Publicado em: 27 de novembro de 2025

Estudo do Ipea aponta salto de mortes envolvendo motociclistas, que já representam quase 40% das vítimas no trânsito e 60% das internações por acidentes
YURI SENA
A Justiça de São Paulo negou na noite desta quarta-feira, 26 de novembro de 2025, o recurso apresentado pelo prefeito Ricardo Nunes para suspender o prazo de 90 dias estabelecido para a regulamentação do serviço de motos por aplicativo na capital.
A decisão atende aos interesses das empresas 99 e Uber, que anunciaram na semana passada a intenção de retomar o serviço de moto por aplicativo em São Paulo a partir de 11 de dezembro, um dia após o término do prazo estabelecido pela Justiça para que o prefeito Ricardo Nunes regulamente a atividade.
O prefeito Ricardo Nunes comentou sobre o caso em uma coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (27), após a decisão judicial. Ele apresentou o estudo do Ipea destacando que os dados sobre o aumento de mortes e internações envolvendo motociclistas reforçam a preocupação em relação a segurança viária e a pressão crescente sobre o sistema de saúde municipal. Confira:
A manutenção do prazo ocorre em meio à divulgação do estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que conclui que motocicletas não oferecem condições seguras para o transporte remunerado de passageiros. O levantamento aponta que a participação das motos nas mortes no trânsito saltou de 3%, no fim dos anos 1990, para quase 40% em 2023. Além disso, as motocicletas respondem por cerca de 60% das internações decorrentes de acidentes terrestres, gerando gastos superiores a R$ 270 milhões ao Sistema Único de Saúde (SUS) apenas em 2024.
O estudo, intitulado Mortalidade e morbidade das motocicletas e os riscos da implantação do mototáxi no Brasil, destaca que a combinação entre expansão acelerada da frota, uso intensivo para deslocamentos e trabalho, baixa proteção física e maior exposição no trânsito torna os motociclistas significativamente mais vulneráveis a quedas, colisões e lesões graves.
Segundo o Ipea, a participação das motos nas mortes no trânsito cresceu de 3%, no fim dos anos 1990, para quase 40% em 2023. Além disso, o modal responde hoje por cerca de 60% das internações decorrentes de acidentes terrestres, gerando gastos superiores a R$270 milhões apenas no sistema público de saúde em 2024.

O levantamento, intitulado Mortalidade e morbidade das motocicletas e os riscos da implantação do mototáxi no Brasil, aponta que a combinação entre expansão da frota, utilização intensiva para deslocamento e trabalho, baixa proteção do veículo e maior exposição nas vias torna motociclistas mais vulneráveis a quedas, colisões e lesões graves.
A Prefeitura de São Paulo tem manifestado preocupação com o cenário. A administração municipal afirma que a liberação de mototáxis por aplicativo, sem regras específicas ou mecanismos de controle, pode elevar rapidamente o número de motos nas ruas e pressionar ainda mais a rede hospitalar. Hospitais municipais de referência já operam no limite, com alta ocupação em leitos de trauma resultante de acidentes envolvendo motociclistas.

O estudo enfatiza que o custo social desses acidentes é significativo — desde atendimentos emergenciais até reabilitações prolongadas e cirurgias complexas. Para especialistas consultados pelo Ipea, mesmo um pequeno crescimento na frota de motos pode resultar em aumento desproporcional de feridos graves, especialmente em grandes centros urbanos como São Paulo, onde o trânsito denso e a pressão por produtividade no trabalho por aplicativo tendem a potencializar comportamentos de risco.
Como havia noticiado o Diário do Transporte, a prefeitura de São Paulo entrou na última segunda-feira, 24 de novembro de 2025, com um recurso no TJSP (Tribunal de Justiça de São Paulo) de efeito suspensivo contra a decisão que, na prática, liberaria a partir de 11 de dezembro a circulação de mototáxis na capital.
O prazo acaba dia 10 de dezembro e as gigantes de aplicativos, 99 e Uber, em conjunto, anunciaram a retomada dos serviços para o dia 11, com regulamentação própria.
Em outra decisão, em novembro, o STF (Supremo Tribunal Federal) declarou inconstitucional lei do governador Tarcísio de Freitas que conferia aos municípios a possibilidade de fazer essa regulamentação e liberar ou não os mototáxis.
No recurso da última segunda-feira (24), a gestão Nunes alega riscos de explosão de acidentes e colapso na rede de saúde. O município sustenta no processo que conta com 262 leitos para traumas graves, número insuficiente para a demanda atual, considerada recorde pela gestão. Segundo o prefeito Ricardo Nunes, “se liberar sem regra, já no primeiro mês a cidade vai sentir o impacto na porta dos hospitais. Isso prejudica inclusive cirurgias eletivas e emergências existentes”.
Dados apresentados à Justiça mostram que 2024 registrou 483 mortes de motociclistas e 3.744 internações por traumas graves decorrentes de acidentes. Em 2025, o quadro se intensificou: só até outubro, foram contabilizadas 11.496 notificações de ocorrências, além de 3.132 atendimentos relacionados a traumas até setembro e 337 pacientes internados no momento. A frota de motos na capital cresceu 56% em dez anos.
Relembre:
Gestão Nunes entra na Justiça pedindo efeito suspensivo de decisão que autoriza mototáxi na capital a partir de 11 de dezembro
Yuri Sena, para o Diário do Transporte


