Em conversa no Podcast do Transporte, moderadora destaca que qualidade da viagem depende de todo o percurso — do momento em que o passageiro sai de casa até a chegada ao destino
ALEXANDRE PELEGI
No estúdio do Podcast do Transporte, instalado dentro da Arena ANTP 2025, de 28 a 30 de outubro de 2025, a conselheira da ABRATI, Leticia Pineschi, falou sobre o papel estratégico dos terminais rodoviários e sobre a urgência de qualificá-los como verdadeiros hubs de mobilidade. A conversa ocorreu após ela moderar o painel “Terminais, hubs e integração: PPPs para revitalização e gestão, com exemplos nacionais e internacionais”, que reuniu representantes da ABRATI, Socicam, AFD e Metrô de São Paulo.
Leticia explicou que, mesmo em um evento historicamente focado no transporte urbano, o tema dos terminais rodoviários se encaixa de forma natural, porque é justamente nesse ponto que os modais se encontram. “O terminal rodoviário hoje é uma sala de espera da mobilidade. Ele é o ponto de conexão. A pessoa chega ali e precisa ter acesso imediato ao restante da cidade”, afirmou. Para ela, São Paulo é um exemplo claro de como essa integração pode ser bem-sucedida. “Nos terminais Tietê, Barra Funda e Jabaquara, a intermodalidade é vista com materialidade. O passageiro chega e se conecta ao metrô e ao transporte urbano com facilidade. Isso incentiva o uso do coletivo e reduz emissões.”
Leticia destacou que não basta investir em frotas limpas se o restante do caminho reforça o uso do transporte individual. “Se cada passageiro que chega optar por carro, táxi ou aplicativo, não haverá redução de emissões. Um ônibus retira até 60 carros da rua. A intermodalidade é uma peça-chave da mobilidade sustentável”, afirmou.
Ao comentar pesquisas divulgadas pela ABRATI, lembrou que a maior fragilidade da experiência rodoviária está fora do ônibus. “A viagem não começa no embarque nem termina no desembarque. Ela começa quando a pessoa sai de casa e termina quando chega ao destino final. Se algo der errado em qualquer ponto, a percepção será de que a viagem inteira foi ruim”, observou. Para ela, qualificar terminais, acessos e pontos de parada é tão importante quanto modernizar a frota.
Na Arena ANTP, um dos temas que mais chamou atenção do público foi a participação da Agência Francesa de Desenvolvimento (AFD), interessada em financiar projetos de terminais modernos e sustentáveis. Leticia celebrou o interesse. “A AFD trabalha com projetos alinhados aos ODS, com incentivo ao comércio local e ao empreendedorismo feminino. Esse tipo de terminal dialoga com o futuro do setor. Temos a chance de aproximar quem financia de quem precisa transformar essas estruturas.”
Leticia também afirmou que o setor precisa avançar na qualificação dos pontos de parada, tema que considera urgente e que pretende ver nos próximos encontros do transporte. Ela citou como referência o projeto Boa Mesa na Estrada, realizado no Nordeste em parceria com o Senac. “Capacitamos pequenos empreendimentos, melhoramos higiene, alimentação e atendimento. Isso transformou a experiência do passageiro. Hoje vemos redes com dezenas de restaurantes que oferecem comida de qualidade, preços acessíveis e até ar-condicionado nos banheiros. Parece simples, mas muda a viagem.”
A executiva reforçou que essa melhoria é indispensável para revitalizar o turismo doméstico por ônibus. “O Brasil tem mais de cinco mil cidades, e a maior parte só se acessa por ônibus. Chapadas, Pantanal, estâncias hidrominerais, interior de Minas… o potencial é enorme. Com serviços que vão do executivo ao cama, há opções para todos os bolsos. Mas a experiência precisa ser boa do começo ao fim”, afirmou. Na comparação com aeroportos, Leticia destaca a necessidade de manter preços compatíveis com a realidade do transporte rodoviário. “Não dá para cobrar café com pão de queijo a 27 reais. A pessoa não pode ter que escolher entre pagar a passagem e pagar o lanche.”
Para ela, a síntese é simples e precisa ser absorvida por todo o setor: “O passageiro não avalia o trecho dentro do ônibus. Ele avalia a jornada inteira. Se quisermos um transporte rodoviário forte, precisamos cuidar de todos os pontos dessa jornada.”
Assista à entrevista de Leticia Pineschi na íntegra ao Podcast do Transporte… Ela falou também da iniciativa “Elas no Transporte” e dos 30 anos da ABRATI. Confira:
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes


