Publicado em: 18 de junho de 2025
Recém-eleito para o Comitê Executivo da UITP América Latina, Teles destaca as disparidades regionais e vislumbra futuro de colaboração para a mobilidade latino-americana
ALEXANDRE PELEGI/RENATA VERÍSSIMO
Em entrevista ao Diário do Transporte, direto do UITP Summit em Hamburgo, na Alemanha, Rafael Teles, diretor de produtos da Transdata, compartilhou insights sobre as principais tendências do transporte público global e a realidade da América Latina. O evento da União Internacional de Transporte Público, segundo Teles, não trouxe grandes surpresas, mas sim a “decantação” e “depuração” do que vem sendo discutido nos últimos dois ou três summits da entidade global. A principal novidade para o executivo da empresa de tecnologia é a oportunidade de “avaliar os resultados das experiências que começaram a acontecer”. Teles conversou com a jornalista Renata Veríssimo, da Impacto RV Comunicação, numa colaboração especial para o Diário do Transporte. Veja a seguir os principais tópicos da conversa.
Consolidação e Avaliação de Tendências
Teles ressalta a consolidação de discussões da última década, focando na aplicação de tecnologia para um transporte mais limpo e na adaptação do transporte público aos novos hábitos de consumo dos passageiros. A ênfase está em soluções como informação em tempo real e modelos de tarifação mais ajustados ao tipo de uso, com menos dependência de hardware e mais tecnologia operacional e de negócio.
Tendências promissoras do final da década passada, como a eletromobilidade e a inteligência artificial, que despontou como assunto “da moda“, já são uma realidade e estão sendo avaliadas. “Tudo aquilo que era promissor no final da década passada, a essa altura do campeonato, já disse a que veio“, afirma Teles.
A Realidade Divergente: Europa x América Latina
Uma das principais observações de Teles é a diferença substancial entre o que se vê na Europa e na América Latina. No evento europeu, por exemplo, veículos a combustível fóssil praticamente não são mais apresentados, sendo uma página “completamente virada” para a Europa. Contudo, essa não é a realidade para muitos países da América Latina, que ainda dependem ou têm produção de gás natural e biometano.
As tecnologias de bilhetagem e Sistemas Inteligentes de Transporte (ITS) também mostram essa disparidade. Enquanto na Europa já se foca em mecanismos de tarifação mais sofisticados, customizados e sob demanda, na América Latina o foco ainda está na tarifação básica do uso.
O principal divisor de águas, segundo Teles, é o financiamento. No hemisfério norte (Europa, EUA, Canadá), os problemas de financiamento “já estão resolvidos“, e as discussões giram em torno de “como financiar melhorias sobre aquilo que já era bom“. Em contraste, na América Latina, a discussão é sobre “como financiar a manutenção do que a gente já tem” e “como é que melhora o que a gente tem, que não era tão bom assim“. Essa disparidade significa que não é possível transpor diretamente os modelos europeus para a América Latina.
Transdata e a Conexão com o Sul Global
A presença da Transdata no UITP Summit com um stand grande e competitivo em 2023 fez diferença. A empresa, que atuava no Brasil e em Angola em 2023, expandiu suas operações para o Equador e possui outros dois negócios em desenvolvimento em países da América Latina. Teles destaca que o summit é uma oportunidade crucial para “construir ponte com o mundo“.
A importância do evento reside no seu alcance global, especialmente para o Sul global. Países como a Alemanha já possuem soluções tecnológicas implantadas e não buscam novas, mas “muitos países no mundo ainda não têm“. O UITP Summit se torna um canal inigualável para conectar a Transdata e outras empresas com o público do Sul global, sendo muito difícil alcançar essas delegações de outra forma. A delegação da América Latina no evento foi expressiva, com quase duzentas pessoas, sendo mais de oitenta apenas do Brasil.
O Papel de Rafael Teles no Comitê Executivo da UITP América Latina
Além de diretor de produto da Transdata, Rafael Teles agora integra o Comitê Executivo da UITP América Latina. Ele vê essa posição como uma oportunidade única para contribuir com a região. A UITP, segundo ele, é um “canal importante de suporte na formulação de políticas públicas“, uma carência significativa na América Latina para a mobilidade em todos os segmentos, incluindo tecnologia.
A expectativa de Teles é colocar sua experiência, acumulada na Transdata ao implantar sistemas tecnológicos em mais de quatrocentas cidades do Brasil e em outros países, à disposição da UITP. O objetivo é “sistematizar” e “acelerar a curva de aprendizado em lugares que ainda não estão no mesmo estágio“.
Alexandre Pelegi, jornalista especializado em transportes