Publicado em: 30 de maio de 2025
Verificação do Instituto Corrida Amiga, realizada após afirmação da companhia de trânsito, encontra tempo verde insuficiente e longas esperas em mais de 50% das travessias de risco
ALEXANDRE PELEGI
O Instituto Corrida Amiga divulgou uma atualização importante referente à sua campanha “Travessia Cilada”. Esta atualização surge após a CET-SP ter declarado publicamente, em matéria divulgada no dia 24 de maio no contexto do “Maio Amarelo”, que havia consertado todos os semáforos considerados críticos identificados pela campanha em 2024. Em resposta a essa afirmação, o Instituto organizou uma nova verificação in loco, que ocorreu entre os dias 26 e 29 de maio deste ano.
Durante essa nova checagem, que visitou cerca de 25 travessias, os resultados obtidos mostram que, apesar de terem sido observadas algumas melhorias, a maioria das travessias visitadas ainda apresenta riscos graves para quem se desloca a pé.
Os principais achados da verificação detalham essa situação: 44% dos semáforos ainda contam com apenas 4 a 5 segundos de tempo verde para o pedestre. O tempo médio de verde, que era de 4,7 segundos em 2024, aumentou para 5,8 segundos em 2025 (conforme apresentado na fonte), representando um ganho de apenas 1 segundo. Mesmo com uma queda no tempo médio de espera, a análise aponta que mais da metade das travessias exige uma espera superior a 90 segundos.
A segurança para grupos específicos de pedestres também é um ponto crítico. Apenas 20% das travessias visitadas garantem um tempo adequado para idosos, e impressionantes 90% não atendem às necessidades de crianças e Pessoas com Deficiência (PCDs). Mesmo aplicando o critério de velocidade mais excludente utilizado pela própria CET (1,2 m/s), apenas 40% das travessias se mostram seguras. A campanha identificou casos em condição gravíssima, onde o pedestre precisa caminhar 3 vezes mais rápido que a velocidade recomendada para crianças ou idosos para conseguir completar a travessia em segurança.
Diante desses resultados, a atualização da campanha “Travessia Cilada” indica que a situação das travessias consideradas críticas na cidade está longe de corresponder à afirmação da CET-SP, com a maioria continuando a oferecer riscos significativos para a população pedestre.
Para Silvia Stuchi, fundadora e diretora do Instituto Corrida Amiga (foto acima), os tempos semafóricos estão não só longe de cumprir a legislação em termos de garantia de segurança das pessoas como também em franco descompasso com a realidade. “Apesar da visibilidade da campanha e da resposta pública da CET, os dados revelam que a lógica da regulação semafórica em São Paulo ainda privilegia a fluidez dos veículos. O tempo urbano segue negado a quem caminha, e a readequação feita é, em grande parte, simbólica ou insuficiente frente à realidade dos corpos que circulam a pé“, alfineta Sílvia.
A campanha Travessia Cilada é feita de maneira colaborativa, com voluntários nas ruas coletando informações da realidade das suas cidades. Em 2024, a iniciativa, organizada pelo Instituto Corrida Amiga e apoiada por diversas organizações, aconteceu em maio e conseguiu recolher dados de 167 travessias em 21 cidades de seis estados do país.
Desse total, 120 travessias contavam com semáforo para pedestres. Outras 26 tinham apenas semáforo para veículos e em 21 delas não havia semáforo ou o equipamento estava quebrado. Mas o que mais chamou a atenção foi o tempo destinado para as pessoas se deslocarem de um lado para o outro das vias públicas. A campanha observou que em 54% dos semáforos de pedestre, o tempo de travessia era de 10 segundos ou menos, com o tempo médio não passando de sete segundos.
São Paulo conta com um Estatuto do Pedestre que, no Art. 11, IV, estabelece que o tempo máximo de espera do pedestre para a abertura do semáforo não deve passar dos 90 segundos (1 minuto e 30 segundos). Mas os dados levantados pelos voluntários provaram que cerca de 50% dos semáforos de pedestres deixam as pessoas no aguardo por mais que esse tempo.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes