liverpool, noroeste da Inglaterra, anunciou oficialmente na semana anterior ao Natal um plano de investimentos de centenas de milhões de libras esterlinas para transformar profundamente o sistema de ônibus local. A iniciativa integra o pacote de £1,6 bilhão do programa Transport for City Region (TCR) — o equivalente a cerca de R$ 12 bilhões — e coloca o transporte coletivo no centro da estratégia regional de mobilidade, desenvolvimento econômico e transição ambiental.

O TCR é um programa do governo do Reino Unido que destina recursos de longo prazo a autoridades metropolitanas para financiar projetos estratégicos de transporte, infraestrutura e mobilidade integrada, vinculados a metas de desenvolvimento econômico e descarbonização.

Ônibus no centro da mobilidade regional: eletrificação

Com cerca de 1,6 milhão de habitantes, a região metropolitana de Liverpool apresenta uma particularidade relevante no cenário britânico: mais de 80% das viagens de transporte público são realizadas por ônibus. Esse peso do modal fez com que a LCRCA concentrasse esforços na modernização da frota, na reorganização operacional e na adoção de tecnologias que tornem o sistema mais confiável, acessível e integrado ao cotidiano da população.

Um dos pilares do plano é a ampliação da frota de ônibus zero-emissão, com foco em veículos elétricos a bateria. Atualmente, a região já opera mais de 100 ônibus elétricos, e o novo investimento permitirá acelerar essa transição. Após uma revisão técnica e financeira, a autoridade decidiu converter 20 ônibus que inicialmente seriam movidos a hidrogênio para modelos elétricos, sinalizando uma reavaliação pragmática sobre custos, maturidade tecnológica e infraestrutura necessária para cada tipo de solução energética.

Infraestrutura, confiabilidade e prioridade operacional

Além da frota, o programa prevê investimentos significativos em infraestrutura viária, corredores preferenciais, sistemas de prioridade semafórica e melhorias operacionais destinadas a reduzir tempos de viagem e aumentar a confiabilidade dos serviços.

No campo regulatório, o anúncio também reforça a aposta da região no processo de franquia dos serviços de ônibus, que devolve ao poder público o controle sobre rotas, frequências e tarifas, após décadas de operação predominantemente privada. A implementação está prevista para começar em 2026, inicialmente nos distritos de St Helens e Wirral, com expansão gradual para toda a região até 2027. O objetivo é integrar planejamento, operação e política tarifária sob uma única governança pública.

A política de preços segue como um elemento central do pacote. A LCRCA confirmou a manutenção do teto tarifário de £2 por viagem, uma das tarifas mais baixas do Reino Unido, além do congelamento do valor do bilhete diário destinado a jovens, conhecido como MyTicket. A estratégia busca conter o custo de deslocamento, ampliar o acesso ao transporte e reforçar o papel social do sistema, especialmente em um contexto de pressão inflacionária sobre o custo de vida.

Para o prefeito regional Steve Rotheram, o investimento representa uma mudança estrutural no papel do transporte coletivo na vida urbana. Segundo ele, a combinação entre frota limpa, tecnologia, controle público e tarifas acessíveis cria as bases para um sistema mais justo e eficiente, capaz de ampliar o acesso ao emprego, à educação e aos serviços públicos, ao mesmo tempo em que contribui para a redução das emissões de carbono.

O plano anunciado consolida a Liverpool City Region como uma das principais referências no Reino Unido em reorganização do transporte coletivo sob liderança pública, combinando transição energética, inovação tarifária e governança integrada — um modelo que vem sendo observado de perto por outras regiões britânicas e por cidades de diferentes países que buscam alternativas ao esgotamento do transporte individual.

Bilhetagem inteligente

Outro eixo central é a bilhetagem inteligente, baseada em pagamentos por aproximação (tap-and-go), que permite ao passageiro embarcar utilizando cartão bancário ou dispositivo digital, sem a necessidade de adquirir bilhetes físicos.

O sistema de bilhetagem inteligente na Região Metropolitana de Liverpool está em processo de evolução e integração para tornar o pagamento e o uso do transporte público mais simples, rápido e econômico, com foco em ônibus, trens e balsas.

Principais características do sistema

1. MetroCard – cartão inteligente reutilizável

O MetroCard é o cartão inteligente da região que pode ser carregado com diversos tipos de bilhetes (diários, semanais, mensais) e usado em trens, ônibus e futuros serviços integrados. Ele substitui gradualmente os bilhetes em papel e unidades antigas, estabelecendo a base para ferramentas mais modernas de bilhetagem.

2. Tap-and-Go (Pagamento sem contato)

Recentemente foi lançado um sistema “Tap & Go” no Merseyrail (rede ferroviária local), onde o usuário simplesmente encosta o MetroCard em leitores ao entrar e sair da estação. O sistema então calcula automaticamente a tarifa mais barata possível, aplicando teto de preço diário e semanal para garantir que o passageiro não pague mais do que o necessário.

3. Pagamento com cartão bancário ou smartphone (fase futura)
Embora o sistema atualmente utilize o MetroCard para o Tap & Go, **a próxima fase prevista permitirá pagamentos diretamente com cartões bancários contactless, smartphones e smartwatches — sem necessidade do cartão físico — aumentando a conveniência e modernidade do sistema.

4. Portal MetroSmart e compra online

Os usuários podem gerenciar e comprar bilhetes através do portal MetroSmart, que permite adquirir produtos e carregar o MetroCard online, oferecendo mais flexibilidade.

Objetivos e integração

O plano da autoridade de transporte é implementar um sistema integrado semelhante ao Oyster em Londres, com fare capping, pagamentos contactless e bilhetagem única para múltiplos modos de transporte (ônibus, trens e balsas), incentivando o uso do transporte público e reduzindo barreiras de uso.

O fare capping é um mecanismo que estabelece um teto automático de gasto para o passageiro, que paga por viagem no modelo tap-and-go, mas tem a cobrança interrompida ao atingir um limite diário ou semanal, garantindo sempre a tarifa mais vantajosa; a lógica contrasta com o modelo brasileiro, baseado na tarifa fixa por embarque e no vale-transporte, que subsidia o deslocamento casa-trabalho, mas não atua diretamente como instrumento tarifário para incentivar múltiplas viagens ao longo do dia.

A bilhetagem na prática para usuários

  • Ativação: Usuário obtém um MetroCard (geralmente com pequena taxa) e registra online.
  • Uso: Encosta para entrar/sair (tap-in/tap-out) no equipamento disponível.
  • Cálculo automático de tarifa: O sistema ajusta tarifas ao menor custo para o passageiro.
  • Futuro sem cartão físico: Em breve, será possível usar apenas cartões bancários ou celulares.

Em resumo, a bilhetagem inteligente em Liverpool está evoluindo de um esquema tradicional de cartões recarregáveis para uma solução moderna integrada com pagamento contactless, cálculo automático de tarifas e compra online, alinhada com as tendências globais de cidades com sistemas de transporte público de alta conveniência.

Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes

 



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